FUNCIONALISMO

Sindicatos querem combater discurso de que servidor é privilegiado

Publicado em: 28/10/2019 08:17

Representantes da categoria admitem que há problemas, mas alertam que é um erro generalizar conceito negativo sobre a gestão pública (Breno Fortes/CB/D.A Press)
Representantes da categoria admitem que há problemas, mas alertam que é um erro generalizar conceito negativo sobre a gestão pública (Breno Fortes/CB/D.A Press)
Entidades representativas do funcionalismo querem combater o discurso de que o servidor público é privilegiado. Analistas observam que esse conceito está presente há anos no imaginário dos brasileiros e foi especialmente reforçado desde quando o ex-presidente Fernando Collor se lançou na política como “caçador de marajás”. Sindicalistas dizem, porém, que há um problema grave nessa avaliação, embora concordem que haja, de fato, privilégios que devam ser revistos, como o auxílio-moradia para juízes. “No entanto, a generalização desse pensamento, muitas vezes alimentado pela mídia, para nós é um grave desserviço”, afirma Sérgio Ronaldo da Silva, secretário-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).

Ronaldo contesta dados recentemente divulgados por instituições de pesquisa que sinalizam que 44% dos servidores ganhariam acima de R$ 10 mil e garante que essa não é a realidade no Executivo federal. “Mais de 60% em final de carreira não chegam a receber mais que R$ 9 mil, somadas as gratificações”, afirma. No nível médio, acrescenta, os salários não se aproximam sequer ao valor do teto do INSS (R$ 5.839,45). “O diálogo amplo com a sociedade é fundamental, pois quem está na linha de frente de atendimentos essenciais são justamente as carreiras sobrecarregadas e com falta de pessoal, que recebem salários, às vezes, menores do que os praticados na iniciativa privada”, destaca.

De acordo com as entidades, há claras divergências nos salários e também nos reajustes que vêm sendo concedidos ao longo do tempo, pois quem tem maior remuneração acaba tendo percentual maior de correção. Um professor universitário com doutorado e dedicação exclusiva ganhava R$ 6.639 em 2015. Com o aumento negociado naquele ano, passou a receber R$ 9.585, em 2019. Já um diplomata, com reajuste de 27,9%, saltou para R$ 19.199, no período. E um delegado da Polícia Federal, pulou de R$ 16.830 para R$ 23.692, depois de um aumento de R$ 40,8%. O grande problema não é a disparidade ou a preferência por cargos da elite do funcionalismo. A questão é mais profunda, na análise de Jorge Patrício, diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência do Rio Grande do Sul (Sindsprev/RS).

Embora o Instituto Nacional do Seguro Social divulgue números favoráveis ao Meu INSS, “uma ferramenta criada para facilitar a vida dos segurados”, na prática o instrumento se tornou um estorvo para servidores e aposentados, diz Patrício. Segundo ele, os funcionários do órgão estão sofrendo uma pressão “inusitada”. “Estamos proibidos de dar o atendimento necessário”, afirma. De acordo com o sindicalista, se o servidor demora dando explicações mais longas para idosos acima de 80 anos ou cidadãos com baixa escolaridade, que não estão familiarizados com a internet, é controlado pelo chefe e ameaçado de responder a processo administrativo disciplinar (PAD), por desobediência.

A falta de pessoal, diz Patrício, acaba prejudicando os próprios cidadãos que dependem do serviço público. “Quando idosos e pessoas semianalfabetas não  conseguem fazer o pedido pelo 135 (número do atendimento), ficam à mercê de despachantes picaretas que se aproveitam da situação e cobram bem caro para fazer algo que é gratuito”, observa.

Para representantes da categoria, há uma estratégia que vem sendo usada há muitos anos quando se quer culpar o servidor e apontá-lo como o principal responsável pelo rombo nas contas públicas. “Não se investe, não se faz concurso, não se mostra o lado bom. A saída é sucatear. Como a sociedade não sabe o que acontece nos bastidores, fica fácil convencê-la de que o Estado é caro, pesado e corrupto”, afirma Sérgio Ronaldo, da Condsef.
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