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Opinião Cida Pedrosa: Cavalheiro: 'não' significa 'não'! Cida Pedrosa é secretária da Mulher do Recife

Publicado em: 21/06/2017 07:31 Atualizado em:

Nenhuma outra época do ano traduz mais o sentimento de nordestinidade do que o São João. Nossa música, nossa dança, nossas crenças e até nossa culinária mais tradicional estão intimamente ligadas a esse  festejo tão exuberante e colorido, com suas quermesses, quadrilhas, fogos e fogueiras. Mas, infelizmente, nem tudo é alegria.

Como ocorre no Carnaval, as festas juninas também atraem multidões ávidas para dançar xote, xaxado e baião. Mas nem toda menina ou mulher quer “aprochego” e a proximidade não consentida pode se configurar em assédio. Por isso, estamos realizando uma campanha de conscientização nos dez polos juninos do Recife numa linguagem bem-humorada, tomada de empréstimo da nossa rica cultura popular nordestina, para sensibilizar os cavalheiros mais afoitos e os namorados e maridos que não respeitam os limites impostos por suas companheiras, seja no lar ou na rua.

Este mês, lançamos o Guia de como aproveitar o São João sem encher o saco das boyzinhas, seguindo a receita do trabalho vitorioso, realizado durante o Carnaval. Naquela ocasião, o Manual de como não ser um babaca no Carnaval alcançou enorme feedback tanto do público quanto dos meios de comunicação. O manual teve milhares de compartilhamentos nas redes sociais e foi divulgado por inúmeros veículos da imprensa local e nacional.

Tanta aceitação deixou evidente a necessidade de promover campanhas que expressem a identidade cultural da nossa gente, usando uma linguagem atraente e acessível à população para condenar todas as formas de violência de gênero. Nossa intenção sempre é lembrar aos cavalheiros que nenhuma dama deve ser assediada, desrespeitada ou violentada em tempo algum. Como prega o nosso guia junino, “na quadrilha, no arrasta-pé e em todos os dias do ano, o corpo é dela. Só toque com permissão.”

Nesse momento em que as pessoas estão mais conscientes dos próprios direitos e limites, seria importante resgatar o espírito do São João tradicional de latada, de terreiro, vivenciado nos mais profundos rincões do Nordeste, onde as mulheres não eram somente alvo de desejo, mas principalmente de afetividade. O que mais se via era a comadre chamando a outra para dançar apenas pelo prazer de “forrofiar”.

No São João, como diz a música popular, é proibido cochilar. Todos querem namorar, beijar, abraçar...e pode ser assim, desde que haja consenso entre as partes. “Não” significa “não”! E o cavalheiro que não aceite uma negativa como resposta corre o risco de incorrer em crime. Se não pular essa fogueira, vai acabar pisando em brasa, pois as damas têm a quem recorrer para garantir sua autonomia de corpo e alma e sua liberdade de expressão, seja durante o período junino ou em qualquer época do ano.


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