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Política
LAVA-JATO

Mensagens da Lava-Jato apontam que PF registrou depoimento sem ouvir testemunha

Publicado: 22/02/2021 às 18:32

/Foto: Evaristo Sá/AFP

/Foto: Evaristo Sá/AFP

A defesa do ex-presidente Lula enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (22) mais diálogos que teriam sido trocados entre integrantes da extinta força-tarefa da Lava-Jato de Curitiba. Em um deles, procuradores disseram que uma delegada da Polícia Federal teria lavrado um termo de depoimento de uma pessoa sem que ela tivesse sido ouvida.

“Como expõe a Erika: ela entendeu que era pedido nosso e lavrou termo de depoimento como se tivesse ouvido o cara, com escrivão e tudo, quando não ouviu nada… Dá no mínimo uma falsidade… DPFs [delegados da Polícia Federal] são facilmente expostos a problemas administrativos”, teria escrito Deltan no dia 25 de janeiro de 2016.

A manifestação foi enviada ao ministro Ricardo Lewandowski no âmbito de uma reclamação (43.007), contendo diálogos do relatório analisado pelo perito assistente Cáudio Wagner, contratado pela defesa. Segundo documento, o diálogo teria sido entre Deltan e o procurador Orlando Martello Júnior, que teria respondido sinalizando que a prática (lavrar depoimento sem de fato ouvir a testemunha) já havia ocorrido.

"Ela [Erika] pode ouvir conosco. Se deixarmos barato, vai banalizar. Podemos combinar com ela de ela nos provocar diante das notícias do jornal para reinquiri-lo ou algo parecido. Podemos conversar com ela e ver qual estrategia ela prefere. Talvez até diante da notícia reinquiri-lo de tudo. Se não fizermos algo, cairemos em descrédito. O mesmo ocorreu com Padilha e outros. Temos que chamar esse pessoal aqui e reinqueri-los. Já disse, a culpa maior é nossa. Fomos displicentes! Todos nós, onde me incluo. Era uma coisa óbvia que não vimos. Confiamos nos advogados e nos colaboradores. Erramos mesmo!", teria escrito Orlando.

Deltan, por sua vez, diz: "Concordo. Mas se o colaborador e a defesa revelarem como foi o procedimento, a Erika pode sair muito queimada nessa... pode dar falsidade contra ela... isso que me preocupa".

Nos diálogos, Erika é citada apenas pelo primeiro nome. Havia uma delegada chamada Erika Marena que atuou na Operação Lava-Jato. Depois que o ex-juiz federal Sergio Moro, que julgou casos da Lava-Jato, passou a ser ministro da Justiça e Segurança Pública, Erika assumiu o cargo de diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional da Secretaria Nacional de Justiça.

As mensagens, obtidas no âmbito da Operação Spoofing (que prendeu hackers suspeitos de invadir celulares de autoridades), foram repassadas à defesa após autorização do Supremo. Em junho de 2019, algumas mensagens envolvendo procuradores e o ex-juiz federal Sergio Moro começaram a ser divulgadas pelo site The Intercept, em série de reportagens intitulada “Vaza Jato”. Um mês depois, a Polícia Federal deflagrou a Operação Spoofing, a qual obteve mais diálogos como esses.

A reportagem entrou em contato com o Ministério Público Federal (MPF) do Paraná e aguarda retorno. Na PF, ainda não há nota em relação aos diálogos que citariam a delegada Erika.

"Vem prender Lula"

Em outro diálogo, o procurador Deltan Dallagnol, ex-coordenador da extinta força-tarefa de Curitiba, teria dito ao procurador Januário Paludo, no dia 15 de setembro de 2016: “Deixe essa burocracia chata que não serve para nada e vem prá cá você também January”. A defesa de Lula afirma, no documento enviado ao Supremo, que na ocasião “não havia sequer uma acusação formal contra” Lula. Reforçando a obsessão em relação a ele”, afirmou a defesa.
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