DENÚNCIA
ONG denuncia o avanço das organizações criminosas na tríplice fronteira na Amazônia
Organizações criminosas exploram o fraco alcance estatal, a abundância de recursos naturais e a pobreza das comunidades locais para crescer
Por: Isabel Alvarez
Publicado em: 17/07/2024 15:09 | Atualizado em: 17/07/2024 15:10
Organizações criminosas ligadas à produção e tráfico de cocaína têm expandido ações na região amazônica conhecida como Tríplice Fronteira (Foto: Divulgação/MTur) |
A ONG International Crisis Group (ICG), divulgou nesta quarta-feira o relatório "Um problema de três fronteiras: restringindo as fronteiras criminosas da Amazônia”, que denuncia que organizações criminosas ligadas à produção e tráfico de cocaína têm expandido ações na região amazônica conhecida como Tríplice Fronteira, que engloba as áreas de fronteira do Brasil, Colômbia e Peru, na América do Sul.
O relatório destaca que existe uma diversidade de organizações criminosas, que explora o fraco alcance estatal, a abundância de recursos naturais e a pobreza das comunidades locais para crescer, diversificar e criar novos empreendimentos transfronteiriços nessas zonas da maior floresta tropical do planeta.
A ICG aponta o crescimento da produção de cocaína no Peru e a disseminação de outros esquemas, como a exploração de ouro e a extração ilegal de madeira, que atrai e coloca diversas redes criminosas em contato. "Encorajados pelo controle irregular das autoridades governamentais sobre essa vasta área, grupos criminosos brasileiros estabeleceram parcerias com facções guerrilheiras colombianas e organizações do tráfico de drogas peruano. Eles exploram uma série de empreendimentos ilegais, desde o cultivo de coca e seu processamento em cocaína até a extração de madeira, a dragagem de ouro e a pesca em áreas protegidas", afirma o documento da ONG.
A ONG também alerta que a crescente influência dos grupos criminosos tem causado um elevado número de assassinatos, muitos deles ligados a disputas por território ou à punição de populações locais que ousam resistir à invasão das suas terras por essas organizações. "Nesta parte da Amazônia, o novo senhor ilegal é o grupo brasileiro Comando Vermelho (CV), que ganhou vantagem nas batalhas com dois outros grandes grupos criminosos: o grupo local Os Crías e o Primeiro Comando da Capital (PCC), o maior e mais poderoso grupo criminoso originalmente de São Paulo, mas que agora atua em todo o Brasil", afirmou.
"As autoridades policiais acreditam que o Comando Vermelho pode estar em conluio com o grupo guerrilheiro colombiano Carolina Ramírez, que se separou das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), agora desmobilizadas", acrescentou.
Já Os Crías praticam trafico de drogas e armas, suborno de agentes públicos, agiotagem, homicídios, sendo formada por criminosos da facção Família do Norte, integrantes do PCC, do grupo colombiano Alcateia e por criminosos peruanos. O Peru, além disso, se tornou o motor da produção de cocaína na região, provocando ainda graves danos ambientais ao longo da fronteira. O relatório indica que as plantações de coca, que são cultivadas em florestas derrubadas, cresceram na província fronteiriça peruana de Mariscal Ramón Castilla, muitas vezes financiadas por investidores colombianos ou brasileiros, e a folha de coca acaba processada em laboratórios que despejam resíduos contaminados no solo e na água.
"Os grupos ilegais frequentemente reinvestem os lucros do tráfico de droga em outras atividades prejudiciais ao meio ambiente, como a extração ilegal de madeira, a dragagem e a pesca, o que lhes permite lavar a sua renda e gerar ainda mais lucro. As comunidades indígenas buscam defender os seus territórios das incursões de grupos criminosos, mas a maioria grante não ter recebido apoio do Estado ou das forças de segurança", delata a ONG.
A região onde Brasil, Colômbia e Peru se encontram fica distante de áreas populosas, numa zona de floresta, e o estudo avaliou que as autoridades dos três países precisam elaborar uma resposta em conjunto para combater a expansão dos grupos criminosos. "É essencial padronizar a legislação sobre crimes ambientais entre os países e utilizar ferramentas tecnológicas, como imagens de satélite, para detectar atividades ilegais, incluindo a operação de plantações de coca e projetos de dragagem de rios para extrair ouro ilícito", diz a ICG.
A ONG insta os órgãos judiciários e policiais dos três países a organizarem projetos transfronteiriços para fazer cumprir as leis contra a lavagem de dinheiro e o tráfico de narcóticos, madeira, ouro e mercúrio, a ouvirem a população local e a realizarem ações sociais e econômicas para evitar que os moradores das áreas sejam aliciados pelo crime.
A ICG é uma ONG que conta com amplo reconhecimento internacional, sendo considerada uma conceituada fonte de informação para governos e instituições, e que trabalha ativamente pela paz e resolução de conflitos. É uma das principais fontes independentes e imparciais de análise e assessoria sobre prevenção e resolução de conflitos armados e atua em mais de sessenta países, prestando serviço para a Organização das Nações Unidas, a União Europeia, Banco Mundial entre outras instituições.
Mais notícias
Mais lidas
ÚLTIMAS