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A sala de aula e o paradoxo da tolerância

Sérgio Ricardo Araújo Rodrigues
Advogado e Professor Universitário

Publicado em: 17/11/2023 03:00 Atualizado em: 16/11/2023 23:11

Depois de alguns anos voltei a trabalhar em sala de aula como professor e como tal fato foi libertador e trouxe uma riqueza inestimável em minha vida.

Ser professor! Gostar de ser professor! Será um sacerdócio? Será um vício ou uma virtude?

Na verdade, acho que todas as palavras acima fazem com que o professor fique motivado para mudar. O sacerdócio tem a motivação de se entregar, de se dar à profissão, sem se preocupar com os bens materiais, mudando o ser intimamente.

O vício torna o professor um ser diferente do resto da sociedade; mas, sempre motivado a cumprir a meta, formar e mudar o aluno.

Virtude porque o professor tem a disposição firme e constante para a prática do bem.

Ser professor me fez ser mais tolerante e, por certo, isso influencia demais dentro do contexto social mais amplo que vivo, e como precisamos ser tolerantes, mas não tolerar qualquer coisa que me chegue.

Minhas palavras acima se assemelham a um paradoxo, e, de fato, o é, o que me faz ter em mente o filósofo Karl Popper.

O conceito do “Paradoxo da Tolerância” é talvez das ideias mais famosas de Karl Popper, transcrevo o texto com uma tradução livre de sua obra “A Sociedade Aberta e os Seus Inimigos”. (tradução livre):

“Menos bem conhecido é o paradoxo da tolerância: tolerância ilimitada levará ao desaparecimento da tolerância. Se estendemos tolerância ilimitada até àqueles que são intolerantes, se não estamos preparados para defender a sociedade tolerante contra o ataque dos intolerantes, então os tolerantes serão destruídos, juntamente com a tolerância. Nesta formulação não pretendo dizer que devamos sempre suprimir a verbalização de filosofias intolerantes; conquanto que possamos contradizê-las através de discurso racional e combatê-las na opinião pública, censurá-las seria extremamente insensato. Mas devemos reservar o direito de suprimi-las, mesmo através de força; porque poderá facilmente acontecer que os intolerantes se recusem a ter uma discussão racional, ou pior, renunciarem a racionalidade, proibindo os seus seguidores de ouvir argumentos racionais, porque são traiçoeiros, e responder a argumentos com punhos e pistolas. Devemos pois reservar o direito, em nome da tolerância, de não tolerar os intolerantes. Devemos afirmar que qualquer movimento que prega a intolerância está fora da lei, e considerar criminoso o incitamento à intolerância e perseguição, da mesma forma que é criminoso o incitamento ao homicídio, ao rapto ou ao reavivar da escravatura.”

Pois bem , somos livres e devemos estimular um mundo onde se pratique a liberdade e que esta seja voltada ao respeito, tolerância e paciência para ouvir e ver o que a vida e o próximo tem a nos mostrar, assim como aprendo com meus próximos em sala de aula.

Lembro da linda letra de Lenine, paciência:

Enquanto todo mundo
Espera a cura do mal
E a loucura finge
Que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
 
O mundo vai girando
Cada vez mais veloz
A gente espera do mundo
E o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é tempo
Que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo
Pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara
Tão rara

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para
A vida não para não


Com amor, daquele que pode todo dia exercitar a paciência e reflexão de ser professor.

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