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Joãozinho agora está no quintal de Deus

Raimundo Carrero
Jornalista e membro da Academia Pernambucana de Letras

Publicado em: 24/06/2019 03:00 Atualizado em: 23/06/2019 23:09

Enquanto escrevo Joãozinho está brincando no quintal... Escrevia com imensa afetividade o escritor Renato Carneiro Campos num desses finais de semana na década de 1970 em crônica publicado neste Diario de Pernambuco na capa do Viver para saudar a chegada do verão entre cajus e goles de cachaça nesta cidade do Recife, incendiada pelo sol.

O tempo mágico nos remete a muitas saudades, entre elas a este Joãozinho, menino brincando no quintal, que não era outro senão o já agora adulto João Henrique Carneiro Campos, que infelizmente nos deixou para brincar no quintal de Deus, ali no Paraíso, merecendo, portanto, mais uma crônica, mais um carinho...

Parece estranho que tenha começado este artigo com a lembrança daquela leve citação afetiva de uma crônica de um tempo remoto. Sim, mas remota é a crônica e não a afetividade... naquele instante, Renato estava tomado pelo amor familiar, pelo amor da casa, paternal que era, embora boêmio de tantas noites e de tantas conversas acaloradas ao sabor da cerveja e do chambaril, sobretudo na companhia do escritor Hermilo Borba Filho, amigo de estudos e de obras...

Ali, na crônica, estava Renato inteiro... o Renatão para os amigos, marido de Pompéia e pai de Vanja, a outra filha a quem dedicava o amor de pai zeloso, amigo, justo na criação e na companhia...patriarcal que era, lembrando-se de todos nas horas mais diversas...

Foi este Joãozinho menino que conheci na Rua das Pernambucanas, em casarão imenso, onde árvores e frutos disputavam espaço com obras de arte, muitas obras de arte, destacando-se inúmeros quadros de João Câmara, a quem dedicou uma amizade de apache.

Com o tempo que tudo separa, fomos nos distanciando. Vanja me informava sobre cursos, posições – tomei um susto grande quando soube que era desembargador do TRE – casamento, filhos, família. Conheci uma filha, advogada, com título de beleza porque beleza também é título, envolvida com intensa atividade profissional.

Tivemos poucos encontros, quase todos na Livraria Cultura entre o que mais amávamos: os livros. Sempre lembrando, era quase uma marca, a crônica de Renato, cuja voz pareceria ressurgir naqueles instantes de conversa rememorativa... Agora só uma informação também afetiva... chorei, chorei muito o desaparecimento do fidalgo e sempre lembrado Joãozinho... estou ficando só...

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