O vice-presidente do Sindicato das Empresas de Compra, Venda e Administração de Imóveis do Distrito Federal (Secovi-DF) e CEO da Elo Imóveis, Hiram David, confirma a tendência: "Houve aumento expressivo de procura por casas de campo, em condomínio, chácaras e notória migração para cidades menores próximas aos centros urbanos. Também nas grandes cidades houve demanda por upgrade".
Robinson Silva, sócio do GRI Club, afirma que "o perfil de imóveis mais compactos é uma tendência que a gente vê no Brasil inteiro, e por diversos fatores". "O principal é a renda do brasileiro, que não cresceu nos últimos dois anos; então, as famílias ficam mais confortáveis ao pagar um financiamento de menor valor", ressalta.
Segundo Fábio Tadeu Araújo, sócio-diretor da Brain Inteligência Estratégica, o movimento de migração das capitais para municípios menores vem acontecendo há alguns anos, e se reforçou em 2020 e 2021, devido ao aumento intenso do preço dos imóveis nas grandes cidades. "Como mais de 70% do mercado imobiliário brasileiro é formado por residências de R$ 350 mil a R$ 400 mil — e o Casa Verde Amarela compõe cerca de 50% do mercado sozinho —, as grandes capitais já quase não têm mais oferta desses imóveis e esse mercado está indo para as cidades vizinhas", detalha.
"O aumento na procura e na venda é reflexo da alta dos custos de construção e de terrenos, que resulta na elevação dos preços de venda dos imóveis", concorda Bruno Sindona, CEO da Sindona, desenvolvedora de empreendimentos populares. "Neste momento de alta de aluguel, as pessoas mudam e buscam moradia onde conseguem pagar. As classes C e D estão sendo expulsas dos grandes centros", ressalta. "A renda não acompanhou os aumentos de preço dos imóveis nem dos custos de construção. Os imóveis têm se valorizado cerca de 6% ao ano, mas os custos de construção têm subido ainda mais, perto de 20%", explica.
Pandemia
Robinson Silva, do GRI Club, acredita que as mudanças foram bastante influenciadas pela pandemia da covid-19. "A maioria das empresas levou o trabalho de home office muito a sério, e muitas pessoas acabaram saindo das zonas centrais das cidades e procurando regiões um pouco mais afastadas, pela qualidade de vida um pouco melhor", detalha.
Para ele, no entanto, o deslocamento de pessoas para locais mais afastados não deve continuar no mesmo ritmo. "Essa ação aconteceu, teve um momento, mas deve se equilibrar à medida que as empresas comecem a voltar ao trabalho presencial. Então, a distância pode impactar algumas pessoas que fizeram a opção de morar um pouco mais afastadas", diz.
A opinião do CEO da Elo Imóveis difere. "Essa mudança é definitiva. Os recursos tecnológicos estão viabilizando essa nova forma de viver. Basta perceber o crescimento das empresas on-line, dos serviços virtuais e a perda de valor das empresas de varejo. A população está mais voltada para melhor qualidade de vida, e a casa é o atual maior objeto de desejo", pontua Hiram David.
"O conforto de maior convívio em família, economia de tempo de deslocamento, uma vida mais tranquila e a possibilidade de residir em local distante da sede da empresa resultou na procura por imóveis mais confortáveis, maiores, possivelmente com um quarto a mais ou escritório, em locais mais aprazíveis que os centros urbanos. A migração foi uma consequência inteligente", finaliza.