Opinão Jairo Cabral: Spok. O Oitavo Coração Jairo é ex-diretor da Troça Ceroula de Olinda

Publicado em: 24/02/2017 07:41 Atualizado em: 24/02/2017 08:11


O musicista Inaldo Cavalcante de Albuquerque, exímio saxofonista, é conhecido no ambiente musical como Spok. O apelido tem origem na semelhança das suas orelhas pontiagudas, com às do personagem Spock da franquia Jornada nas Estrelas. É condutor, junto com Gilberto Pontes, também exímio saxofonista, da Spok Frevo Orquestra, uma potente e modernizante usina de som de altíssima qualidade, que faz o frevo de Pernambuco reverberar nos quatros cantos do planeta. Com belos arranjos e uma incomum capacidade de improvisação, Spok e a Orquestra deram alma nova e ressignificaram o frevo como manifestação cultural e histórica de um povo, que tem destaque no carnaval como trilha sonora que embala e arrasta a multidão pelas ruas e ladeiras de Olinda e Recife.

O irrequieto Spok, que não gosta de ser chamado de maestro, além da inestimável contribuição musical, idealizou, ajudou a viabilizar e colaborou na feitura do documentário Sete Corações, dirigido pela cineasta recifense Déa Ferraz, que o mundo e os brasileiros precisam ver e os pernambucanos têm a obrigação de assistir. É um registro histórico emocionante. É um gesto de salvaguarda do legado daqueles que ajudaram a construir essa epopeia chamada frevo. Cada qual com o seu estilo e de acordo com as suas convicções musicais, fizeram o frevo evoluir e fincar raízes na cultura pernambucana.

Os Sete Corações do frevo homenageados no filme, são os Maestros Ademir Araújo, Clóvis Pereira, Duda, Edson Rodrigues, Guedes Peixoto, José Menezes e José Nunes. Por ocasião das filmagens, compuseram a catorze mãos, o frevo Sete Corações para imortalizar esse momento singular.
Tem cenas engraçadas como a do Maestro Duda acompanhado da sua esposa, dirigindo na contramão pelas ruas do Recife Antigo, quando ia receber justas homenagens do carnaval do Recife, em 2011. Tem cenas afetivas como o encontro dos Maestros Clóvis Pereira e Edson Rodrigues com o seu saxofone, no desfile do Bloco Lírico Cordas e Retalhos
Tem cenas nostálgicas como as do Maestro Ademir Araújo contemplando o Recife da janela do prédio onde trabalha, com um ar de emoção e saudade expressado na lágrima rolada e do Maestro Nunes, com um olhar reminiscente, vendo a vida passar pela janela do velho sobrado da Boa Vista. Tem cenas de encontro familiar e celebração carnavalesca no terraço do Maestro José Menezes no Bairro de São José. Tem o depoimento do Maestro Guedes Peixoto, grande trombonista, falando da sua vivência no frevo.

Dos Sete Corações, dois infelizmente, não pulsam mais. José Menezes e José Nunes da Silva faleceram recentemente. Mas, tiveram a oportunidade de ver o documentário que registrou para a posteridade, as valiosas contribuições que deram a nossa música. Estarão sempre presentes, através das notas dos seus frevos, que emolduram os passos acrobáticos dos foliões pernambucanos.
Spok, o Oitavo Coração, e a Orquestra formada por excelentes instrumentistas, continuam pulsando firme e vibrando forte, renovando e impulsionando para a eternidade o frevo exuberante de Pernambuco. Evoé Spok!


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