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Vendas de veículos se reaquecem com flexibilização em Pernambuco

Publicado em: 31/07/2020 17:34 | Atualizado em: 31/07/2020 17:36

Vendas foram acima das expectativas na Italiana por conta de demanda reprimida.  (Foto: Armando Artoni/Divulgação. 
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Vendas foram acima das expectativas na Italiana por conta de demanda reprimida. (Foto: Armando Artoni/Divulgação. )

No início da pandemia do coronavírus, as vendas de veículos sofreram um impacto negativo forte em Pernambuco. Porém, mesmo em um cenário de instabilidade econômica intensificada pelos efeitos do isolamento social, com as atividades econômicas registrando reflexos negativos, além da intenção de consumo dos pernambucanos estar em queda acumulada, o setor já vê um movimento de recuperação no estado. As vendas de veículos voltaram a tomar fôlego, entre os novos e, principalmente, entre os seminovos. Porém, a jornada ainda é longa para alcançar o patamar de antes da pandemia.

Segundo a Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, os números de maio apresentaram um desempenho negativo em relação ao mesmo mês do ano passado, com recuo de 43,8% nas vendas de veículos, motocicletas, partes e peças em Pernambuco. Porém, o resultado não reflete a sensação do setor no estado. "Essa queda acentuada tem uma explicação. É bom lembrar que esse volume conta com as vendas dos produtos exportados, do que vende aqui e é enviado para outro lugar, e isso teve uma queda realmente muito grande", explica Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE. 

Mas o comportamento do consumidor pernambucano segue outra tendência. "Com o isolamento social, as pessoas estão buscando o transporte de uma maneira individual como forma de evitar a exposição ao contágio do coronavírus, ainda existe um comportamento conservador em relação à infecção para não usar o transporte coletivo. Além disso, com o desemprego alto, muita gente acaba comprando um carro para começar a trabalhar em transporte de aplicativo", acrescenta. 

Para Marcony Mendonça, diretor geral do Grupo Italiana, o mercado de automóveis surpreendeu. "Havia uma demanda reprimida por conta dos três meses fechados, então as vendas foram acima das expectativas na reabertura das lojas. Mesmo assim, ainda não atingiu o patamar anterior. A Italiana vendia em torno de 500 carros por mês antes da pandemia e agora aprevisão é cair para 400. A procura maior é por seminovos. E, de toda forma, não sabemos o que vai acontecer nos próximos 30 a 60 dias, pode ser que caia", pontua. Inclusive, os planos de investimentos do grupo não foram paralisados durante a pandemia e uma nova loja da Jeep Italiana foi inagurada nesta semana no Pina. "A loja estava 90% pronta antes da pandemia eteve que parar a construção e agora inauguramos. A expectativa é dobrar as vendas do que tínhamos com a unidade da Caxangá porque vamos estar mais próximos do público-alvo", acrescenta. 

O mercado de seminovos também está se reaquecendo. "O valor é um pouco menor e o carro novo geralmente desvaloriza muito e até a própria revenda é difícil. O seminovo, mesmo que for repassar, não vai desvalorizar tanto", diz Rafael Ramos. Na JBS Veículos, de seminovos, as vendas tiveram uma queda brusca em abril, de 60%. Porém, nos meses seguintes, os números já passaram amostrar uma recuperação."A gente acredita que a retomada não está demorando tanto quanto algumas análises previam, não está sendo tão tardia. De abril para maio, houve um aumento de 90% nas vendas, mesmo percentual alcançado na passagem de maio para junho. E o ritmo de vendas nesse mês esta igual", afirma Saulo Galvão, sócio da JBS Veículos. "A gente vende seminovo com pouco tempo de uso e os clientes fazem a conta quando vão comparar com o preço do zero. Nosso estoque baixou, mas não zerou porque, diferente de outras lojas que pararam de comprar, nós continuamos", complementa. 


Cenário de instabilidade exige cuidado na hora de comprar

Apesar do reaquecimento das vendas de veículos, o momento exige cautela para quem deseja adquirir um automóvel, seja novo ou seminovo. Mesmo com a flexibilização das atividades econômicas, o cenário ainda é de instabilidade em Pernambuco. A taxa de desemprego segue em alta e registrou aumento em junho, chegando a 12,6%, contra 10,5% em maio, segundo dados da pesquisa Pnad Covid19 do IBGE. O resultado reflete em uma queda na renda dos pernambucanos e na intenção de consumo, que caiu pelo quarto mês consecutivo, recuando 7,4% em junho em relação ao mês anterior, segundo o índice de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) Pernambucanas. Os reflexos também chegam a quem está empregado, que não tem a certeza de estabilidade no emprego. E é preciso levar em consideração que o veículo é um bem com alto valor agregado e que exige um comprometimento do rendimento. 

Rafael Ramos, economista da Fecomércio-PE, afirma que o carro não é um investimento barato e que até a própria parcela pode comprometer boa parte da renda familiar. "O mercado de trabalho está muito instável, com corte de vagas acentuado. As pessoas entrando no consumo de valor alto, como um carro, até que ponto ele pode comprometer a renda e ser abalada em um momento de incerteza. Para o empresário também é uma demanda muito fria e pode não dar faturamento como esperava porque as pessoas precisam manter o pagamento. Se é um momento de incerteza no emprego, sugiro não fazer o investimento. E se a taxa de desemprego vai durar mais um pouco também não é um incentivo", diz.

Ele ressalta que, por outro lado, as pessoas estão desempregadas e usando a renda das rescisções para comprar um veículo para ter uma oportunidade de emprego. "As pessoas compram para ingressar nos aplicativos de transporte, mas a própria demanda por app reduziu durante a pandemia. Então a pessoa tem que observar a conjuntura antes de usar o recurso que serviria para se manter durante alguns meses para investir nesse bem. As pessoas que compraram um carro e tiveram que entregar porque não conseguiram pagar, fica sem dinheiro e acaba tendo prejuízo", ressalta Rafael Ramos. 
O economista também alerta aos gastos extras que um veículo acarreta para que as pessoas façam as contas corretas para ver se cabe no orçamento. "Além do valor da compra, é um bem que vem com várias outras despesas, comocombustível, impostos, manutenção que não é barata e seguro. Tem que ter renda para essas outras despesas. Tem que analisar todos os aspectos para não comprar e ficar com restrição de renda", conclui. 

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