Editorial Editorial: peso da diplomacia Sem ingenuidade ou falsas expectativas, ninguém, em sã consciência, pode preferir o conflito ao diálogo

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 01/02/2016 07:03 Atualizado em: 01/02/2016 07:07

Um dos maiores feitos do governo Obama é a promoção do acordo nuclear com o Irã. Assinado em 2015 pelas cinco potências do Conselho de Segurança da ONU - EUA, China, Rússia, França e Reino Unido -, o acerto põe fim ao isolamento de Teerã imposto há mais de 30 anos. Em troca da redução dos estoques de urânio enriquecido e da liberação do acesso dos fiscais das Nações Unidas às instalações nucleares, o país recebeu US$ 100 bilhões em bens congelados no exterior e a autorização para comercializar petróleo no mercado internacional. 

Os frutos da iniciativa vão além da abertura de portas para a reintegração da antiga Pérsia à economia mundial. Ela contribui para mostrar caminhos aptos a não agravar (ou talvez a reduzir) as tensões no Oriente Médio e, consequentemente, nas áreas em conflito espalhadas por outros continentes. A seta aponta para a diplomacia. Mais valem o diálogo e as concessões de lado a lado que três décadas de hostilidades, mísseis e bombardeios. Sem ingenuidade ou falsas expectativas, ninguém, em sã consciência, pode preferir o conflito ao diálogo.

Não passou despercebida a carga simbólica que marcou o encontro do papa com o presidente iraniano na primeira viagem à Europa depois do fim das sanções. Em visita ao Vaticano na terça-feira, Hassan Rouhani passou 40 minutos com o pontífice. Francisco lembrou a importância do diálogo inter-religioso e a responsabilidade das comunidades dos diferentes credos em promover a reconciliação, a tolerância e a paz. Há muito se cobra dos líderes muçulmanos condenação expressa ao terrorismo. Sem sucesso. Irã e Arábia Saudita, únicas nações com autoridade para conduzir xiitas e sunitas, não só se mantêm surdas ao apelo. Também estimulam e financiam grupos radicias. 

A fala do líder católico, cara a cara com o líder islâmico, dá voz e relevância ao clamor. Um dia antes, em encontro com o presidente italiano, Sergio Mattarella, Hassan Rouhani defendeu a necessidade de “grande coesão internacional” para combater o terrorismo. Mais: destacou a urgência de gerar crescimento econômico no Oriente Médio para derrotar extremismos. A pobreza e a falta de oportunidade são ímã que atrai os jovens na direção de grupos jihadistas como o Estado Islâmico. 

Rouhani deu mostras de que pretende assumir protagonismo no Oriente Médio. Apontou o país por ele conduzido como potência comercial regional e pilar de estabilidade. Atingir o objetivo não será fácil. Entre as pedras no caminho, estão Israel e Arábia Saudita. Os dois vizinhos temem as consequências do reposicionamento de Teerã no xadrez da região. Em possíveis confrontos, impõe-se sentar-se à mesa de negociações. A voz da diplomacia é, sem dúvida, mais efetiva que a da confrontação.


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