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Os cinemas de rua do Recife que marcaram época e fecharam

João Alberto Martins Sobral
Jornalista

Publicado em: 23/10/2020 03:00 Atualizado em: 23/10/2020 06:22

Em 1968, o Recife tinha 28 cinemas de rua. Com a chegada das salas nos shoppings centers foram fechando. Hoje só restam três: o São Luiz e os dois cinemas da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby e Casa Forte. Vou recordar algumas destas salas que marcaram época no Recife.

Moderno: Foi um dos primeiros cinemas fundados no Recife, em 1913, inicialmente como teatro. Passou por várias fases e donos. Ficava na Praça Joaquim Nabuco, onde fechou em 1996, depois de 83 anos, com o local usado até hoje por lojas comerciais. Em 1955, estreou, com o filme O Manto Sagrado, o Cinemascope, uma revolução na época, com tela maior e sistema de som amplificado, que se destacava especialmente em filmes como Tubarão e Terremoto. Ao contrário dos cinemas de shoppings, não tinha lanchonete. A pipoca já era imprescindível, mas comprada numa carrocinha em frente.

Art Palácio: Ficava na Rua da Palma, na esquina com a Matias de Albuquerque. com projeto do arquiteto Rino Levy. Com um grande hall, era considerado um dos melhores cinemas do país. Foi inaugurado em 1940 e fechou em 1993, com o filme Instinto Selvagem. O prédio está totalmente deteriorado e, recentemente, uma parte da marquise caiu.

Trianon: Era no mesmo prédio do Art Palácio, mas com entrada pela Avenida Guararapes. Suas sessões, como na maioria dos cinemas, eram às 14h, 16h, 18h, 20h e 22h. Nos sábados, a sessão da meia-noite e, nos domingos, às 10h e 12h. Um detalhe: não havia início e fim, podia-se entrar no meio do filme e completar na sessão seguinte. Durante alguns anos teve o Cinema de Arte, nos sábados, às 10h, que estreou com Hiroshima, Meu Amor, de Alain Resnais. Durante anos, teve um porteiro digamos corrompível que, em troca de uma gorjeta, deixava adolescentes entrarem nos filmes proibidos para menores de 18 anos. Filmes infantis, diante das novelas de hoje, mas que faziam a festa dos estudantes.

Veneza: Abriu no dia 27 de dezembro de 1970, com uma badalada sessão especial do filme Aeroporto, que teve a presença de Luiz Severiano Ribeiro, dono da famosa rede nacional de cinemas. Era o mais luxuoso da cidade, na Rua do Hospício. Fizeram sucesso suas sessões Joveneza, nas tardes dos sábados, ponto de encontro da nova geração. Funcionou até o dia 28 de setembro de 1998, quando fechou exibindo o filme O Apóstolo, de Robert Duvall. Na fase final, era do Banco Econômico e acabou comprado por um milionário cearense José Gregório dos Santos, famoso por ter começado a vida como vendedor de confeitos, na porta de cinemas. Hoje, o prédio não tem o menor sinal da existência do Veneza.

Ritz e Astor: Dois cinemas na esquina da Rua do Hospício e Avenida Visconde de Suassuna. Começaram como cinemas normais, mas depois se transformaram em salas especializadas em filmes pornôs e se deterioraram tanto que em 2009 foram fechados pelas autoridades sanitárias da Prefeitura do Recife. Hoje, o espaço é ocupado pelo Ministério Público de Pernambuco.

Boa Vista: Ficava na esquina da Dom Bosco com a Manoel Borba, teve projeto do arquiteto Jorge Martins. Foi inaugurado em 1942 e tinha 1,8 mil  poltronas, que, em filmes de sucesso, ficavam todas ocupadas, com gente sentada nos batentes dos corredores, sob olhar atento dos lanterninhas (funcionários que usavam farda e tinham como arma uma lanterna). Que também fiscalizam os namorados mais ousados, que iam ao cinema pensando em tudo, menos no filme.

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