Diario Editorial: A estiagem que castiga o semiárido Dez municípios pernambucanos estão em colapso completo e são abastecidos exclusivamente por carros-pipa

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 25/05/2016 07:19 Atualizado em:

A estiagem severa dos últimos quatro anos levou quase 70% dos 185 municípios de Pernambuco a decretarem situação de emergência. Na prática, eles declararam publicamente uma incapacidade de responder às condições climáticas e recorreram à União pedindo socorro de recursos financeiro. A lista das cidades foi publicada na edição do Diário Oficial da União na última terça-feira. Em Pernambuco, sofre o Sertão e o Agreste, esta área atingida de forma mais drástica com a escassez  mais recente de água nas torneiras.

Dar-se conta que dez municípios pernambucanos estão em colapso completo e são abastecidos exclusivamente por carros-pipa. Outros 40 recorrem ao mesmo expediente de forma parcial e apostam no racionamento. Aos poucos, os carros-pipa voltam a ser incorporados à paisagem do interior e zonas rurais. O quadro é preocupante porque, se os veículos socorristas são convocados, há déficit, famílias enfrentando riscos de perda da lavoura, do gado, e se desdobrando para ter acesso à água encanada de qualidade para beber. O básico. Contada neste Diario, a narração de cenas de disputa por um balde d´água em caixas montadas entre ruas do município de São José do Egito, Sertão, ilustra a carência maior dos mais pobres. Envolvia mulheres grávidas e crianças menores.

Os dados sobre a escassez são de Pernambuco, mas se pode projetar o drama daqui para outros estados nordestinos. A região, segundo dados da Organização Não-Governamental  Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), concentra 50% da população rural do Brasil. A seca é demanda antiga de parte do país e, em função dela, milhares de famílias precisam de apoio especial para terem condições dignas de vida em períodos de longa estiagem. Nesses 50% de terra verde-amarela, a situação é mais crítica.

“Vivemos uma seca parecida como a que aconteceu entre 1978 e 1983, quando morreu um milhão de pessoas”, lembra o sociólogo Antônio Barbosa, coordenador da bem-sucedido programa P1+2 da ASA. “Mas de fome e seca não morreu ninguém. A morte desapareceu porque com soluções simples e baratas acabaram com a morte”. Sertanejo e apaixonado pela causa nordestina, Barbosa sempre fez relato sobre o quão fácil era ver morte de criança na região no início da década de 1980. Agora teme pelo impacto da crise econômica e política do país sobre as políticas sociais do Nordeste. Há razão para o temor.


MAIS NOTÍCIAS DO CANAL