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ONU diz que guerra em Gaza desafia a decência, a humanidade e a lei

Segundo a ONU, somente em Gaza foram registradas 408 mortes de trabalhadores humanitários desde outubro de 2023, tornando a região o lugar mais perigoso para esses funcionários

Publicado em: 02/04/2025 23:01

Faixa de Gaza (foto: BASHAR TALE/AFP
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Faixa de Gaza (foto: BASHAR TALE/AFP )

O chefe de Assuntos Humanitários da Organização das Nações Unidas (OCHA) no Território Palestino, Jonathan Whittall, afirmou hoje que a guerra na Faixa de Gaza se tornou uma armadilha mortal, uma desumanização dos civis que desafia a decência, a humanidade e a lei.

 

Whittall fez duras críticas ao modo como Israel conduz a guerra no enclave palestino, descrevendo também uma missão que coordenou recentemente em Rafah, no sul de Gaza, em que descobriu uma vala comum com 15 profissionais de saúde mortos pelas forças israelenses.

 

"Decidi não medir as palavras. Foi chocante vivenciar isto. Eram profissionais da área médica ainda com seus uniformes e luvas. Foram mortos enquanto tentavam salvar vidas. Estavam sendo enviados para Rafah enquanto os militares israelenses avançavam na área. As ambulâncias foram atingidas uma a uma ao entrarem em Rafah. As valas onde os encontramos estavam marcadas pelas luzes de emergência de uma das ambulâncias. Todos foram esmagados pelas forças israelenses. Na zona onde encontramos esta vala comum, as ambulâncias, o caminhão dos bombeiros e um veículo da ONU ficaram todos destruídos. Os corpos dos mortos foram enterrados na vala", relatou. 

 

As Forças de Defesa de Israel (FDI) admitiram que dispararam contra ambulâncias no dia 23 de março apos considerarem os veículos suspeitos, e que cobriram os corpos dos paramédicos e socorristas que morreram nesse ataque com pano e terra, alegando que o fizeram acreditando que o resgate iria demorar.

 

"É realmente uma guerra sem limites. E este caso dos nossos colegas que foram mortos enquanto tentavam salvar vidas é um horror numa série interminável das últimas duas semanas. Em nenhum lugar, ninguém está seguro em Gaza. Os meus colegas me dizem que só querem morrer com as suas famílias. O seu pior medo é sobreviver sozinho. De dia e de noite ouvimos ataques aéreos sob Gaza. Bombas caem sem parar. Os hospitais estão lotados com vítimas. É um ciclo interminável de sangue, dor, morte. Gaza se tornou uma armadilha mortal. Não podemos aceitar, enquanto trabalhadores humanitários, que os civis palestinos sejam desumanizados ao ponto de serem de alguma forma indignos de sobrevivência", denunciou o chefe da OCHA.

 

Mas, Whittall assinalou também o impacto nos civis, que foram novamente obrigados a uma deslocação forçada desde que o cessar-fogo foi violado pelo governo de Tel Aviv, há cerca de duas semanas. “Só nos últimos dois dias, cerca de 100 mil pessoas foram deslocadas de Rafah, muitas delas fugindo de ataques”, informou, acrescentando que viu pessoas correndo debaixo de fogo e serem baleadas nas costas.

 

Segundo a ONU, somente em Gaza foram registradas 408 mortes de trabalhadores humanitários desde outubro de 2023, tornando a região o lugar mais perigoso para esses funcionários. "O pessoal médico e os trabalhadores humanitários e de emergência devem ser protegidos por todas as partes em conflito em todos os momentos, conforme exigido pelo direito internacional humanitário. Desde outubro de 2023, pelo menos 408 trabalhadores humanitários foram mortos em Gaza, pelo menos 280 dos quais eram funcionários da ONU", declarou Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU António Guterres.

 

Guterres disse estar está chocado com os ataques israelenses que mataram os trabalhadores humanitários no comboio médico e de emergência neste conflito e exigiu uma investigação completa e independente a estes incidentes. 

 

A ONU denunciou no Conselho de Segurança das Nações Unidas que os trabalhadores humanitários estão sendo mortos no mundo em números sem precedentes, demandando respostas e justiça.

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