Opinião

Luzilá Gonçalves Ferreira: Pátio da Matriz: uma esperada reedição

Luzilá Gonçalves Ferreira é doutora em Letras pela Universidade de Paris VII e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 06/02/2018 07:19

O livro. publicado em 1965, marcava a estreia de uma cronista no panorama da cidade, que já produzira boas vozes femininas conhecidas na imprensa local eomo Isnar de Moura, Ladjane Bandeira. Pátio da Matriz, de Marly Mota, com ilustrações de Lula Cardoso Ayres, logo mereceu uma fortuna crítica além de nossas fronteiras: do Rio Grande do Norte, do Ceará, do Rio de Janeiro, críticos respeitados como Virginius da Gama e Melo, como Waldemar Cavalcanti juntaram suas vozes às de Nilo Pereira, de Zilde Maranhão, para comentar o modo como, na linguagem dos personagens, na descrição de situações, da paisagem, a vida em cidade do interior pernambucano em época não tão remota, se tornava presente ante os olhos do leitor, reconstruída pela lembrança carregada de nostalgia às vezes, risonha outras vezes, mas sempre com a marca do vivido, através de um estilo que a estreante dominava, já mestra de sua arte. Assinalando a importância e o lugar da crônica na literatura brasileira, e seu valor de recriação sociológica, Gama e Melo escrevia: “Por essa fidelidade íntima aos seus lugares e vivência originária, algumas pequenas cidades, primeiras desses cronistas passaram a ter uma existência própria, enriquecendo a geografia literária. O que antes só fora possível por meio do romance, agora pela crônica se efetivava.” O crítico assinalava  a importância desse documento literário, na  indicação dos usos e costumes. Acrescentava: “O característico individual, aí, a personalização é composta com obediência específica ao quadro interiorano, à ambiência paisagística e urbana.

Inscreve-se, portanto, a crônica desse tipo na literatura de costumes, dentro das melhores correntes realistas e tradicionais de nossa formação literária.” (...) Por livro publicado na Coleção Concórdia, da Imprensa Oficial de Pernambuco, surge mais um ponto no mapa de nossa geografia literária – Bom Jardim – onde o pequeno burgo interiorano, desse estado, passa à personagem literária. (...) E concluía “A crônica de Marly Mota apresenta esse indefinível tom literário que consegue transpor para o livro a atmosfera de uma cidade, esse vago e indistinto ser, apenas sentido de rosto e da língua afiada na vida alheia (...) possui uma originalidade que é decorrente de sua vivência legítima – apresenta o lado feminino da pequena cidade, as mulheres esquecidas comentando as mais jovens, a luta pela conquista dos futuros maridos, a chegada dos rapazes solteiros levados por função do cargo para a pequena cidade e que são recebidos como outros tantos príncipes encantados, criaturas disponíveis para alimentação de uma possível felicidade. (...) A essa temática, assim pitoresca e tão viva e tão exata dos hábitos e costumes do povo da cidade corresponde uma linguagem enxuta, clara, direta sem nenhum preciosismo ou qualquer arrebique de adjetivação. O processo de simplicidade adequada e plenamente nos motivos simples nesse livro de Marly Mota.” Reeditando Pátio da Matriz, de Marly Mota, a Cepe, Companhia Editora de Pernambuco, continua a linha exigente de boas publicações que marcara sua antecessora, a Imprensa Oficial de Pernambuco na década de 60 do século passado.
 
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