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Faixa de Gaza

Médicos Sem Fronteiras denunciam que Gaza é uma vala comum para palestinos

''As vidas dos palestinos estão mais uma vez a ser sistematicamente destruídas'', afirmou o MSF em nota divulgada

Publicado: 16/04/2025 às 12:31

/Foto: Mohammed MANSOUR / AFP

/Foto: Mohammed MANSOUR / AFP

 

Desde a retomada da operação israelense na Faixa de Gaza em 18 de março, deslocando pessoas em massa, bloqueando deliberadamente a ajuda essencial a partir do dia 2 de março além da morte de mais de 1500 civis somente neste período, a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) vem alertar que o território se tornou uma vala comum para os palestinos.  

 

A coordenadora de emergência do MSF em Gaza, Amande Bazerolle, denunciou a transformação do enclave numa vala comum de palestinos e de todos aqueles que os ajudam e dos que vêm em seu auxílio. “Estamos assistindo em tempo real à destruição e à deslocação forçada de toda a população. Sem lugar seguro para os palestinos ou para aqueles que buscam assisti-los, a resposta humanitária está se debatendo gravemente com o peso da insegurança e da escassez de suprimentos críticos, deixando as pessoas com pouca ou nenhuma opção de acesso aos cuidados”, relatou Bazerolle.

 

Para a organização internacional, as autoridades de Israel devem pôr termo à punição coletiva dos palestinos e instou aos aliados de Tel Aviv a porem termo à sua cumplicidade e a deixarem de permitir a destruição de vidas palestinas.

 

“As vidas dos palestinos estão mais uma vez a ser sistematicamente destruídas. Uma série de ataques mortais das forças israelenses tem demonstrado um flagrante desrespeito pela segurança dos trabalhadores humanitários e médicos em Gaza. Apelamos às autoridades israelenses para que suspendam imediatamente o cerco desumano e mortal a Gaza, protejam as vidas dos palestinos e do pessoal humanitário e médico, e que todas as partes restabeleçam e mantenham o cessar-fogo”, diz o comunicado divulgado nesta quarta-feira (16) pela MSF.

 

As autoridades sanitárias informam ainda que mais de 50 mil pessoas já morreram desde o inicio do conflito, sendo que quase um terço delas são crianças. Segundo as Nações Unidas, também cerca de 409 trabalhadores humanitários foram mortos.  

 

“Onze membros da MSF, alguns em serviço, foram mortos desde o início da guerra, dois deles nas últimas duas semanas. No último caso de um ataque impiedoso das forças israelitas contra trabalhadores humanitários, os corpos de 15 socorristas e as ambulâncias em que viajavam foram encontrados numa vala comum, em 30 de março, em Rafah, no sul de Gaza. O grupo foi morto pelas forças israelitas quando tentavam prestar assistência a civis atingidos pelos bombardeios em 23 de março. Provas recentes compartilhadas publicamente mostram que os trabalhadores e os seus veículos estavam claramente marcados e identificáveis, o que põe em causa as alegações iniciais das autoridades israelenses”, acrescenta o comunicado do MSF.

 

A diretora-geral dos Médicos Sem Fronteiras na França, Claire Magone, aponta que este horrível assassinato de trabalhadores humanitários é mais um exemplo do flagrante desrespeito pelas forças israelenses à proteção dos trabalhadores humanitários e médicos. “O silêncio e o apoio dos aliados mais próximos de Israel encorajam ainda mais essas ações”, acusou. A MSF considera e defende que apenas investigações internacionais e independentes podem trazer à luz as circunstâncias e as responsabilidades por esses ataques a trabalhadores humanitários.

 

“A coordenação dos movimentos humanitários com as autoridades de Israel, Sistema de Notificação Humanitária (SNA), um mecanismo já imperfeito, revelou-se pouco confiável e quase não oferece garantias de proteção. Os locais notificados, nos quais os trabalhadores humanitários informam Israel da sua presença, tais como instalações de saúde onde trabalham, foram atingidos. As áreas próximas às instalações de saúde foram alvo de ataques, combates e ordens de evacuação pelas forças israelenses. As equipes da MSF tiveram de abandonar muitas instalações, enquanto outras continuam a funcionar com o pessoal e os pacientes presos no interior, incapazes de sair em segurança durante horas”, afirma o MSF.

 

“A MSF destacou que condena veementemente estas ações das partes beligerantes e apelamos para que respeitem e protejam as instalações de saúde, os doentes e o pessoal médico”, em referência aos diversos ataques a unidades de saúde, entre eles, o hospital de campanha da organização em Deir Al-Balah, no centro de Gaza, e os hospitais Al Aqsa, Nasser e o Al-Ahli, o Hospital Batista, na madrugada do Domingo de Ramos.

 

O cerco total a Gaza esgotou as reservas de alimentos, combustível e medicamentos. A MSF ressalta que faltam medicamentos para o tratamento da dor e de doenças crônicas, antibióticos e materiais cirúrgicos críticos. A falta de reabastecimento de combustível em Gaza também levará à inevitável suspensão das atividades, uma vez que os hospitais dependem de geradores de eletricidade para manter vivos os doentes em estado crítico e efetuar operações que salvam vidas.

 

“As autoridades israelenses impedem deliberadamente a entrada de toda a ajuda em Gaza há mais de um mês. Os trabalhadores humanitários têm sido obrigados a assistir ao sofrimento e à morte das pessoas. O fardo impossível de prestar ajuda com os mantimentos esgotados, ao mesmo tempo em que eles próprios enfrentam as mesmas condições de risco de vida. Não existe modo de cumprirem a sua missão em tais circunstâncias. Isto não é um fracasso humanitário, é uma escolha política e um ataque deliberado à capacidade de sobrevivência de um povo, levado a cabo com impunidade”, disse Bazerolle.

 

Para a organização internacional, as autoridades de Israel devem pôr termo à punição coletiva dos palestinos e instou aos aliados de Tel Aviv a porem termo à sua cumplicidade e a deixarem de permitir a destruição de vidas palestinas.

 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, denunciou na semana passada que Gaza se tornou um campo de extermínio, onde os civis estão num ciclo interminável de morte. “Israel não cumpre com as suas obrigações como potência ocupante e o direito internacional”, apontou.

 

Em resposta, a chancelaria de Israel rejeitou qualquer escassez de ajuda humanitária em Gaza e acusou Guterres de espalhar calúnias.

 

No entanto, hoje mesmo o ministro israelense da Defesa, Israel Katz, afirmou que o país continuará bloqueando o acesso de ajuda humanitária à Gaza, declaração que surge após o Escritório para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) da ONU advertir que a situação humanitária no enclave é a pior desde o começo da guerra.

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