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Grupo cria 'bancada do livro' para disputar eleição no Rio

Por: FolhaPress

Publicado em: 27/07/2020 08:12

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação
Se existe a bancada da bala, a bancada da Bíblia e a bancada do boi, por que não criar uma bancada do livro? Assim pensaram oito artistas, professores, ativistas e produtores culturais que decidiram se juntar e concorrer a uma vaga na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.

Começou quando o prefeito carioca, Marcelo Crivella (Republicanos), mandou censurar os gibis "Vingadores - A Cruzada das Crianças", expostos na Bienal do Livro do ano passado. O ato gerou o efeito contrário e fez viralizar o desenho dos dois rapazes se beijando.

Também motivou o grupo, que é composto de profissionais de diversas áreas, a se reunir para debater o assunto que os fazia convergir: o livro. Começaram então as rodas de conversa sobre a prática de ler e sobre a democratização da literatura.

Até que alguns meses depois surgiu a ideia de transformar os debates em uma candidatura coletiva aos moldes da Bancada Ativista (PSOL), eleita para a Assembleia Legislativa de São Paulo em 2018. Nessa lógica, apenas um membro é formalmente eleito, mas todos decidem em conjunto.

"Quem é que se opõe ao livro?", questiona o professor municipal Ygor Lioi, 30, um dos integrantes. "É uma pauta que não tem grande resistência. Os livros transformam os indivíduos, que transformam a sociedade. Eu só estou aqui falando com você porque tive professores e livros lá atrás que me transformaram."

A "bússola" da bancada será o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), documento elaborado durante anos no primeiro mandato do governo Lula por vários setores da sociedade e publicado em 2006, determinando diretrizes básicas para a área.

O principal objetivo será construir um Plano Municipal do Livro, Leitura e Bibliotecas na cidade, processo que chegou a ser iniciado em 2015, mas nunca foi concluído. Entre as pautas principais também está a democratização do acesso à leitura.

"Estamos falando sobre uma coisa que não é privilégio, e sim direito. Temos um mercado editorial vivendo um clima de quebra, e por outro lado uma galera que não pode comprar. Como o poder público pode ajudar a equacionar isso?", diz Lioi.

O professor compara a um jogo no Maracanã: "O ingresso custa mais de R$ 50, se você levar a família já fica mais de R$ 250. Chegando lá você vai querer comer um cachorro-quente. No fim um terço do salário ficou lá dentro. Tem livro que é R$ 50, R$ 60".

Outro ponto é o fomento de práticas leitoras na primeira infância, a exemplo do projeto Coala criado na cidade de Barueri (SP) na década de 2000, que envolve várias secretarias e incentiva pais a lerem para o bebê desde a barriga até os cinco anos de idade. "Não adianta dar o livro, tenho que fomentar a vontade de ler, e isso se faz na primeira infância", afirma.

As pautas e o próprio coletivo ainda estão em construção, mas algumas das ideias que já se desenham giram em torno de montar um rede de bibliotecas comunitárias, ampliar os exemplares acessíveis e disponíveis para professores e incentivar escritores de primeira viagem por meio de editais, por exemplo.

Por enquanto, a construção vem sendo feita por grupos de WhatsApp, lives e reuniões virtuais com profissionais de referência na área e também quem está na ponta. "Não adianta escutarmos só quem está no topo, então criamos o Sala dos Professores, um debate quinzenal para dar visibilidade para professores da rede municipal", diz Lioi.

A rotina tem sido puxada. Às segundas, o coletivo faz as salas de debate com convidados. Mais tarde, reuniões fechadas para alinhavar quais serão os próximos assuntos. Às quartas, reuniões de coordenação da campanha. E às vezes aos sábados, mais reuniões para discussões.

O próximo passo vai ser "tirar o CPF" de quem será o representante oficial do grupo nas urnas. Depois, as prévias do partido Cidadania em agosto. "Somos um movimento suprapartidário, mas hoje estamos no Cidadania, que nos recebeu de braços abertos", diz.

Eles chegaram ao partido por um dos integrantes, o psicólogo Eliseu Neto, 41, que é assessor legislativo da liderança do Cidadania no Senado e é conhecido pela atuação nas causas LGBTQI+. Diversidade é uma preocupação: metade do coletivo é formado por negros e metade, por mulheres.

Questionado se já pensam em projetos maiores, como chegar ao Legislativo estadual do Rio, Lioi responde que estão dando um passo de cada vez. Mas eles querem que a ideia se multiplique e que outros estados se sintam motivados a criar suas próprias bancadas do livro.

Quanto aos recursos, "essa vai ser uma campanha franciscana", brinca ele. "Vai ser uma campanha das redes, contamos muito com a aderência das pessoas pela ideia. Se isso acontecer, podemos ter uma avalanche de livros passando pela cidade, como a viralização da internet", sonha.
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