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União Europeia, Rússia e China declaram apoio ao líder da ONU

O secretário-geral da organização foi declarado persona non grata pelo governo de Israel

Publicado em: 02/10/2024 17:30 | Atualizado em: 02/10/2024 17:38

Secretário-geral da ONU, António Guterres (foto: Bryan R. SMITH / AFP)
Secretário-geral da ONU, António Guterres (foto: Bryan R. SMITH / AFP)

Os embaixadores do Reino Unido, França, Rússia e China nas Nações Unidas (ONU) defenderam hoje António Guterres, depois do secretário-geral da organização ter sido declarado persona non grata pelo governo de Israel, enquanto os Estados Unidos ignoraram o assunto.

 

Numa reunião de emergência do Conselho de Segurança, o embaixador francês, Nicolas de Rivière, não mencionou Israel, mas destacou que Guterres tem o total apoio e confiança de França. A diplomata britânica, Barbara Woodward, também manifestou o seu apoio total e inequívoco a Guterres e a toda a Organização das Nações Unidas pelo modo como estão lidando com a crise.

 

Já o embaixador chinês, Fu Cong, reforçou o apoio resoluto da China ao secretário-geral pelo seu trabalho e se opôs às acusações infundadas que Israel levantou contra o líder da ONU. 

 

“A declaração de Israel é uma bofetada na cara não só da ONU, mas de todos nós. Apelamos a todos os membros do Conselho e à ONU para que reajam contra este ato ultrajante", acusou o embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya.

 

Enquanto isso, a embaixadora norte-americana junto da ONU, Linda Thomas-Greenfield, ignorou a questão e não fez qualquer referência ao assunto. Apenas agradeceu Guterres pelo seu discurso de hoje diante do Conselho.

 

Além disso, o Governo de Portugal instou hoje Tel Aviv a reconsiderar a decisão de anunciar o secretário-geral da ONU persona non grata, "António Guterres tem a missão indispensável para garantir o diálogo, a paz e o multilateralismo”, diz o comunicado da chancelaria portuguesa.

 

O ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, anunciou ter declarado o secretário-geral da ONU "persona non grata" no país, criticando-o por não ter condenado o ataque do Irã a Israel na noite de terça-feira (1). "Qualquer pessoa que não possa condenar inequivocamente o ataque hediondo do Irã a Israel não merece pôr os pés em solo israelense. Estamos a lidar com um secretário-geral anti-Israel, que apoia terroristas, violadores e assassinos", disse Katz.

 

Na terça-feira, Guterres condenou o alargamento do conflito no Oriente Médio com escalada após escalada e apelou a um cessar-fogo imediato após Teerã atacar Israel com mísseis. Guterres ainda reagiu às críticas de Israel e afirmou ter condenado implicitamente o regime iraniano numa declaração divulgada na noite de terça-feira. "Tal como fiz em relação ao ataque iraniano de abril, e como deveria ter sido óbvio que fiz ontem no contexto da condenação que expressei, condeno veementemente o ataque massivo com mísseis do Irã contra Israel", discursou durante a reunião de hoje do Conselho de Segurança.

 

 

 

Relatora aponta que Israel critica Gueterres por dizer a verdade 

 

A relatora especial das Nações Unidas para os territórios palestinos ocupados, Francesca Albanese, enfatizou que Israel critica Guterres porque ele fala a verdade. “Tel Aviv tem sistematicamente atacado o sistema internacional. Israel atacou a ONU, a Assembleia Geral, o Conselho dos Direitos Humanos, criticando-os por apoiarem o terrorismo e o antissemitismo, espalhando antissemitismo. Acusou o Tribunal Penal Internacional e o seu procurador. Agrediu todo e qualquer um. E não é a primeira vez que critica o secretário-geral quando este fala a verdade. Para o secretário-geral, o seu mandato será marcado por este genocídio, nos territórios palestinos”, denunciou.

 

Albanese avança que a retórica das ofensas de Israel faz parte da intenção de destruir o povo palestino, com o que está a acontecer em Gaza. "Este ano, a linguagem depreciativa, as calúnias, os rótulos que foram usados, os ataques, os ataques físicos que foram dirigidos à ONU por parte de Israel são seriamente sem precedentes. Pensemos na Agência das ONU de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio, que fornece uma tábua de salvação para milhões de pessoas na região e é uma subsidiária da Assembleia Geral, que se transformou para Tel Aviv numa espécie de manto para terroristas. E Israel destruiu ou danificou gravemente cerca de 70% das infraestruturas da agência", frisou.

 

A relatora disse que o secretário-geral da ONU tem sido muito corajoso. “Soube criticar fortemente o ataque do Hamas a Israel, a 07 de outubro de 2023, mas que, mais tarde, criticou também o excesso de força israelense usada na retaliação nos territórios palestinos. Agora, a situação é mais extrema. Israel está mais isolado na Assembleia Geral. Ainda é o aliado mais protegido dos Estados Unidos. Então, é difícil sair desse impasse. O direito internacional prevalece ainda mais no momento em que, como o Tribunal Internacional de Justiça reconheceu de forma plausível, está sendo cometido um genocídio por Israel” completou.

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