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Opinião Diego Brandy: Eduardo Campos e a máquina do tempo Diego Brandy é publicitário

Publicado em: 14/08/2017 07:33 Atualizado em:

Não sou isento. Nem quero ser. Cheguei em Pernambuco faz mais de dez anos da mão de Eduardo. Ele começou sendo cliente, pouco depois virou amigo e logo depois família. Foi ele que construiu algum prestígio pra mim e que me fez testemunha de muitas situações que nenhuma crônica registrou. Esse prestigio criado, foi muito baseado na minha suposta capacidade de fazer prognósticos. A partir de 2012 falamos muitas vezes sobre o que podia acontecer em 2014 e analisamos diversos cenários e variáveis que poderiam influenciar no processo de criar viabilidade para uma candidatura presidencial.

Um dos raciocínios que eu colocava era que o pior que podia acontecer, perder a eleição, também era uma coisa boa porque instalava Eduardo como protagonista da cena política nacional. Claro que em todas essas prospecções do que poderia acontecer ninguém pensou no cisne negro que ocorreu no 13 de agosto em Santos. Certamente essa seria a “previsão” que eu mais gostaria ter feito na minha vida para poder driblar esse cisne.

Hoje muitas pessoas continuam me perguntando sobre a crise política no Brasil e sobre como será sua evolução. Eu até respondo algumas coisas, mas no fundo, o que penso é que a melhor solução para o Brasil seria investir um dinheiro em pesquisa científica para inventar a máquina do tempo. E imagino que não sou o único a pensar a mesma coisa,
Assim, alguém poderia acionar essa maquina e avisar Eduardo para não subir naquele avião. Então ele poderia pousar suavemente num voo de carreira para continuar sua campanha. E todos felizes. A família e os amigos, felizes. FHC, Aécio, Marina e Lula, felizes. E com o tempo, duzentos milhões de brasileiros mais felizes do que hoje. Se uma coisa pensavam igual Aécio e Dilma era na possibilidade de Eduardo ganhar porque ambos conheciam ele. Certa vez, uma respeitada jornalista perguntou-me qual era o segredo para Eduardo passar oito anos como governador com uma aprovação de 90% em média. “É muito simples, o cara é bom”, respondi. E era. Nunca Eduardo precisou do marketing.

O dia em que Marina Silva desistiu de ser candidata para declarar apoio a Eduardo, Aécio Neves ligou e perguntou brincando se não tinha um lugar pra ele naquele arranjo. Brincadeira, mas nem tanto. A última vez que Eduardo ainda como governador visitou Dilma no Planalto, a presidenta, apontando para sua cadeira, disse pra ele, brincando: “Essa cadeira vai ser sua”. Brincadeira, mas nem tanto.

O segundo turno poderia até ser um trâmite simples com o voto tucano. Mas isso é anedota. O importante é que as vítimas da tragédia de Santos não foram apenas as sete pessoas que estavam no avião, foram duzentos milhões de brasileiros. No dia seguinte, alguém colou num muro de uma estação de metrô em São Paulo um bilhete que dizia: “Eu tinha um candidato para votar e não sabia”. Como diz a melhor frase do marketing político – criada por Gilberto Gil para outros fins – “o povo sabe o que quer mas o povo também quer o que não sabe”. Não sabiam que queriam Eduardo até o dia da tragédia, mas iriam ter tempo pra saber.  Milhões de brasileiros choraram poucos dias depois ao ver chorar o povo mais humilde de Pernambuco se despedindo de Eduardo Campos. Quantos políticos brasileiros conseguiriam que o povo chore por eles sem pagar por isso uma nota de cem? A história dos povos sempre é feita por forças maiores que os seus protagonistas, mas a história dos protagonistas pode sim marcar o ritmo da história de um povo. Protagonista na tragédia grega é o primeiro – protos – a agonizar, a morrer. Sem o protagonista a agonia só se arrasta, se estende.  Quem vive no Brasil hoje, sem protagonistas, entende disso.

Na biografia do homem dirá que ele viveu 49 anos. Isso é relativo. Ele viveu com uma intensidade que é equivalente a cem ou duzentos anos de qualquer um de nós, mais mortais do que ele. Foi com a sabedoria de tantos anos de vida que Eduardo Campos basicamente nos ensinou a distinguir quem é do bem e quem é do mal.

Ele era do bem. Se inventam tantas coisas inúteis, porque não se investe em algo que poderia ser tão útil para o país como a máquina do tempo. Lembrar Eduardo Campos é ter saudade do futuro que não foi.


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