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Opinião Manoel Moraes: Gilmar Mendes, um Quebra-Quilos? Manoel Moraes é cientista político e professor universitário

Publicado em: 21/07/2017 07:35 Atualizado em:

26 de junho de 1862, foi promulgada a Lei nº 1.157 que instituía o sistema decimal de pesos e medidas. A implementação em Pernambuco foi marcada por uma revolta popular no final do ano de 1874. Em desobediência civil, comerciantes protestaram contra o pagamento de impostos que incidiam nas mercadorias vendidas nas feiras livres e amargavam prejuízos com os novos pesos. 

Vários estados do Nordeste sentiram o peso da revolta popular que foi sufocada em 1875, mas que durou tempo suficiente para produzir enormes prejuízos, que ficaram registrados por Câmara Cascudo em seu Dicionário do folclore brasileiro: “Toca, toca minha gente; Toca, toca a reunir; Que os matutos quebra-quilos; Por aí não tardam a vir” (Dicionário do folclore brasileiro, 590). 

Os poetas e repentistas passaram a utilizar o adjetivo quebra-quilos com o significado de valentia, destemido e sinônimo de alguém audaz (Pereira da Costa, Vocabulário pernambucano, 610), tornando-se um termo popular nos comícios e reuniões públicas. 

No último dia 9 de junho 2017, o Supremo Tribunal Eleitoral julgou a chapa Dilma e Temer, o relator ministro Herman Benjamin defendeu a cassação do mandato do presidente Michel usando fundamentos jurídicos e provas com base no entendimento do Tribunal. O destaque foi para o ministro Gilmar Mendes, com sua fala quebra-quilos: alguém destemido, corajoso e valente. Mas não convenceu, sua retórica contra a corrupção eleitoral foi vencida, agora pelo acordão dos bastidores políticos de Brasília.  

Gilmar julgou com “dois pesos e duas medidas”, ditado popular que surgiu de um versículo bíblico, no livro de Deuteronômio (25:13-16): “Não carregueis convosco dois pesos, um pesado e o outro leve, nem tenhais à mão duas medidas, uma longa e uma curta. Usai apenas um peso, um peso honesto e franco, e uma medida, uma medida honesta e franca [...]”. A justiça foi submetida a um constrangimento nacional, dragada para o centro da crise. Seria melhor ter pesado melhor os argumentos do relator, quem sabe assim a balança da justiça fosse preenchida por pesos honestos e não falsos argumentos. 


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