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Nova República Trinta anos da eleição de Tancredo Pernambucanos tiveram participações diferenciadas no pleito que ficou conhecido como o começo da Nova República

Por: Tércio Amaral

Publicado em: 15/01/2015 10:38 Atualizado em:

A eleição do presidente Tancredo Neves (PMDB) no Colégio Eleitoral, que completa exatos 30 anos hoje, ainda suscita debate e reflexões para a chamada “Nova República”, que marcou o fim do regime militar de 1964 e deu ao país uma virada na agenda política. Em Pernambuco, o único a se abster da votação indireta, o ainda senador e futuro deputado federal Jarbas Vasconcelos (PMDB), se arrepende de não ter comparecido à votação. “Eu era a favor da eleição direta. Eu fui o único do PMDB a não comparecer, mas o que importa é que hoje eu fiz uma autocrítica e vi que eu estava equivocado”, disse ao Diario.

A posição de Jarbas poderia até mudar o placar, mas não alteraria o resultado final do pleito. Tancredo Neves, ex-governador de Minas Gerais, venceu o candidato da situação, Paulo Maluf, do PDS, por 480 votos a 180 no Colégio Eleitoral, formado por deputados federais, estaduais, senadores e governadores. Porém, apesar de sair vitorioso na disputa, Tancredo não chegou a assumir por questões de saúde, abrindo caminho para a diplomação e posse do então vice-presidente José Sarney (PMDB), que até pouco tempo ainda circulava no Senado representando o estado do Amapá.

Além de Jarbas Vasconcelos, outros nomes de Pernambuco foram destaque na época, mas, no caso, favoráveis à eleição de Tancredo Neves. A articulação, realizada pelo então senador Marco Maciel e o então governador do estado Roberto Magalhães - que estavam no mesmo partido de Paulo Maluf e abriram uma dissidência -, deu força à campanha de Tancredo. “Todos os governadores do Nordeste eram do PDS, e apenas um, o da Paraíba, Wilson Braga, votou em Maluf. Isso foi decisivo para Tancredo, que, depois da eleição, fez uma série de elogios a Roberto”, relembrou o então prefeito do Recife Joaquim Francisco, hoje no PSB.

O ex-deputado federal Gilson Machado era delegado do PSD, partido governista, e lembra que Maluf não alcançou o consenso na legenda. “Houve uma disputa interna entre Maluf e Mário Andreazza, e Maluf acabou ganhando. O nome ideal seria o de Andreazza. Eu não participei da votação no Colégio Eleitoral, mas segui a determinação do partido”. A votação indireta para o novo presidente foi aberta e incluiu nomes como os dos deputados Cristina Tavares, do PMDB, Inocêncio Oliveira (PR) e Roberto Freire (PPS).

Comoção

Dulce Pandolfi, professora e historiadora do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas, conta que a eleição aconteceu em meio a um momento de intensa comoção nacional. Depois da derrota da Emenda Dante de Oliveira, que previa o retorno das eleições diretas em abril de 1984, um grande debate se instaurou no país. “O movimento pelas diretas estava muito forte. Discutia-se, então, se deveríamos continuar nas ruas ou se lutaríamos dentro do Congresso para o regime sofrer uma derrota, aproveitando a base governista despedaçada”. explica.

Havia um debate sobre quem deveria ser lançado candidato: Ulysses, então presidente da Câmara, ou Tancredo. O nome do mineiro soava mais simpático aos militares. Ex-apoiador do governo e inclusive ex-presidente do PDS, José Sarney mudou de lado e entrou como vice de Tancredo. Os arranjos por uma chapa que não desagradasse ao regime que comandava o Brasil com mão de ferro nos últimos 21 anos mostram a forte influência do governo ditatorial da época na transição para a democracia, avalia o cientista político Adriano Codato, da Universidade Federal do Paraná. “Eles não só escolheram as regras do jogo, como também definiram os jogadores”.

Saiba mais

Linha do tempo

O fim da ditadura

Confira os fatos anteriores às eleições indiretas – da qual Tancredo Neves saiu vitorioso, mas morreu antes de assumir – que consolidaram a volta da democracia no país:

1983

Deputado Dante de Oliveira apresenta a emenda constitucional com a propoosta de eleições diretas para presidente da República

1984

25 de abril  » Emenda Dante de Oliveira é derrotada no Congresso. No mesmo ano, é marcada para 15 de janeiro de 1985 a sessão que elegeria indiretamente o próximo presidente da República.

7 de dezembro » Já como candidato pelo PMDB, da Aliança Democrática, Tancredo Neves roda o Brasil, participando de comícios. Na Praça da Sé, é prestigiado por 80 mil pessoas e promete, caso eleito, delegar à Assembleia Constituinte que marque eleições diretas em 1986.

11 de dezembro » Paulo Maluf, do PDS, rival na disputa, diz que proporá a eleição direta como diretriz partidária. Tancredo admite que aceitará capital externo para o desenvolvimento do país.

16 de dezembro » Tancredo faz o último comício no Recife. Cerca de 300 mil pessoas vão ao local. Promete, mais uma vez, as eleições diretas.

1985

15 de janeiro » Tancredo vence Maluf por 300 votos de diferença – 480 contra 180, segundo resultado anunciado às 12h30 pelo presidente do Congresso Nacional, Moacyr Dalla.

22 de janeiro » Tancredo reúne 50 mil pessoas na praça de Barra do Garças (MT) e promete fazer a reforma agrária.

25 de janeiro » Tancredo encontra papa João Paulo II e pede ajuda da Europa para fortalecer democracia no Brasil.

1 de fevereiro » Em Washington (EUA), Tancredo admite que não consegue pagar dívida pública e diz que quer negociar.

15 de março » Depois de passar mal, Tancredo é operado por causa de uma diverticulite no Hospital de Base, no DF. José Sarney assume a presidência interinamente no lugar dele.

16 de março » Médicos dizem que Tancredo está ótimo e preveem alta em 15 dias.

20 de março » Saúde de Tancredo se complica devido a uma pneumonia. Ele passa pela segunda cirurgia.

26 de março » Tancredo passa pela terceira cirurgia em 12 dias e é internado na Unidade de Terapia Intensiva do Instituto do Coração, em São Paulo.

2 de abril » Tancredo passa pela quarta cirurgia em 19 dias para tratar de uma infecção resultante das cirurgias anteriores para curar a diverticulite.

20 de abril » Médico diz que Tancredo não deve se recuperar.

21 de abril » Tancredo morre aos 75 anos depois de fazer sete cirurgias e passar 39 dias internado. A população vai às ruas chorar a morte do presidente que não assumiu.



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