Economia

No Recife, endividamento das famílias sobe para 81,5% em agosto

Após três meses de queda, a inadimplência volta a subir na capital com um aumento de 2,3 pontos percentuais

Publicado em: 16/09/2024 20:39

Na pesquisa, o cartão de crédito permanece como o principal tipo de dívida, sendo mencionado por 95,3% das famílias endividadas (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Na pesquisa, o cartão de crédito permanece como o principal tipo de dívida, sendo mencionado por 95,3% das famílias endividadas (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
81,5% das famílias que moram no Recife estão endividadas. Esse dado foi revelado nesta segunda-feira (16) pelo recorte local da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE).
 
O levantamento registrou o crescimento de 2,3 pontos percentuais no número de endividados em agosto, em relação ao mês anterior. Nacionalmente, os dados são divulgados pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). 

Cartão de crédito

Na pesquisa, o cartão de crédito permanece como o principal tipo de dívida, sendo mencionado por 95,3% das famílias endividadas. O financiamento de carros se destaca entre as famílias de maior renda (acima de 10 salários mínimos), com 29% reportando esse tipo de dívida, enquanto para as famílias com renda até 10 salários mínimos, o percentual é de apenas 3,7%. 

O economista da Fecomércio-PE, Rafael Lima, explica que esse nível de endividamento é recorrente, principalmente pela facilidade do uso do cartão de crédito. “Muitas famílias recorrem a isso para fazer compras recorrentes, não é recomendável, mas é cultural. A utilização do cartão, mesmo sendo uma linha de crédito, as pessoas utilizam como se fosse uma renda adicional, mas não é. Tem juros, multa e atrapalha muito o orçamento das famílias”, aponta o economista.

Inadimplência alcançou 28,6% no mês

Como consequência do avanço do endividamento, a inadimplência voltou a crescer no mês de agosto, com 28,6% das famílias endividadas relatando contas em atraso, maior que os 27,4% registrados em julho. 

Já o percentual de famílias que declararam não ter condições de pagar suas dívidas subiu para 16,1%, um aumento de 0,4 ponto percentual em relação ao mês anterior. 

Rafael Lima destaca que o mercado de trabalho atual, com a informalidade e a alta taxa de desemprego, são fatores que motivam esse aumento da inadimplência das famílias. “A taxa de desemprego subiu. Pernambuco hoje é o estado com a maior taxa de desempregados do Brasil. Quando a gente inclui isso à taxa de subutilização dessas famílias e à mão de obra, que não está no trabalho formal, aí que atrapalha mais, porque eles não têm uma renda fixa e muitas vezes a renda é muito variável. Isso atrapalha justamente o pagamento desses compromissos financeiros”, destaca. 

Uma das soluções sugeridas por Rafael Lima seria a educação financeira e linhas de crédito com juros mais baixos, além do aquecimento do mercado de trabalho ou modalidades de pagamento mais fáceis. “Podemos elencar uma iniciativa assertiva do Governo Federal que foi o programa Desenrola Brasil. A continuidade de programas assim é muito importante para restabelecer o orçamento e o consumo dessas famílias, que em algum momento entraram em uma bola de neve, que atrapalhou a vida financeira”, afirma. 

De acordo com os dados do levantamento, o cenário é mais crítico para as famílias com renda de até 10 salários mínimos, das quais 37,7% possuem contas em atraso. Entre as famílias de maior renda, esse percentual é significativamente menor, atingindo apenas 7,4%.
  
Reflexo no consumo de bens duráveis 

Essa situação reflete diretamente no consumo de bens duráveis, conta o economista. “Itens como geladeiras e fogões, que demoram mais tempo para se degradar e tem um valor agregado mais elevado. Esses produtos que são mais consumidos no cartão de crédito, sofrem essa perda de consumo porque os consumidores não têm acesso a eles pelo cartão de crédito. Eles vão ter que recorrer a outras modalidades de pagamento ou então pagar à vista, essa possibilidade não existe pelo orçamento restrito”, menciona Rafael. Ainda segundo ele, a saída seria as empresas ofertarem outras modalidades de pagamento para esses consumidores.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL