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Biden anuncia aumento no apoio financeiro contra Covid-19 e mudanças climáticas

Publicado em: 22/09/2021 08:29

 (Foto: Eduardo Munoz/AFP)
Foto: Eduardo Munoz/AFP
Em 33 minutos, o presidente norte-americano, Joe Biden, utilizou o seu primeiro discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, para defender a diplomacia, afastar-se do militarismo e enviar um recado à China. “Não buscamos uma nova Guerra Fria ou um mundo dividido em blocos rígidos”, afirmou o democrata.

“O poder militar dos EUA deve ser nossa ferramenta de último recurso, não o primeiro, e não deve ser usado como uma resposta a todo problema que vemos ao redor do mundo”, acrescentou. Biden também lembrou que “o autoritarismo do mundo pode buscar proclamar o fim da era da democracia, mas ele está errado”. “A verdade é: o mundo democrático está em toda a parte”, assegurou. Ele incitou a cooperação global “durante uma década decisiva para o planeta”.

Horas depois, o presidente chinês, Xi Jinping, falou virtualmente às Nações Unidas e fez uma menção velada aos Estados Unidos. “A democracia não é um direito especial reservado a um país específico, mas um direito para o gozo dos povos de todas as nações”, declarou, em pronunciamento gravado transmitido no Salão da Assembleia Geral. “Nós temos de defender a paz, o desenvolvimento, a justiça, a democracia e a liberdade, que são valores comuns da humanidade, e rejeitamos a prática de formar pequenos círculos”, emendou Xi.

A aposta no multilateralismo coincide com uma crise entre aliados provocada pela venda de submarinos de propulsão nuclear norte-americanos à Austrália e ao Reino Unido, sem o conhecimento da França (leia abaixo). Biden tratou de reforçar a amizade com os europeus e afastar qualquer mal-estar. “Nós renovamos nosso compromisso com a União Europeia, um parceiro fundamental na abordagem de toda a gama de questões significativas que nosso mundo enfrenta hoje”, declarou.

Diretora do Centro sobre Cooperação Internacional da Universidade de Nova York e especialista em Nações Unidas, Sarah Cliffe explicou ao Correio que Biden procurou se distanciar da política unilateralista adotada pelo antecessor, o republicano Donald Trump. “O presidente Biden indicou, claramente, que, apesar do desapontamento entre aliados dos EUA com a maneira como a retirada do Afeganistão foi planejada e com o acordo para a compra de submarinos firmado junto à Austrália e ao Reino Unido, pretende seguir uma abordagem cooperativa.

“Mais importante, ele apoiou essas palavras com algumas ações práticas — ao aumentar os compromissos com a vacina contra a covid-19 e ao dobrar o financiamento climático”, comentou Cliffe.

Financiamento
“Em abril, anunciei que os EUA dobrarão o financiamento público internacional para ajudar as nações em desenvolvimento a enfrentarem a crise climática. Hoje, tenho o orgulho de anunciar que trabalharemos com o Congresso para dobrar esse número novamente, incluindo para esforços de adaptação”, afirmou o presidente norte-americano em seu pronunciamento.

Como não poderia deixar de ser, além das mudanças climáticas, a pandemia da covid-19 foi um dos temas centrais do discurso de Biden, que subiu à tribuna da ONU logo depois de Jair Bolsonaro. O democrata ressaltou que “bombas e balas não podem defender contra a covid-19” e instou o mundo a adotar uma ação coletiva baseada na ciência e a demonstrar vontade política.

“Precisamos agir, agora, para conseguir doses (de vacinas) nos braços o mais rápido possível e expandir acesso a oxigênio, testes e tratamentos para salvar vidas em todo o mundo.”

Cliffe disse que se impressionou com o fato de Biden ter colocado “alguma ação sobre a mesa”, uma demonstração prática somada à retórica em prol da união. “Ele anunciou mais vacinas para os países emergentes e revelou ter dobrado o financiamento climático. Biden falou sobre garantir que a competição responsável entre os países não se transforme em conflito e se comprometeu a engajar-se diplomaticamente com o Irã, a Coreia do Norte, os palestinos e os israelenses”, avaliou.

A estudiosa da Universidade de Nova York também destacou os apelos de Biden pelo combate à desigualdade e à corrupção e em defesa dos direitos humanos. “Todas as coisas com que pessoas comuns se importam. Isso é crucial para conectar as pessoas à ONU, a fim de mostrar que essas conversas podem fazer a diferença na vida dos cidadãos”, comentou.

» Trechos
 
Pandemia da covid-19
» “Para combater essa pandemia, precisamos de uma ação coletiva de ciência e vontade política. Precisamos agir, agora, para conseguir doses (de vacinas) nos braços o mais rápido possível e expandir acesso a oxigênio, testes e tratamentos para salvar vidas em todo o mundo.”

Vacinas
» “Os Estados Unidos já investiram mais de US$ 15 bilhões na resposta global à covid. Enviamos mais de 160 milhões de doses da vacina para outros países. Isso inclui 130 milhões de doses de nosso próprio suprimento e as primeiras parcelas do meio bilhão de doses da vacina da Pfizer que compramos para doá-las por meio do (consórcio) Covax.

Mudanças climáticas
» “Os eventos climáticos extremos que temos visto em todas as partes do mundo — e todos vocês sabem e sentem isso — representam o que o secretário-geral (António Guterres) chamou corretamente de ‘código vermelho para a humanidade’. Os cientistas e especialistas nos dizem que estamos nos aproximando rapidamente de um ‘ponto sem retorno’, no sentido literal.”

» “Em abril, eu anunciei a nova meta ambiciosa dos EUA sob o Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases do efeito estufa dos Estados Unidos em 50% a 52% abaixo dos níveis de 2005 até 2030, enquanto trabalhamos para alcançar uma economia de energia limpa, com rede zero de emissões, até 2050.

» “Em abril, anunciei que os EUA dobrarão o financiamento público internacional para ajudar as nações em desenvolvimento a enfrentarem a crise climática. Hoje, tenho o orgulho de anunciar que trabalharemos com o Congresso para dobrar esse número novamente, incluindo para esforços de adaptação.”

Multilateralismo
» “Para ajudar o nosso próprio povo, devemos nos envolver profundamente com o resto do mundo. Para garantir nosso próprio futuro, devemos trabalhar em conjunto com outros parceiros — nossos parceiros — rumo a um futuro compartilhado.”

» “Nós renovamos nosso compromisso com a União Europeia, um parceiro fundamental na abordagem de toda a gama de questões significativas que nosso mundo enfrenta hoje.”

Militarismo
» “Não buscamos uma nova Guerra Fria ou um mundo dividido em blocos rígidos.”

Irã
» “Os Estados Unidos ermanecem comprometidos em prevenir que o Irã obtenha uma arma nuclear. Estamos trabalhando com o P5+1 (EUA, China, Rússia, Reino Unido, França e Alemanha) para envolver o Irã diplomaticamente e buscar um retorno ao JCPOA (acordo nuclear). Estamos preparados para retornar ao cumprimento total se o Irã fizer o mesmo.”

Coreia do Norte
» “Nós buscamos uma diplomacia séria e sustentada para buscar a completa desnuclearização da Península Coreana. Nós buscamos um progresso concreto em direção a um plano disponível com compromissos tangíveis que aumentariam a estabilidade na Península e na região.”

Democracia
» “O autoritarismo do mundo pode buscar proclamar o fim da era da democracia, mas ele está errado. A verdade é: o mundo democrático está em toda a parte.”

Curtas
 
Irã descarta busca por armas nucleares
O novo presidente iraniano, Ebrahim Raissi (foto), assegurou, ontem, que seu país não busca fabricar a bomba atômica. “Armas nucleares não têm lugar em nossa doutrina de defesa e em nossa política de dissuasão”, declarou, em discurso gravado transmitido durante a Assembleia Geral da ONU. Ele não poupou ataques aos EUA.

“Este ano, dois fatos marcaram a história. Em 6 de janeiro, quando o Congresso americano foi atacado pelo povo, e em agosto, quando o povo do Afeganistão derrubou aviões americanos. Do Capitólio a Cabul, enviou-se ao mundo uma mensagem clara: o sistema hegemônico dos Estados Unidos não tem nenhuma credibilidade, nem no interior, nem no exterior do país”, assegurou Raissi.

Fim das térmicas a carvão no exterior
O presidente da China, Xi Jinping, afirmou que seu país deixará de construir térmicas a carvão no exterior. O anúncio marca novo compromisso com o clima e uma mudança na política de Pequim. “A China vai reforçar o apoio a outros países em desenvolvimento para favorecer as energias verdes ou de baixas emissões, e não construirá usinas a carvão no exterior”, disse Xi. As ONGs pediram a Pequim que parasse de financiar este tipo de projeto no exterior. Xi Jinping também reiterou o compromisso chinês de alcançar a neutralidade de carbono “antes de 2060” e de chegar ao pico das emissões até 2030.

Turquia vai ratificar o Acordo de Paris
Em discurso a partir da tribuna da ONU, em Nova York, o presidente Recep Tayyip Erdogan anunciou que a Turquia ratificará o Acordo de Paris contra as mudanças climáticas em outubro. “Apresentaremos o Acordo de Paris sobre o clima no Parlamento para a ratificação no próximo mês”, declarou.
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