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PREJUÍZO

Sem São João, economia de Pernambuco deve registrar perda milionária

Publicado em: 22/06/2021 12:11

Em 2019, último ano com comemorações antes da pandemia, festejo junino movimentou R$ 434 milhões no estado (Samuel Calado/Arquivo DP)
Em 2019, último ano com comemorações antes da pandemia, festejo junino movimentou R$ 434 milhões no estado (Samuel Calado/Arquivo DP)
Palco de um dos maiores festejos juninos do país, Pernambuco enfrentará mais um ano de prejuízo econômico por causa do cancelamento do São João. Com o impedimento da realização da festa em decorrência da pandemia da Covid-19, o estado deixará de movimentar cerca de R$ 434 milhões. O cálculo foi realizado com base no montante que circulou em Pernambuco em 2019, último ano das comemorações antes da crise sanitária.

Naquele ano, mais de 513 mil turistas circularam por diversas cidades do estado que possuem tradição no festejo junino, como Gravatá, Arcoverde e Petrolina. Em 2019, pequenos, médios e grandes empresários chegaram a celebrar um aumento de 25% no faturamento em relação a 2018. 

Em Caruaru, a expectativa para o período é negativa. Sem a festa, a estimativa é de que o prejuízo seja de R$ 200 milhões, de acordo com a prefeitura. “Perdemos a data de Santo Antônio e Dia dos Namorados com o fechamento do comércio em todas as cidades da região. Também não tivemos as festas do Pátio do Forró e as comemorações tradicionais como a queima da fogueira estão proibidas. É uma queda das vendas muito grande que não tem como recuperar”, explicou o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caruaru, Adjar Soares.

Adjar destaca que o baixo movimento de turistas impacta o desempenho do setor. “Caruaru é um polo que atende mais de 50 cidades, mas como também não tá havendo festividade nos outros municípios, a queda do movimento é enorme e impacta muito”, avaliou. Apesar da provável retração nas vendas, ele observa que neste ano o impacto deverá ser menor do que em 2020. “Ainda não temos como computar o número das vendas, mas no ano passado passamos a mesma situação só que ficamos fechados o mês todo. Agora, as lojas estão abertas desde o dia 15, então deve ser melhor do que o ano passado”.

Para os empreendedores que dependem do São João ou registram alta das vendas durante o período, a internet tem sido uma alternativa para turbinar as vendas e diminuir o prejuízo. “As lojas  estão fazendo promoções e se dedicando mais às vendas online pelo Whatsapp, por exemplo. Com as restrições, aumentam esse movimento nas redes sociais”, avaliou o presidente da CDL Caruaru.

O economista Horácio Forte, da Fundação Dom Cabral, explica a importância de criar um ambiente junino no mercado, mesmo que não seja possível a realização das festas. “Os hábitos e as tradições merecem ser mantidos. É importante fomentar campanhas mercadológicas que sigam o calendário festivo. Dá pra ir de junho até agosto, por exemplo, mês em que é comemorado o Dia do São Caetano. Ou seja, em vez de 30 dias, trabalhe o tema em 90”, sugeriu. 

Gerente de marketing do Caruaru Shopping, Wallace Carvalho comenta que parte dos consumidores se preparou e optou por adiantar as compras. “As ferramentas online foram muito bem aceitas e o nível de compras cresceu 36%, incluindo itens de São João. Nós observamos que uma parte dos clientes se preparou e comprou com antecedência”. 

No entanto, como as vendas online não costumam demandar a presença de vendedores, a cidade também deve sofrer com a diminuição de contratações temporárias. De acordo com dados da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (Fiepe), antes da pandemia, cerca de 12 mil postos de trabalho diretos e indiretos eram criados em Caruaru. “Alguns lojistas que contratavam 15% a mais de pessoal para trabalhar nesse período, acabou contratando cerca de 3%, já que está sendo suprida por funcionários fixos”, observou Wallace.

Apesar da diminuição drástica no número de turistas, a esperança é de que a população local vá às compras e aqueça a economia da cidade. “Esperamos um aumento de 8% em comparação com 2019, último ano antes da pandemia. Especialmente por conta da demanda represada nesse mês”, concluiu o gerente.

Com a vacinação da população, há chances de que o São João volte a ser realizado de forma tradicional no próximo ano. Para o economista, no entanto, o processo de recuperação financeira só deve acontecer em dois ou três anos. “Acredito que o retorno econômico para esse segmento será em ‘U’, e não em ‘V’. Isso significa que será um processo mais lento, porém constante e progressivo”, concluiu.

Já para o presidente da CDL Caruaru, a expectativa é que o volume de vendas se recupere ainda este ano. “Se imaginarmos que em setembro toda população adulta já tenha tomado pelo menos uma dose da vacina, a expectativa é que 2021 seja um ano muito bom. Esperamos um grande movimento no final de ano em datas como o Dia das Crianças e o Natal. Para o São João do ano que vem, se tudo der certo, o cenário deverá estar muito melhor”, afirmou. 
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