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Opinião Luiz Ernesto Mellet: A espiritualidade ganha espaço nas relações de trabalho Luiz Ernesto Mellet é gestor governamental da Secretaria de Planejamento de Pernambuco

Publicado em: 26/05/2017 07:32 Atualizado em:

As relações de trabalho sempre se moveram num espaço distante da espiritualidade. Isso se deve ao fato de o ambiente corporativo não abrir margem para a transcendência. Ainda que o assunto seja encarado com estranheza por muitos executivos %u2013 que consideram o tema esotérico demais para ser levado a sério no interior refrigerado dos escritórios %u2013 o assunto vem ganhando cada vez mais atenção.

Se até pouco tempo atrás as organizações relegavam o capital humano a um patamar inferior em suas prioridades, as novas estratégias de gestão estão mirando agora as pessoas. Afinal, são elas as responsáveis pelos produtos e serviços e são elas, também, que estão na linha de frente de qualquer negócio. As empresas de vanguarda acordaram para o fato de que pessoas não são feitas somente de carne e osso. São seres humanos constituídos de mente, coração e espírito.

Considerando que passamos um terço da vida dormindo e mais outro trabalhando, é lícito concluir que a felicidade deva ser buscada também durante o expediente. Por isso, ser feliz no trabalho é a primazia que se desenha para o modelo corporativo do século 21.

A valorização da espiritualidade no ambiente de trabalho não é um fenômeno novo. Nos anos 40 do século passado, a Companhia Elétrica Lincoln, líder entre as indústrias de fundição nos EUA, introduziu nas suas fábricas o conceito de %u2018gerencia incentivadora%u2019, basicamente um conjunto de regras de conduta mais humanas. Se há algo de novo no resurgimento da espiritualidade, agora, é que ela vem se estabelecendo como um paradigma capaz de servir de contraponto ao hedonismo exacerbado no mundo de hoje.

Contudo, quando o assunto vem à tona, boa parte dos executivos ainda torce o nariz acreditando que o tema esteja diretamente ligado à religião. Isso se deve à noção errada de que a espiritualidade seja algo restrito às igrejas. Na verdade, a espiritualidade está relacionada com princípios e não aos dogmas e crenças religiosas.

Se não elimina por completo a atmosfera de conflito, a espiritualidade ajuda na redução das tensões e atritos, contribuindo para uma convivência mais harmoniosa no local de trabalho. É isso que constatam gigantes como Intel, Appel, Taco Bell e Pizza Hut que estão incentivando a generosidade, a solidariedade e o incentivo mútuo junto a seus funcionários. Resultado: todas apresentaram aumento da produtividade.

Cada um carrega determinados valores que se misturam a sua condição de vida. Essas particularidades modelam a personalidade das pessoas e, obviamente, influem em quaisquer situações, inclusive as da vida profissional. Afinal, o mais aplicado dos executivos jamais se transforma noutra pessoa no momento em que adentra o prédio de escritório. O mesmo ocorre com o operário de chão de fábrica: ele não passa a ser outra pessoa ao vestir o macacão.

A expansão da corrente espiritual no trabalho insere-se numa perspectiva organizacional vinculada a uma postura mais benevolente diante o mundo. A despeito de certos movimentos racionalistas, de redução de custos, terceirização e flexibilização dos contratos de trabalho %u2013 como se vê na reforma trabalhista aprovada pela Câmara dos Deputados %u2013, as organizações de vanguarda têm priorizado os estatutos da ética e olhado com mais interesse para a complexa relação com a transcendência que habita todo ser humano.


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