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Argentina: veja os principais desafios políticos e econômicos de Javier Milei

Javier Milei, presidente eleito, promete fim da decadência no país, mas terá que enfrentar inflação de 142% e falta de apoio interno
Por: AFP

Publicado em: 20/11/2023 07:30 | Atualizado em: 20/11/2023 14:25

Há mais: cerca de 40% da população vivendo na pobreza, em um país em que a taxa de desemprego é de 6,2% (Créditos: LUIS ROBAYO / AFP)
Há mais: cerca de 40% da população vivendo na pobreza, em um país em que a taxa de desemprego é de 6,2% (Créditos: LUIS ROBAYO / AFP)

Entre gritos de "liberdade" e pedidos para acabar com a classe política, o ultraliberal antissistema Javier Milei foi eleito presidente da Argentina com a promessa de dolarizar e economia e deixar para trás a severa crise que abala o país.

 

Mas ele terá o desafio de governar com minoria no Congresso e um amplo setor da sociedade já mobilizado contra seu mandato.


Que dólares?

 

A "terapia de choque" prometida por Milei para equilibrar as contas inclui privatizar empresas estatais e cortar 15% dos gastos públicos.

 

Isto acalmaria o Fundo Monetário Internacional (FMI), ao qual o país se esforça para pagar um empréstimo de 44 bilhões de dólares, concedido em 2018, durante o governo do então presidente Mauricio Macri.

 

Milei defende ainda acabar com subsídios aos transportes, energia e água, liberar os preços e eliminar os impostos de exportação.

 

A peça fundamental de seu projeto é a dolarização da economia, com o objetivo de reduzir a inflação (atualmente de 143% em termos anuais) com uma moeda estável.

 

"O programa de governo de Milei exige reformas estruturais importantes, especialmente se ele pretende cumprir a promessa de dolarizar a economia e eliminar o Banco Central", disse Jimena Blanco, analista da empresa Global Risk Insight.

 

 

 

"Primeiro, no entanto, exige dólares que atualmente o Banco Central não possui, o que significa que a probabilidade de uma dolarização imediata permanece remota", acrescentou.

 

Milei afirma que o projeto será executado com os dólares que os argentinos guardam há vários anos em casa.

 

O principal conselheiro econômico do ultradireitista, Emilio Ocampo, afirmou em uma palestra em agosto que a dolarização "é a alternativa com menor probabilidade de fracasso".

 

"Nossa dependência do populismo nos levou a não ter a capacidade de ter uma moeda estável (...) o que significa que precisamos de uma reforma monetária dura", acrescentou.

 

Pressão social

 

A Argentina, historicamente orgulhosa de sua ampla classe média, tem uma cultura enraizada de ajudas sociais, com sindicatos e organizações influentes.

 

Além dos movimentos tradicionais, agora há "vários grupos anti-Milei que não existiam antes de 13 de agosto", explica à AFP Iván Schuliaquer, cientista político da Universidade Nacional de San Martín, em alusão às eleições primárias, quando o libertário surpreendeu ao ser o candidato mais votado.

 

Milei assumirá o governo com "uma resistência já ativa", acrescentou, em referência a organizações de defesa dos direitos humanos, feministas, coletivos LGBT, ambientalistas e até mesmo clubes de futebol, que consideram o presidente eleito uma ameaça não apenas para sua subsistência, mas também para a democracia.

 

Gabriel Vommaro, cientista político da mesma universidade, teme as consequências do cenário em um país onde quatro em cada 10 argentinos são pobres e metade da população recebe algum tipo de ajuda ou subsídio.

 

"Milei traz consigo uma situação de confronto político-social que você pode antecipar em um contexto de ajuste econômico, sobretudo do gasto público e dos funcionários públicos", disse.

 

"Com, talvez, um caminho repressivo que não sabemos como pode terminar", completa.

 

Em busca de acordos políticos

 

O partido de Javier Milei, o novato A Liberdade Avança, entrou no Parlamento em 2021 com três deputados e agora é a terceira força (38 de 257 parlamentares) em uma Câmara dos Deputados em que nenhum grupo tem maioria absoluta, mas na qual o bloco peronista (centro-esquerda) continua sendo dominante (108).

 

No Senado, A Liberdade Avança tem sete de 72 senadores

 

Para vencer, Milei precisou do apoio da coalizão de centro-direita Juntos pela Mudança, liderada por Patricia Bullrich (terceira colocada no primeiro turno da eleição presidencial) e pelo ex-presidente Macri, que é a segunda força na Câmara, com 93 deputados.

 

A aliança, no entanto, abalou a unidade da coalizão de centro-direita, que se dividiu entre apoiar ou não Milei no segundo turno.

 

Milei também não contará com o apoio dos governadores, crucial em uma república federal.

 

"Por isto, o presidente eleito terá que fazer concessões que não pretendia fazer antes das primárias", disse Schuliaquer. 


Comércio e ideologia

 

O presidente eleito terá que reconstruir pontes com parceiros cruciais, que criticou muito, em particular Brasil e China, os dois principais sócios comerciais da Argentina.

 

"Não faço pactos com comunistas. Sou um defensor da paz, da liberdade e da democracia", disse Milei em uma entrevista ao apresentador americano Carlson Tucker em setembro.

 

Recentemente, ele explicou que isto não impede que os empresários negociem diretamente com os países, sem a intervenção do Estado.

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