Emoção
Hino 'Avante, Galileia' está prestes a ser gravado
Zito da Galileia escreveu a letra e pediu ao historiador Ricardo Andrade para compor a música
Por: Aline Moura
Publicado em: 08/01/2019 10:00 | Atualizado em: 07/01/2019 22:48
Responsável por cultivar a história das ligas camponesas, que surgiram em Pernambuco na década de 1950, Zito da Galileia não deixa de sonhar com mudanças para os trabalhadores do campo que conquistaram a primeira desapropriação do Brasil, pouco antes do golpe militar. Ele quer ver a estrada que leva ao engenho asfaltada, o posto médico abastecido, o transporte acessível aos moradores, um açude sem mato, banhando a ribanceira, os turistas cruzando de jangada, crianças, jovens, adultos e idosos recontando a história, de geração em geração.
"Avante, Galileia", menciona ele, no título da música que acabou de escrever e ainda será lançada, sem a data prevista. Zito procurou o professor de História Ricardo Andrade para cantar e fazer a música do primeiro Hino da Galileia, cujo refrão traz os versos: "Avante, avante, Galileia/tua luta desperta gerações/o estandarte da fé e da esperança/tremulando em nossos corações".
Veja a música Avante, Galileia
A melodia, na voz de Ricardo Andrade, chega a emocionar, mas ainda não foi gravada em estúdio, como deseja Zito. Ricardo é professor de História de uma faculdade de Vitória de Santo Antão, a Faintvisa, e coordenador do Movimento Pró-museu. Ele conheceu Francisco Julião na adolescência, quando o líder político das ligas camponesas retornou de um exílio no México, após a Anistia de 1979. Antes da ditadura, Julião tornou-se advogado das ligas, a principal voz dos trabalhadores rurais na Assembleia Legislativa.
Ricardo, como adolescente, teve uma emoção ímpar ao conhecer Julião, que terminou sendo muito criticado pelos movimentos sociais por, segundo ele, apoiar José Múcio para o governo do estado, adversário de Miguel Arraes. Múcio era rotulado de usineiro e latifundiário; Arraes de revolucionário, mas Julião lhe hipotecou apoio em troca do Pacto Galileia, que consistia na doação de 10% das terras dos usineiros para o início da reforma agrária em Pernambuco. "Zito me presenteou ao me dar a oportunidade de compor a música. Eu o conheci num debate sobre as ligas camponesas. Depois, ele foi na faculdade, me presenteou com o livro e me deu o desafio de compor a música para Avante Galileia", descreve o professor, que esteve à frente, recentemente, dos tombamentos da histórica Martriz de Santa Isabel, em Paulista, e da Casa Grande da Família Lundgren.
Para Ricardo Andrade, existe um diferencial entre as ligas e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, porque os dois movimentos enfrentaram o problema de formas diferentes. O primeiro tinha o objetivo de melhorar, inicialmente, a vida dos pequenos agricultores, que queriam vender suas mercadorias, e transbordou, abrangendo a luta da reforma agrária. O segundo, de acordo com Ricardo, perdeu muito o apoio em virtude de alguns métodos radicalizados, como invasão de prédios públicos e saques, mas é de enorme importância para a luta agrária.
O coordenador do Pró-Museu tem orgulho de Zito por ele ter criado uma biblioteca que preserva a história das Ligas Camponesas. "Nesse primeiro semestre, vou levar meus alunos para uma pesquisa de campo lá, no Engenho Galileia, sobre a questão da memória, identidade e pertencimento; o que resta desse fragmento de memória coletiva, porque, senão, isso vai se perdendo. O próprio povo de Vitória conhece pouco a história das Ligas. Os movimentos sociais fazem parte das lutas democráticas e precisam se fortalecer", avalia o professor.
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