ESTADOS UNIDOS
Na ONU, EUA reconhecem profunda preocupação com as ações israelenses em Gaza
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, questionou o modo como Israel tem conduzido a guerra contra o Hamas em Gaza
Publicado em: 10/10/2024 15:36
Embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield (foto: TIMOTHY A. CLARY/AFP via Getty Images) |
Na reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir a situação humanitária na Faixa de Gaza, os Estados Unidos admitiram uma "profunda preocupação" com diversas ações do governo de Israel no enclave palestino, demonstrando uma mudança na retórica norte-americana de defesa incondicional e inequívoca a Tel Aviv no conflito que já dura um ano.
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, questionou o modo como Israel tem conduzido a sua guerra contra o Hamas em Gaza, principalmente em relação à crise humanitária, e apelou que adote medidas urgentes para mudar esse cenário. "Os EUA estão preocupados com a situação no norte de Gaza, incluindo o anúncio de Israel de uma nova ordem de evacuação para várias comunidades. Estamos particularmente preocupados que os civis palestinos não tenham para onde ir. Já há relatos devastadores das condições miseráveis na zona humanitária no sul e centro de Gaza, para onde mais de 1,5 milhões de civis deslocados fugiram. Essas condições catastróficas foram previstas meses atrás e, no entanto, ainda não foram abordadas. Isso deve mudar, e agora. Apelamos a Israel para tomar medidas urgentes para fazê-lo", afirmou a diplomata.
Thomas-Greenfield reforçou também a expectativa da Casa Branca de que os civis palestinos, incluindo aqueles evacuados do norte, tenham permissão para regressar às suas comunidades e reconstruir. "Não deve haver nenhuma mudança demográfica ou territorial na Faixa de Gaza, incluindo ações que reduzam o território do enclave. Também estamos preocupados com as ações recentes do governo israelense para limitar a entrega de mercadorias em Gaza. Quando combinadas com novos limites burocráticos impostos a bens humanitários que chegam da Jordânia e ao encerramento da maioria das passagens de fronteira, essas restrições apenas intensificaram o sofrimento em Gaza. Precisamos de menos barreiras à entrega de ajuda", criticou.
Além disso, a embaixadora norte-americana expressou profunda preocupação à proposta legislativa de Israel que pode alterar o estatuto legal da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), que pretende declará-la ilegal pelo parlamento israelense. Segundo Thomas-Greenfield, esta proposta dificulta a capacidade da UNRWA, que é considerada pelas Nações Unidas a espinha dorsal da resposta humanitária em Gaza, de se comunicar com autoridades israelenses e vai tirar privilégios concedidos a organizações e pessoal da ONU em todo o mundo.
Thomas-Greenfield ainda destacou que após um ano do ataque do Hamas ao território de Israel, desde então milhares de civis foram mortos num conflito que eles não começaram e que não podem travar, enfatizando que já passou da hora de um acordo de cessar-fogo e da libertação dos reféns.
Por outro lado, o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, acusou os EUA de ter vetado por cinco vezes a possibilidade do Conselho de Segurança tomar qualquer decisão significativa a favor do fim do conflito na Faixa de Gaza. "Cerca de 42 mil mortos, a maioria mulheres e crianças. O número de feridos e desaparecidos aproxima-se dos 100 mil. Dois milhões de pessoas deslocadas internamente. Isto é o resultado da teimosia da liderança israelense e do patrocínio dos aliados americanos de Israel, que não permitem ao Conselho de Segurança pôr fim a este círculo vicioso de violência. Como resultado, o diálogo sobre uma trégua em Gaza encontra-se num impasse profundo, ninguém mais fala sobre a libertação dos restantes reféns (...) e a própria região enfrenta uma escalada no Líbano, além da perspectiva de uma guerra direta entre Israel e o Irã. Mas os nossos colegas americanos falam como se nada tivesse acontecido", afirmou Nebenzya.
Na reunião o embaixador palestino, Riyad Mansour, denunciou que os membros do Conselho de Segurança não usam as ferramentas que têm à sua disposição para fazer com que Israel implemente a resolução que ditou um cessar-fogo em Gaza. "Porque é que vocês estão gastando o nosso tempo nestas discussões? Vocês se repetem, vocês dizem que deve haver um cessar-fogo, mas eles não os ouvem, estão a ignorá-los. Quem os impede de impor e forçar a resolução para um cessar-fogo?", denunciou, apontando para a delegação israelense no plenário.
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