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Diario Editorial: A pobreza de Argentina e Brasil Depois de tantos anos, Brasil e Argentina deixaram de ser o outro amanhã, mas continuam tendo pela frente o desafio de construírem uma prosperidade

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 30/09/2016 07:13 Atualizado em:

Houve uma época em que Argentina e Brasil se viam como espelhos mútuos, separados por situações diferentes. “Eu sou você amanhã”, dizia-se, quando um estava em melhor ou pior situação que o outro. A frase reverberava famosa propaganda de bebida nos anos 1980. Às vezes era a Argentina que estava sob uma onda de prosperidade, e as praias de Santa Catarina se enchiam de turistas argentinos. Às vezes a maré de prosperidade dava o ar da graça no Brasil - e aí éramos nós quem lotávamos os pontos turísticos argentinos. Desde então o cenário passou por profundas transformações - mas, agora, lá e cá começam a surgir algumas semelhanças.

Os dois países, por exemplo, estão tentando sair de uma crise econômica, em meio a um radicalizado clima político. Da Argentina vem agora uma preocupante informação: pesquisa divulgada pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Idec), o IBGE de lá,  mostrou que 32,2% dos argentinos são pobres. “Saber que um em cada três argentinos está na pobreza tem que nos doer”, disse o presidente Maurício Macri, que está no primeiro ano de mandato. O tema foi uma de suas bandeiras de campanha, com o slogan “Pobreza Zero”.  Macri  já tomou o banho de realidade de quem chega ao poder, e agora diz que eliminar a pobreza será uma tarefa impossível para quatro anos de administração. “É uma meta que não pode ser resolvida em um só governo”, afirmou ele.

A pobreza pode até ter aumentado em seu governo, conforme dizem os partidários do governo anterior, de Cristina Kirchner. Mas da mesma forma que não se acaba a pobreza em um mandato, ela também não chega onde chegou em poucos meses de administração. É uma obra de longo prazo. Na Argentina o índice de 32% de pobres tornou-se motivo de enfrentamento entre situação e oposição, e de polêmica nas redes sociais, onde ganhou a hashtag #LaFabricaDePobres, utilizada tanto por quem está a favor quanto por quem está contra o governo.

No Brasil tivemos grandes avanços na redução da pobreza, e por isso o alto índice argentino nos choca tanto. Mas estamos no momento com mais de 11 milhões de desempregados, realidade igualmente chocante. Depois de tantos anos, Brasil e Argentina deixaram de ser o outro amanhã, mas continuam tendo pela frente o desafio de construírem uma prosperidade que seja ao mesmo tempo longa e capaz de atingir a toda a população.


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