Editorial Uma obra que precisa ser concluída

Publicado em: 27/12/2015 12:55 Atualizado em:

Da visita da presidente Dilma Rousseff a Pernambuco, semana passada, dois fatos se destacam: um concreto e outro abstrato. O concreto foi a inauguração da segunda estação de bombeamento do Eixo Leste do projeto de Transposição do Rio São Francisco, em Floresta, no Sertão. O abstrato foi a promessa de que as obras serão, enfim, concluídas em 2016.

As obras tiveram início em 2007, no segundo mandato do presidente Lula. Era, inicialmente, para ter ficado pronta em 2012. Mas sofreram diversas interrupções e a data agora é 2016. Sabemos do ceticismo que envolve promessas de governantes. Nem sempre elas se cumprem, e não necessariamente porque ao fazê-las o governante estava agindo de má fé, sabendo que não iriam cumpri-las. Promessas costumam ser feitas imaginando-se a manutenção do cenário positivo;  no meio do caminho podem surgir problemas, altera-se o cenário e a promessa começa a balançar.

Neste caso, porém, a previsão para o próximo ano está ajustada à realidade do andamento da Transposição e da situação do país. Cerca de 82% do total previsto estão concluídos. Os recursos para o restante já estão garantidos. Além disso, é um projeto de grande impacto simbólico para o governo, envolvendo tanto a presidente atual quanto o seu antecessor.  A própria Dilma, em Floresta, sentenciou que “ é a obra mais prioritária” do seu governo.

Na terminologia oficial do projeto, as obras são divididas dois eixos. O primeiro, já em funcionamento, é o Eixo Norte, que vai de Cabrobó (PE) até Cajazeiras (PB). O segundo, do qual faz parte a estação de bombeamento inagurada terça-feira, é o Eixo Leste, e vai de Floresta (PE) até Monteiro (PB).

Depois de concluída, a Transposição prevê garantir a segurança hídrica de 12 milhões de pessoas, em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.  Pelo gigantismo dos seus números (investimentos de R$ 8,2 bilhões, dez mil trabalhadores envolvidos; população atingida de 12 milhões…), é a maior obra de abastecimento de água da história do Brasil. Podemos vê-la como obra de infraestrutura, como aposta do atual governo para manter no Nordeste o apoio que tem recebido nas eleições. Mas ela é também um item importante em outra questão que nos diz respeito, e merece estar sempre na agenda nacional: a desigualdade regional.

Temos 28% da população do Brasil, mas apenas 3% da disponibilidade de água (70% desse total vêm do Rio São Francisco). Este dado revela quão estratégico é o acesso à água no Nordeste.  Enfrentamos aqui o problema recorrente da seca, particularmente destrutiva no semiárido, área que corresponde a 53% da região nordestina.  As estiagens continuam, dado que são fenômenos climáticos, mas os seus efeitos estão hoje bem menos danosos do que foram em passado recente. Não vemos mais, por exemplo, os saques a armazéns e supermercados, nem aquelas grandes concentrações de pessoas perambulando de um lado para o outro, sob o vergonhoso nome de “flagelados”.

A conclusão da Transposição do Rio São Francisco pode ser uma etapa adiante nesta realidade, libertando nossa população da necessidade constante dos carros-pipa e dando a milhões de pessoas melhores condições de vida e produção. Esta é a previsão dos efeitos da obra. Neste final de um ano tão conturbado quanto foi 2015, chegamos às vésperas de 2016 sob a expectativa de que a promessa de conclusão do projeto se cumpra. E que o seu pleno funcionamento resulte de fato em milhões de nordestinos beneficiados.

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