O legado do papa Francisco em um mundo em crises
Carlos André Silva de Moura
Professor da Universidade de Pernambuco (UPE) e coordenador do Laboratório de Estudos da História das Religiões da UPE
Publicado em: 22/04/2025 03:00 Atualizado em: 21/04/2025 21:47
O anúncio da morte do papa Francisco, realizado na manhã do dia 21 de abril, trouxe diferentes reflexões sobre o legado dos seus 12 anos de pontificado. O cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, assumiu a liderança da Igreja Católica Apostólica Romana em um instante em que o seu antecessor, o papa Bento XVI, classificou como um momento em que a “barca de Pedro estava à deriva”. Após a cerimônia do Habemus Papam (temos um papa) em uma Praça de São Pedro tomada por fiéis de todo o mundo, Francisco iniciou uma reforma que abordou temas sensíveis para uma das mais tradicionais instituições.
A adoção do nome Francisco, por recomendação do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, deu a tônica das ações que seriam implementadas pelo sucessor de Pedro. Um dos principais desafios era reposicionar a Igreja Católica nos debates contemporâneos, com o distanciamento da instituição dos recorrentes escândalos e a promoção da renovação, especialmente, com a inclusão de jovens, mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade nas principais ações do clero.
Francisco realizou reformas e planejou mudanças estruturais, mas não foi bem-sucedido em todas as suas proposições. Como um representante político foi uma voz atuante em um mundo que vivencia conflitos catastróficos, realizou críticas contundentes à violência no Continente Africano, na Ucrânia e na Palestina. Tentou aproximar e debater com representantes políticos improváveis, a exemplo das negociações entre os representantes dos Estados Unidos da América e de Cuba em 2015. Alguns dos seus posicionamentos trouxeram incômodos aos integrantes de grupos conservadores: debateu sobre o celibato, inseriu as mulheres na alta administração da Igreja, escreveu sobre o meio ambiente, criticou o consumismo, a corrupção, desculpou-se pelos abusos sexuais de eclesiásticos, defendeu uma política de acolhimento aos imigrantes, autorizou a benção aos casais homoafetivos e pregou a comunhão. Fez o que foi possível.
O papado de Francisco também foi marcado por atos que aproximaram a hierarquia eclesiástica das periferias, com o fortalecimento da ideia de uma Igreja em constante saída, perto da dor do mundo. O bispo de Roma caminhou pelas ruas, pelas periferias existenciais, orientou o clero a acolher gays e pessoas transgênero como filhos de Deus, promoveu a inclusão dos indivíduos em situação de rua na estrutura do Vaticano e se fez presente entre o povo que sentia fome, frio e sede. Em sua casa, recebeu protestantes, mulçumanos, judeus e ateus, demonstrou enorme capacidade de debater e se aproximar daqueles que pensavam diferente. Como todo ser humano, Francisco também chorou: em uma Praça de São Pedro em silêncio, lamentou pelas vítimas das guerras, dos autoritarismos, da violência e da pandemia da Covid-19.
Mesmo com sua característica reformadora, reconheceu os seus limites como líder da Igreja Católica e chefe de Estado. Em suas ações proporcionou nova realidade para o catolicismo no século 21. Por seus atos foi acusado de heresia, defensor do comunismo e teve a legitimidade de ocupar o “Trono de Pedro” questionada, mas continuou a executar o que acreditava e efetivar as ações para as quais o Colégio Cardinalício o elegeu. O papa deixou um legado de humanismo, compromisso com os humildes e a casa comum. Que o legado de Francisco inspire o seu sucessor, com ações que possam fortalecer uma instituição para o povo e com o povo.
A adoção do nome Francisco, por recomendação do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, deu a tônica das ações que seriam implementadas pelo sucessor de Pedro. Um dos principais desafios era reposicionar a Igreja Católica nos debates contemporâneos, com o distanciamento da instituição dos recorrentes escândalos e a promoção da renovação, especialmente, com a inclusão de jovens, mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade nas principais ações do clero.
Francisco realizou reformas e planejou mudanças estruturais, mas não foi bem-sucedido em todas as suas proposições. Como um representante político foi uma voz atuante em um mundo que vivencia conflitos catastróficos, realizou críticas contundentes à violência no Continente Africano, na Ucrânia e na Palestina. Tentou aproximar e debater com representantes políticos improváveis, a exemplo das negociações entre os representantes dos Estados Unidos da América e de Cuba em 2015. Alguns dos seus posicionamentos trouxeram incômodos aos integrantes de grupos conservadores: debateu sobre o celibato, inseriu as mulheres na alta administração da Igreja, escreveu sobre o meio ambiente, criticou o consumismo, a corrupção, desculpou-se pelos abusos sexuais de eclesiásticos, defendeu uma política de acolhimento aos imigrantes, autorizou a benção aos casais homoafetivos e pregou a comunhão. Fez o que foi possível.
O papado de Francisco também foi marcado por atos que aproximaram a hierarquia eclesiástica das periferias, com o fortalecimento da ideia de uma Igreja em constante saída, perto da dor do mundo. O bispo de Roma caminhou pelas ruas, pelas periferias existenciais, orientou o clero a acolher gays e pessoas transgênero como filhos de Deus, promoveu a inclusão dos indivíduos em situação de rua na estrutura do Vaticano e se fez presente entre o povo que sentia fome, frio e sede. Em sua casa, recebeu protestantes, mulçumanos, judeus e ateus, demonstrou enorme capacidade de debater e se aproximar daqueles que pensavam diferente. Como todo ser humano, Francisco também chorou: em uma Praça de São Pedro em silêncio, lamentou pelas vítimas das guerras, dos autoritarismos, da violência e da pandemia da Covid-19.
Mesmo com sua característica reformadora, reconheceu os seus limites como líder da Igreja Católica e chefe de Estado. Em suas ações proporcionou nova realidade para o catolicismo no século 21. Por seus atos foi acusado de heresia, defensor do comunismo e teve a legitimidade de ocupar o “Trono de Pedro” questionada, mas continuou a executar o que acreditava e efetivar as ações para as quais o Colégio Cardinalício o elegeu. O papa deixou um legado de humanismo, compromisso com os humildes e a casa comum. Que o legado de Francisco inspire o seu sucessor, com ações que possam fortalecer uma instituição para o povo e com o povo.
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