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O racismo como causador da evasão escolar

Publicado em: 26/07/2021 09:00

Foto: Arquivo Agência Brasil. (Foto: Arquivo Agência Brasil.)
Foto: Arquivo Agência Brasil. (Foto: Arquivo Agência Brasil.)
A pandemia da Covid-19 vem impactando a sociedade diariamente. Uma das dificuldades impostas é a diminuição do acesso à educação de crianças e adolescentes, onde tornou-se o quadro mais crítico. De acordo com dados de um levantamento de 2020 feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em setembro do ano passado 6,4 milhões de estudantes (13,9% do total) não tiveram acesso às atividades escolares. Ainda nessa mesma pesquisa, a PNAD, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, também do IBGE, mostra que estudantes negros e indígenas sem atividade escolar representam o triplo de estudantes sem escola: 4,3 milhões de crianças e adolescentes negros e indígenas da rede pública e 1,5 milhão de pessoas brancas destes segmentos.

Com a necessidade de uma renda extra, a população negra sofre com o ingresso forçado ao mercado de trabalho, fazendo com que jovens abandonem o ambiente escolar para ajudar a família a garantir uma renda básica para sobreviver. Silas Veloso, Cientista Social e mestrando em Educação pela UFPE, enfatiza que é  importante a sociedade ter consciência de que situações como a evasão escolar e exploração no mercado de trabalho são reflexos do racismo, que é estrutural e sistêmico, no sentido de ser uma problemática que reverbera em todos os espaços, inclusive no campo educacional. Atuando no sistema público de ensino, Silas explica que as desvantagens históricas sofridas pela população negra deixaram marcas que perduram até hoje. 

“O analfabetismo é um dos problemas, bem como o problema da evasão escolar e a falta de participação dos estudantes no que se constrói na escola. Esses problemas, no meu ponto de vista, de quem também é professor de escola pública, estão relacionados com os contextos que esses estudantes vivem. Quando falamos de uma população negra na educação, estamos falando de um grupo que também tem uma classe, em sua grande maioria, que é resultado desses processos históricos que nos trouxeram até aqui, como a escravização no Brasil. Não é dizermos que somos só isso, mas é importante olhar para essa questão”, pontuou. 

O abismo entre as oportunidades educativas e a população negra cresce a passos largos nesse período pandêmico. Contudo, educadores tentam reverter essa realidade com atividades escolares de inclusão, promoção e valorização da cultura, conhecimento e saberes dos povos negros. Desnaturalizar a exclusão escolar de crianças e adolescentes negros do sistema de ensino é um dos passos para o início de uma transformação da escola e da sua afirmação como espaço de combate ao racismo.

Para valorizar o corpo e a cultura negra, o cientista social promove atividades em sala de aula para que os estudantes possam conhecer mais sobre negritude e desmistificar temáticas tratadas de maneira preconceituosa por falta de conhecimento. “Um dos caminhos de enfrentamento do racismo é politizar os debates e os conteúdos que estão sendo trabalhados na escola e não esvaziar de sentidos como geralmente é feito. Isso pode ser feito dentro da filosofia, dentro da sociologia, da matemática…”

A especialista em gestão educacional e tecnologias digitais aplicadas à educação, Gisele Braga, relatou que costuma trabalhar com a autora Nilma Lima Gomes para explicar aos estudantes questões de identidade, trazendo fatos históricos e antropológicos para sala de aula. “O que era símbolo de identidade passou a ser símbolo de vergonha. Esse é um dos principais motivos que negros não gostam de ser identificados como tal. Trago autores negro para emponderar os estudantes. E na escola, além de trabalhar com o conhecimento, devemos trabalhar a esperança.”
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