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Eleições 2018

Fora da disputa do 2º turno, um PSDB abatido tenta seguir de cabeça erguida

PSDB vai dividido ao segundo turno nos estados e terá de contar com novas lideranças para recuperar o eleitorado cativo de perfil centrista, perdido para o furacão Bolsonaro

Publicado em: 16/10/2018 07:02 | Atualizado em: 16/10/2018 07:07

(foto: Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)

Uma possível saída para a crise do PSDB é tema que ainda desafia os analistas do cenário eleitoral: para eles, mesmo que a política seja dinâmica e imprevisível, as dificuldades estão postas. Assim, a maneira de entender o discurso do eleitor cativo precisa ser repensada, sob pena de o partido acabar ou se tornar irrelevante. Novos quadros expressivos, como João Doria e Antônio Anastasia, que disputam o governo em São Paulo e Minas Gerais, respectivamente, ainda são uma incógnita para o futuro da legenda.

Para a cientista política Rachel Meneguello, da Universidade de Campinas (Unicamp), vários pontos explicam o enfraquecimento do PSDB. A falta de renovação das lideranças não é exclusiva à legenda, analisa, mas o resultado eleitoral demonstrou um “efeito crítico” no ninho tucano. A falta de percepção sobre a mudança do eleitorado que se localizava no centro do espectro político, mas que passou a ocupar espaço nos polos, também causou o encolhimento do partido. “O PSDB não soube manter a força de atração centrípeta que exerceu nos últimos 25 anos”, esclarece a professora.

Rachel Meneguello ressalta também as constantes brigas internas por espaço, que acarretaram o “definhamento” de uma das “mais importantes forças políticas” do país. A isso se somam os casos de corrupção que atingiram integrantes da legenda. “O partido não soube dar conta, em sua estrutura interna, de escândalos e denúncias como os de Aécio Neves”, exemplifica.

A acadêmica da Unicamp compreende que uma discussão sobre o futuro dos tucanos “deve estar na agenda”, mas não sob liderança de João Doria, que tem se envolvido em discussões com Geraldo Alckmin, atual presidente da legenda. “Não parece plausível que uma liderança que se coloca à margem das deliberações do partido seja aquela que vai encabeçar a sua reformulação. Se assim for, não será uma reformulação, mas a formatação de um  novo partido”, afirma.

O cientista político Geraldo Tadeu Monteiro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), entende que a estratégia “defeituosa” do PSDB nos últimos anos se intensificou pela falta de interesse e pela dificuldade de interpretar os movimentos de rua de 2013 em diante. Com isso, o partido perdeu votos para um candidato mais radical. “O PSDB tinha um eleitorado cativo, de classe média, com maior nível de escolaridade. Mas esse eleitor está radicalizado. Recuperá-lo vai depender muito do desempenho do governo Bolsonaro”, entende.

Para o professor da Uerj, o enfraquecimento dos tucanos tradicionais permite a consolidação de políticos “emergentes”, como Doria e Anastasia. “Caso sejam eleitos, eles podem ser figuras ainda mais influentes no PSDB.”

A divisão tucana é nítida em diversos estados, explica o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte Homero de Oliveira. Segundo ele, São Paulo é o expoente desse racha. O apoio de Doria a Jair Bolsonaro, já no primeiro turno da corrida presidencial, levou setores do partido a apoiar a candidatura de Márcio França (PSB) ao governo do estado. “Doria não foi o único a expressar essa divisão. No Rio Grande do Norte e na Paraíba, tivemos candidatos que já apoiavam Bolsonaro no primeiro turno”, lembra o especialista. "O problema se deu quando Alckmin não decolou. Se o partido tem possibilidades reais de vencer, os fisiológicos continuam apoiando."
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