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Diario Editorial: Pacto de paz na Colômbia A paz, construída a partir do diálogo, inaugura um tempo de desenvolvimento econômico e social

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 30/08/2016 07:00 Atualizado em:

A partir de ontem, começou o cessar-fogo definitivo entre o exército e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Foram mais de 50 anos de luta ideológica e sangrenta, que deixou, estima-se, 260 mil mortos, 45 mil desaparecidos e deslocou 6,9 milhões de pessoas. A iniciativa é parte do acordo firmado entre a guerrilha e o governo do presidente Juan Manuel Santos. As tratativas começaram em 2012, em Havana, capital de Cuba, considerada território neutro. O documento com 297 páginas, que detalha todo o processo de entendimento e as regras para o fim do mais longo conflito civil da América do Sul, será submetido a consulta popular, em 2 de outubro.

Apesar de o acordo ter oponentes, dificilmente a maioria dos colombianos o rejeitará. No país, prevalece o entendimento de que conviver com conflitos representa prejuízo à nação. Com grande potencial de riquezas naturais e uma agricultura forte, a Colômbia tem condições para passar de terceira a segunda maior economia do Continente Sul-Americano, à frente da Argentina e atrás somente do Brasil.

A paz, construída a partir do diálogo, inaugura um tempo de desenvolvimento econômico e social. Demonstra, como declarou o presidente norte-americano, Barack Obama, que “o compromisso sustentado pela diplomacia pode superar até os conflitos mais complicados”. Mas o que parece simples, impõem novos desafios aos colombianos para que a pacificação seja perene.

Entre eles, está a inclusão, sem revanchismo, de quase duas gerações que não conheceram outra atividade senão a da guerra. Homens e mulheres que sempre tiveram as armas como ferramenta de vida e que, não à toa, temem ser alvos fáceis dos ressentidos com a guerrilha. Tanto para os ex-guerrilheiros quanto para os que deles foram vítimas não será fácil eliminar as barreiras da hostilidade que, por décadas, os separaram. O acordo deverá criar condições para que os insurgentes ingressem na vida civil e possam ter convívio harmonioso na sociedade.

Construída sobre os princípios marxistas, as Farc terão 10 cadeiraas no Congresso da Colômbia. Inicialmente, seus representantes terão apenas voz, e não voto. Esse será um dos passos para a inserção dos ex-combatentes no regime institucional. A partir daí, os ex-rebeldes poderão se constituir em partido e conquistar apoio em outros campos de luta: o das ideias e da democracia.

O pacto que alarga a base para a consolidação da democracia colombiana não poderá ser atribuição exclusiva do Executivo. Em jogo está o futuro do país. Sem harmonia é impossível construir consensos e fazer deslanchar uma sociedade, que poderá ser modelar para o restante da região sul-americana. Hoje, graves crises políticas e econômicas põem em xeque projetos voltados ao fim das desigualdades sociais e econômicas na América Latina. O acordo reforça sobremaneira a necessidade de diálogo com os mais diferentes atores da sociedade para o pleno desenvolvimento de um país.


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