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LEVANTAMENTO

Nível de endividamento bate recorde no Brasil; mulheres são principal perfil devedor

Publicado em: 19/01/2023 16:49

Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor foi divulgada nesta quinta-feira (19) (Reprodução/Pexels)
Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor foi divulgada nesta quinta-feira (19) (Reprodução/Pexels)
Um levantamento divulgado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) nesta quinta-feira (19), revelou o perfil da maior parte dos endividados no país. De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de 2022, mulheres, jovens e com ensino médio incompleto compõem o retrato da pessoa endividada que prevalece no Brasil. No último ano, cerca de 77,9% das famílias brasileiras possuíam dívidas para pagar, número que representa o maior percentual da série histórica iniciada em 2011. Em comparação com 2021, o índice registrou uma alta de 7 pontos percentuais.
Outro número negativo também foi revelado pelo levantamento. Entre as famílias endividadas, 17,6% estão na faixa de superendividamento, maior proporção da série histórica. A cada 10 famílias com renda mais baixa, duas comprometeram mais da metade da renda mensal para o pagamento das dívidas. Já entre aqueles com maiores salários, o índice cai pela metade, o que sugere que o superendividamento está concentrado entre os mais pobres.

De acordo com o presidente da CNC, José Roberto Tadros, a pandemia reverteu a tendência de queda no endividamento que era registrada até 2019, especialmente entre os mais pobres. “O fechamento de negócios, o aumento do número de desempregados, e o avanço da inflação no pós-pandemia fizeram com que as famílias com rendas mais baixas precisassem recorrer ao crédito para manutenção do consumo de primeira necessidade. Enquanto entre as famílias de maior renda a retomada do consumo reprimido levou a maior contratação de dívidas. Esses fatores, geraram o aumento no número de endividados em 2022 no país” afirmou.

No último ano, a principal forma de endividamento foi o cartão de crédito. Nesse período, a taxa de juros média em todas as operações de crédito com pessoas físicas saltou de 41,2% para 52,1% ao ano, alta de 10,6 pontos em 2022. Se em 2012, 75,2% das dívidas eram no cartão, o ano passado terminou com 86,6%.

Para a economista Izis Ferreira, o número aponta um dado preocupante. “As pessoas com renda mais baixa estão usando o cartão de crédito para comprar alimentos e medicamentos, além de pagar contas de luz e telefone, por exemplo, para postergar o gasto para o mês seguinte ou mesmo parcelar esses valores”, observou.

Neste cenário, a inadimplência também tem aumentado no país. Em 2022 houve um crescimento de 3,7 pontos percentuais no número de famílias com dívidas atrasadas em relação a 2021: de cada 10, três atrasaram algum pagamento. Entre os inadimplentes, 43% atrasaram as dívidas por mais de três meses e 10,7% afirmaram que não terão como quitar os débitos. Esse número dobrou em relação a 2014, quando foi atingido o menor nível da série. Entre as famílias de renda menor, 32,3% não têm condições de pagar os atrasados, enquanto entre as que recebem salários maiores, esse índice fechou o ano em 13,3%.

“Em mais de dez anos, nunca as pessoas se sentiram tão endividadas. A Peic demonstra que o superendividamento é principalmente um problema para as famílias de baixa renda. Se esse endividamento diz respeito ao custo dos créditos e da inflação, um dos fatores essenciais para resolver isso é ter uma economia brasileira com juros mais civilizados, porque taxa de juros alta é sinônimo de dívidas caras, sempre”, comentou o diretor de Economia e Inovação da CNC, Guilherme Mercês.

Para ele, é importante que sejam adotadas medidas que possibilitem uma redução nos juros e na inflação, com uma nova âncora fiscal para a gestão das contas públicas. “Programas de renegociação de endividamento como os que estão sendo anunciados são fundamentais e estancam as angústias das pessoas e famílias. Mas em termos estruturais, o que vai resolver esse problema é uma taxa de juros mais baixa”, concluiu. 

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