Diario Editorial: Um basta à violência

Publicado em: 14/08/2017 07:23 Atualizado em:

“Não preciso disso. Pode levar tudo.” O apelo de Maria Vanessa Veiga Esteves, 55 anos, mineira, analista de projetos do Ministério da Cultura e mestranda de comunicação na Universidade de Brasília (UnB), teve como resposta uma profunda e letal facada nas costas, na terça-feira, por volta das 23h, na calçada do bloco onde morava na 408 Norte. Os dois criminosos levaram a bolsa e o celular da vítima. Na véspera da barbárie, vizinhos denunciaram à polícia a presença de dois homens estranhos, em atitude suspeita e que rondavam a quadra. No dia seguinte, a tragédia ocorreu a poucos quilômetros do gabinete do governador de Brasília e do Palácio do Planalto. Fatalidade ou falta de diligência policial ante o alerta da comunidade?

Descaso e omissão do poder público têm sido comparsas do aumento da violência não só na capital da República, mas em todo o país. O Brasil é recordista mundial de assassinatos por armas de fogo: 60 mil homicídios por ano — 164 por dia, ou 12% do total mundial, sendo que 71,6% são por arma de fogo e 20,3%, por arma branca. Na capital federal, as mortes por artefatos de fogo correspondem a 74,6% e a 17,1%, por arma branca, segundo o 10º Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

Os dados, obtidos a partir de informações oficiais, mostram que as estratégias de combate à violência não têm logrado êxito. A insegurança se tornou fantasma que dissemina o pânico e deixa a sociedade acuada. Crimes ocorrem em todos os ambientes urbanos, seja no centro das cidades, seja na periferia. A ousadia dos bandidos desafia as autoridades e coloca em xeque as políticas públicas para o setor.

A violência contra as mulheres não é fato esporádico no país. O Atlas da Violência 2016, elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), com base em dados do Ministério da Saúde de 2014, revela que 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil. Entre 2004 e 2014, os homicídios no universo feminino cresceram 11,6%.

“Não há dúvida de que o sistema de segurança pública no Brasil está em crise desde a década de 1980”, afirma Daniel Cerqueira, ex-secretário de Segurança Pública do DF e um dos organizadores do Atlas da Violência 2016. Inconcebível que a crise se estenda por quase quatro décadas e coloque o país na condição de refém da criminalidade.

Hoje, há tecnologia suficiente para dar suporte às ações de combate ao crime organizado, ou não, e adotar medidas preventivas contra as agressões aos cidadãos. O que ocorreu na noite de terça-feira no centro de Brasília vem se reproduzindo em todo país. No Rio de Janeiro, Exército e Força Nacional fazem o enfrentamento às facções criminosas, que só existem pela inépcia do Estado, que permitiu que os grupos se alastrassem e competissem com o poder público.

A sociedade brasileira não suporta mais a omissão dos governos ante tragédias diárias, que estraçalham famílias inteiras. Ao poder público se impõe a necessidade urgente de dar um basta ao aumento da violência e a tanta bandalheira. Inadmissível a indolência dos agentes públicos diante dos reclamos e demandas dos cidadãos. É hora – com muito atraso – de agir e pacificar o país.
 


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