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Opinião Alexandre Rands: Uma semana política na economia Alexandre Rands é Economista e presidente da Datamétrica e do Diario de Pernambuco

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 16/09/2017 08:36 Atualizado em:


As duas últimas semanas foram caracterizadas pelo domínio dos fatos políticos sobre a economia. As estatísticas que apareceram ao longo dessas semanas deram sinais positivos. Crescimento das vendas no comércio de varejo e na produção industrial, elevação do IBC-BR (indicador de atividade do Banco Central) em julho, quando se compara a junho (já com ajuste sazonal), redução da taxa de juros pelo Banco Central, e principalmente aumento das importações de bens de capital. Apesar de todas essas estatísticas relacionadas com desempenho de atividades econômicas terem tido crescimentos bem moderados, ainda assim confirmam uma recuperação lenta da economia. Obviamente, a queda verificada nas atividades de serviço foi a ducha de água fria do período, mas ainda assim verificou-se uma redução no ritmo de queda dessa atividade. Além disso, os serviços direcionados às famílias também cresceram, confirmando a tendência de recuperação do consumo, que já vem sendo apontada pelas estatísticas do comércio e do PIB. As novas denúncias contra Temer, Lula, Dilma e a cúpula do PMDB prosperaram ao longo dessas semanas, mas ainda assim a economia pareceu não se abalar tanto. A resistência da economia às incertezas forjadas no campo da política gerou até o otimismo necessário para que pautas econômicas importantes avançassem no Congresso Nacional, como a finalização das regras do Refis e o retorno das discussões em torno da reforma da previdência. Também o programa de demissão voluntária do governo federal foi iniciado. Ou seja, lentamente o país parece começar a reagir, apesar das lambanças feita pelos políticos nos últimos anos.

Diante de tal cenário, uma pergunta que muita gente se faz é se a recuperação lenta que tem sido evidenciada pelas estatísticas mais recentes não pode ser revertida no futuro próximo após todas as denúncias das últimas duas semanas. O desempenho da bolsa de valores, a valorização do Real nas duas últimas semanas e outras evidências mais instantâneas, como o sentimento dos comerciantes na demanda por seus produtos e serviços, parecem indicar que não. Pode se dizer que as denúncias não estão trazendo fatos efetivamente novos e que possam alterar as instituições e seus funcionamentos. Por isso a economia está relativamente imune a elas. Num jargão econômico, pode se dizer que os novos fatos políticos já estão devidamente precificados pelo mercado por já estarem dentro das expectativas dos agentes.

Em situações em que o otimismo com a economia brasileira começa a melhorar geralmente sofremos de alguns males crônicos. A apreciação da taxa de câmbio verificada nos últimos dois meses é um deles. Esse processo já começa a assombrar o ritmo da recuperação, pois um dos fatores impulsionadores da retomada tem sido o setor externo, com mais exportações e menos importações. Talvez uma queda ainda mais radical da taxa de juros seria a forma de evitar esse problema, mas o presidente do Banco Central já sinalizou que o ritmo de queda será na verdade reduzido. Ou seja, os interesses dos bancos novamente prevalecem sobre os da sociedade.

As informações para Pernambuco, particularmente acompanham o otimismo nacional, mas de forma muito acanhada. As expectativas de um dos piores desempenhos de PIB em 2017 entre os estados brasileiros, discutidos pelo Diario de Pernambuco nessa semana, bem demonstram esse fato. A queda dos investimentos públicos federais e de agentes privados em nosso estado acentuaram muito o impacto da crise em um estado que tinha um percentual muito elevado de seu PIB dedicado a investimentos antes de 2015. Entretanto, mesmo por aqui a economia começa a se levantar de novo, mesmo que vagarosamente, apesar das turbulências políticas.



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