Primeiro-ministro da transição na Síria promete estabilidade no país
Bashir foi nomeado para o cargo pelos rebeldes que derrubaram o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad
Publicado: 10/12/2024 às 18:05

Mohammad al-Bashir/foto: Omar Haj Kadour/AFP
O novo primeiro-ministro responsável pela transição na Síria, Mohammad al-Bashir, prometeu hoje não perseguir as minorias e estabilidade e calma ao povo sírio, devastado por 13 anos de guerra civil e pelo violento regime de Bashar al-Assad. "Chegou o momento deste povo usufruir de estabilidade e de calma, de ser cuidado e de saber que o seu Governo está aqui para lhe prestar os serviços de que necessita", afirmou.
Bashir foi nomeado para o cargo pelos rebeldes que derrubaram o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad, no poder há 24 anos, numa ofensiva relâmpago de 12 dias.
Por sua vez, a Casa Branca e o Departamento de Estados Unidos expressaram que, após a fase de transição de poder após a queda de Assad, a Síria possa evoluir para um governo mais representativo e inclusivo. “Os Estados Unidos apoiam plenamente o processo de transição atualmente em curso no país. O desejo é que este processo desemboque num governo credível, inclusivo e não sectário, que vá ao encontro das exigências internacionais de transparência e de responsabilidade. O processo de transição e o novo Governo devem manter compromissos claros para respeitar plenamente os direitos de todos os sírios, de um Estado de Direito, a proteção das minorias religiosas e étnicas e facilitar o fluxo de apoio humanitário a todos que necessitem. Temos um interesse claro em fazer o que pudermos para evitar a fragmentação da Síria, a migração em massa a partir da Síria e, claro, a exportação do terrorismo e do extremismo", disse o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken.
Dentre as outras condições para o apoio norte-americano estão evitar que a Síria seja usada como base para terrorismo ou se torne uma ameaça para os seus vizinhos, além de garantir que quaisquer arsenais de armas químicas ou biológicas estejam seguros e sejam destruídos em segurança. "Os EUA irão reconhecer e apoiar plenamente um futuro governo sírio que resulte deste processo. O povo sírio irá decidir o futuro da Síria. Todas as nações devem adotar o apoio a um processo inclusivo e transparente e a abster-se de toda a ingerência externa”, afirmou Blinken, em alusão à Turquia, Irã e Rússia.
O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, também afirmou que Washington acompanha de perto a evolução política na Síria, indicando que mantém contatos com grupos de oposição, inclusive com as Forças Sírias Curdas, que controlam uma parte do território.
Kirby declarou que o objetivo é garantir a retirada segura dos curdos da cidade de Manbij, na cidade de Idlib, cercada segunda-feira (9) por grupos rebeldes sírios apoiados por Ancara.
No entanto, fontes rebeldes sírias indicaram que foi alcançado um acordo para a retirada pacífica dos curdos de Manbij. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, saudou a operação militar e a expulsão de "terroristas" de Manbij. Ancara os considera terroristas e combate-os não só no seu território, mas também na Síria.
A administração dos EUA ainda se mostra determinada em evitar que o grupo Estado Islâmico, que chegou a dominar, há uma década, vastas regiões do nordeste da Síria, volte a reconstruir ou a criar bastiões no território. As forças norte-americanas na região atacaram por isso nas últimas horas alvos do Estado Islâmico na Síria.
Para a representante diplomática da União Europeia, Kaja Kallas, a transição na Síria, se prevê difícil, alertando que o país não deve repetir cenários aterradores, como o Iraque, Líbia ou Afeganistão. "Esta transição apresenta enormes desafios para a Síria e a região. Há receios legítimos quanto à violência entre grupos religiosos, ao renascimento extremista e ao vazio político", apontou.
Um bom exemplo é mais uma vez o povo curdo, distribuído pela Síria, Iraque e Turquia, e que combate nestes territórios, onde são minoritários, pela obtenção de um território nacional próprio. Na estratégia de manter a estabilidade na Síria, os curdos serão provavelmente o elo mais fraco.
Já o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, assegurou hoje que pretende estabelecer relações com as novas autoridades sírias, caso não haja a permissão da presença iraniana no país. "Queremos ter relações com o novo regime da Síria. Mas, se este regime permitir que o Irã se restabeleça na Síria ou permitir a transferência de armas iranianas ou de qualquer outro tipo para o Hezbollah, ou nos atacar, responderemos com a força. O que aconteceu com o antigo regime também acontecerá com este", advertiu Netanyahu. A declaração ocorre após o exército israelense ter confirmado que, nos últimos dias, destruiu mais de 70% das capacidades militares estratégicas do antigo governo de Assad na Síria, incluindo depósitos de mísseis, aviões de combate, tanques e radares, para evitar que caiam nas mãos dos jihadistas.
Netanyahu manifestou ainda que Tel Aviv não possui intenção de interferir nos assuntos internos da Síria, mas que fará o que for necessário para a segurança do seu país. Entretanto, as forças israelenses negaram categoricamente relatos de um alegado avanço dos seus tanques em direção a Damasco, afirmando que as forças permanecem dentro da zona desmilitarizada no sul do país e em algumas zonas adjacentes do lado de Israel e na parte síria da fronteira.