GUERRA

Reconstrução de Gaza pode demorar até 2040, diz a ONU

Cálculo se restringe na reconstrução apenas das casas destruídas, sem reparar as danificadas

Publicado em: 03/05/2024 15:41

Crianças palestinas andam de bicicleta por uma rua devastada pelo bombardeio israelense na Cidade de Gaza (Foto: AFP)
Crianças palestinas andam de bicicleta por uma rua devastada pelo bombardeio israelense na Cidade de Gaza (Foto: AFP)
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou um relatório, no qual calculou que se a guerra na Faixa de Gaza terminasse hoje, onde já foi destruída mais de 370 mil casas, as obras de reparação demorariam pelo menos até 2040. No entanto, o cálculo do documento se restringe na reconstrução apenas das casas destruídas, mas sem reparar as danificadas.

O novo relatório do PNUD e da Comissão Econômica e Social para a Ásia Ocidental descreve como o conflito devastou a economia dos territórios palestinos e antecipa os impactos provocados pela guerra. “Cada dia adicional desta guerra é um custo enorme e crescente para os habitantes de Gaza e todos os palestinos, agora a médio e longo prazo", diz Achim Steiner, administrador do PNUD. 

Steiner afirmou que os novos dados alertam para o fato de o sofrimento em Gaza não terminar quando a guerra acabar. "Os níveis sem precedentes de perdas humanas, a destruição de capital e o aumento acentuado da pobreza num período de tempo tão curto precipitarão uma grave crise de desenvolvimento que ameaça o futuro das próximas gerações", afirmou.

De acordo com o documento, o Produto Interno Bruto (PIB) nos territórios palestinos, que incluí Gaza e a Cisjordânia, caiu 26,9% (cerca de 6,6 bilhões de euros) em comparação com dados recolhidos em 2023, antes do início da guerra.  Se a guerra continuar, a perda pode atingir 29% em julho, o equivalente a 7,6 bilhões de dólares, segundo o mesmo relatório. Depois dos confrontos anteriores entre Israel e o Hamas, as habitações foram reconstruídas a um ritmo de 992 prédios por ano. Mas, o balanço deste novo relatório também é feito no pressuposto de que Israel permita a entrada de materiais de construção numa quantidade cinco vezes superior à que se verificava antes de 2023.  
 
Também segundo um estudo em conjunto do Banco Mundial (BM), ONU e União Europeia (UE), a guerra provocou prejuízos em infraestruturas críticas estimados em quase 20 bilhões de dólares.  O montante corresponde a 97% do PIB de todos os territórios palestinos ocupados. “A destruição de habitações representa a maior parte das infraestruturas críticas destruídas à frente de equipamentos de saúde, educação, água e eletricidade, sendo a restante relativa a estabelecimentos comerciais e industriais”, indica o documento.

Mais de um milhão de pessoas ficaram sem abrigo, dos 2,3 milhões de habitantes de  Gaza antes do início do conflito, o dobro da estimativa anterior, publicada em meados de dezembro. E mais de metade da população passou a enfrentar a ameaça da fome, enquanto a totalidade ficou subnutrida ou em situação de grave insegurança alimentar. "O número mais elevado alguma vez registrado pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo”, revela as Nações Unidas.
 
Quanto aos equipamentos de saúde, 85% foram destruídos ou danificados, contra 60% no final de 2023, e os que ainda funcionam quase não têm água nem eletricidade para tratar doentes ou feridos. O sistema de água corrente e de saneamento funcionava apenas com 5% da sua capacidade desde o início de outubro e o sistema educativo de Gaza entrou em colapso total, com todas as crianças do território fora da escola. Apesar de metade da rede rodoviária tenha sido destruída, em meados de dezembro, o valor já subiu agora para quase 95% da rede rodoviária primária, enquanto a rede de telecomunicações está seriamente afetada.
 
O relatório ainda identifica as ações prioritárias para iniciar a reconstrução, começando com o aumento da ajuda humanitária e da produção de alimentos, o fornecimento de abrigos em grande escala e a retomada de serviços essenciais.
 
Além disso, a agência da ONU para os refugiados palestinos alertou que a guerra deixou, em cerca de seis meses, quase 25 milhões de toneladas de detritos e armas por explodir, cuja limpeza levará anos.
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