Entrevista "A solução para o país é distribuir as oportunidades", destaca Jorge Petribu Em um momento no qual a política brasileira está em xeque e reflete na economia do país, empresário Jorge Petribu prega uma maior participação da sociedade

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 30/10/2017 15:53 Atualizado em: 30/10/2017 16:42

Por Kauê Diniz, Rochelli Dantas e Vera Ogando

Na foto, o empresário Jorge Petribu. Foto: Roberto Ramos/DP.
Na foto, o empresário Jorge Petribu. Foto: Roberto Ramos/DP.
Cinco meses após lançar um artigo no qual fez duras críticas aos caminhos tomados pela política brasileira, afirmando que “a ética ficou supérflua, quando é essencial”, Jorge Petribu, responsável pela usina mais antiga em funcionamento do país e que leva seu sobrenome, reafirmou suas posições, reforçando com palavras contundentes sua opinião em relação à crise de valores morais que atinge o Brasil. O empresário recebeu a reportagem do Diario, há dez dias, e contou quais passos vem tomando após dar voz à insatisfação silenciosa de muitos empresários brasileiros. Petribu admite que nunca imaginou que o grau de corrupção do país havia chegado a tanto e diz que quem está pagando essa elevada fatura são os bons empresários, que seguem a lei à risca, e a sociedade em geral, sobretudo aqueles menos favorecidos, obrigados, muitas vezes, a conviver com um serviço público sucateado devido à falta de recursos. Dinheiro esse que escorre pelo ralo da corrupção. Apesar da atitude de ter puxado a responsabilidade para si,
nesse momento, o empresário descarta uma candidatura a um cargo público em 2018, mas se coloca como um agente de discussão política para mudar a página desse cenário. “Acho que existe, em todo o Brasil, um movimento de querer mudar isso e em Pernambuco também”. Petribu também faz uma análise dos descaminhos estruturais do país, da “tímida” reforma trabalhista, defende as privatizações e aponta como fator preponderante para reescrever a história do Brasil uma maior igualdade de oportunidades entre regiões e classes sociais. Aliás, esse escritor “frustrado”, como o próprio Petribu se autointitula - já tem catalogado mais de 200 crônicas -, continua a escrever seus textos, que podem ter o mesmo efeito catalisador do publicado em maio, quando rompeu um silêncio ensurdecedor daqueles que querem dar um freio no caminho seguido pela política brasileira.

Carta à sociedade
Naquele momento (da carta), foi justamente na denúncia (contra Michel Temer) e na delação do pessoal da JBS. Eu pensei: ‘rapaz, não tem mais jeito’. Porque o presidente (Temer) assumiu sem se preocupar com a próxima eleição, que queria consertar o país e fazer projetos que, mesmo que não fossem simpáticos, dariam sustentação ao Brasil. Aí
quando a gente vê que o negócio está contaminado, que nada mudou… Isso aí me deu uma revolta tão grande. Não é possível que a Lava-Jato, cheia de gente presa, tudo escancarado, que continuem com esse negócio, com mala de dinheiro… Aí me deu aquela revolta e eu pensei: ‘se ninguém quer falar nada, eu tenho que falar’. Se eu não concordo,
tenho que ser explícito que não concordo. Porque eu tenho até vergonha dos meus funcionários, das pessoas mais simples que trabalham comigo, que não têm acesso a uma conversa comigo, pensar: ‘será que esse patrão participa de toda essa safadeza que está aí?’. Então, eu acho que fiz aquilo até como uma satisfação aos meus empregados, para
tornar público que a gente não participa desse procedimento e não compactua com isso. Aquela carta foi isso, uma revolta, um desabafo.

A repercussão
Depois daquela carta, muitos colegas que também vivem do trabalho me chamaram e disseram: ‘olha, a gente tem que participar mais, ter mais influência perante o governo, Assembleia Legislativa…’ Uma influência do bem, sem se preocupar só com o seu negócio, mas se preocupar com o bem do país. Nós todos somos passageiros. Então, é muito importante que a gente deixe uma sociedade cada vez mais sadia e não é sadia de saúde física. É de saúde ética e moral. E isso está cada vez mais difícil.

Surpresa
Não esperava (que tivesse a repercussão). Até porque quando eu faço os meus artigos, mando antes para algumas pessoas lerem, para me dizer se tem muita quina, se está redondo (risos)… E aí uma dessas pessoas perguntou: ‘Por que você não mandou pra mim?’ Eu disse: ‘Eu estava com tanta raiva que eu tinha medo que você modificasse uma palavra minha (risos)’. Então, foi isso, essa foi a história da carta.

Reação do empresariado
Acho que a revolta todo mundo tem. Talvez, eu tenha expressado isso. Acho que ninguém está satisfeito em ver o seu imposto dentro de um apartamento, trancado para ser usado como ele bem quer. Acho que ninguém está satisfeito. Quem tem consciência, quem compra qualquer produto que paga aquele imposto agregado em cima daquele produto. Como o empresário que está ali todo dia arriscando o seu capital numa empresa que pode amanhã falir ou ter uma crise, que todo dia arrisca aquele capital ao invés de tê-lo aplicado no banco, ou no exterior, ou em imóveis… Eu acho que estão todos muito preocupados. Acho que existe, em todo o Brasil, um movimento de querer mudar isso e Pernambuco também. A gente tem feito algumas reuniões informais, falando das ações que a gente pode tomar. Tem vários grupos: o LIDE Pernambuco (Grupo de Líderes Empresariais), que pega muitas empresas, a Fiepe (Federação das Indústrias de Pernambuco) e outras muitas entidades que estão hoje preocupadas com isso. São pessoas que têm seu negócio aqui, produzem, são trabalhadoras, tanto quanto seus funcionários.

Impacto nos funcionários
A gente não pode ter funcionários aqui que estão esperando o ônibus e aí chega um assaltante e leva o celular dele. Muitas vezes, comprou em dez parcelas o aparelho, está pagando a primeira prestação e levam o pouco que ele tem na carteira. Isso daí é uma agressão muito grande. Chega o seu funcionário para trabalhar insatisfeito, com a cabeça
traumatizada por um problema que houve. A pessoa, muitas vezes, tem a mulher doente e não recebe atendimento e chega aqui sem cabeça no trabalho. Imagine, você ter a sua mulher ou filho doente, com dor, numa fila de calçada, que nem no hospital é? A gente é privilegiado de ter um plano de saúde. Mas e a pessoa que depende do INSS? Do serviço
público? Não por conta dos funcionários do serviço público. Acho até que são abnegados, mas por conta desses acordos, que a gente não sabe quem patrocina, desviam o recurso público.

Privatização
A gente vê, por exemplo, naquela gravação de Aécio (Neves, o senador) com o Joesley (Batista, empresário da JBS), ele dizer: ‘Eu já nomeei o presidente da Vale’. Ora, então o presidente da Vale é nomeado por um político e você não sabe nem o currículo do camarada que foi nomeado? O outro queria nomear o ex-presidente do Banco do Brasil, (Aldemir) Bendine, que também é investigado na Lava-Jato. Então, o que é que tem
que fazer? Primeiro, acho que é acabar com todas as estatais. Aí você vai dizer: ‘Vai vender tudo?’. Você não pode vender à toque de caixa. Vamos fazer um plano de desestatização, um plano de privatização. Você não pode vender o filé e ficar com o osso. Então, o camarada que comprar o filé leva um pedacinho do osso com ele, para tentar resolver e assim por diante. Então, acho que esse pensamento meu da privatização, da eficiência pública, é um pensamento da maioria da classe empresarial e não digo só empresarial, porque tenho convivência com profissionais liberais, engenheiros, médicos… Você vê que a conversa geral é essa. A gente quer um estado mais eficiente.

Maus políticos
Acho que vou fazer até uma confissão de culpa. Não minha. É feito a Igreja ter uma confissão de culpa sobre a inquisição. Na hora que os empresários, os formadores de opinião, as pessoas de bem se afastaram um pouco da política, a situação ficou como essa que estamos vendo. Não é que na política ninguém preste, tem muita gente boa na política. Tenho bons amigos na política, pessoas em quem confio e acredito. Agora, que tem uma maioria ou uma minoria que contamina… Segundo dizem: tem um terço bom, um terço que já está cansado e um terço que é bandido. Não sei se o número está certo, mas tem muita gente, muitas pessoas de bem que se acuam quando começa aquela bandidagem. Com medo de ser até agredido verbalmente. Muitas vezes, era conveniente para alguns empresários, e digo alguns porque a gente não pode generalizar, ter um deputado que fosse um despachante dele. E quando você quer que um legislador seja um despachante, ele deixa de ter a função de uma pessoa que não tem interesse com a sociedade e sim com um grupo. 

Participação política
Acho que, se a gente tivesse como apoiar as pessoas que realmente têm preocupação com a sociedade, com um país melhor, mesmo que contrarie alguma minoria, ou contrarie um desejo imediato, pensando no futuro, seria importante. Acho que tem uma consciência maior com a política, não só dos empresários, mas também dos formadores de opinião querendo mudar. Tem um pessoal de bem, fora da política, preocupado com a sociedade que quer entrar na política. Vamos aumentar as cabeças de bem, as cabeças boas da política. A gente tem que participar. Não é que eu queira ser candidato, ou que ache que algum empresário tem de ser candidato. Eu acho que tem que participar da política e quebrar questões de tudo, seja do meio ambiente, da regulamentação do trabalho, comercial e jurídica. Eu acho que a gente tem que participar, pois nós somos usuários. Temos uma obrigação diária com quatro mil empregados aqui, famílias que precisam receber em dia e dependem da situação da empresa. Aí, muitas vezes, é feita uma lei que
não pensa nada disso, às vezes demagógica, uma lei que não tem uma consistência e deixa espaço para dúvida, para você tomar uma multa. Como é que pode a Receita Federal não responder a uma consulta que você faz? Aí, depois, vem uma multa sobre a sua consulta. Eu consultei para ver se era isso ou não e você não me respondeu. É uma insegurança. Não tem uma transparência, um “olhe, você está errado nisso”. Eu acho que a gente precisa ter essa transparência. A gente diminuir as leis e não aumentá-las. Dizem que o deputado é bom pelo número de leis que ele faz, eu digo esse devia até ser condenado. Segundo um diretor jurídico da Fiesp (Federação das Indústria de São Paulo), doutor Honda (Helcio), entre decreto, portaria, normatização de qualquer coisa pública, leis, prefeitura, câmaras, assembleias, estados, municípios e Federação, são 20 mil normas novas por dia. Você endoida.

Legislação
A maior imbecilidade é ter multa para meio ambiente. A multa para o meio ambiente vai servir para comprar carro para o meio ambiente, para comprar birô novo, para fazer um prédio bonito... Mas não vai para o meio ambiente. Você tem obrigação de reparar o dano. Qual foi o dano que você causou? Se você danificou o carro da pessoa, tem que reparar o dano. Não adianta você pagar uma multa. Adianta pagar o dano da pessoa. Seria como se fosse uma pena alternativa. Se você poluiu o ar, você tem que despoluir. Se você derrubou uma árvore, você tem que plantar tantas árvores. Se não fizer, você é preso. Então, é a coisa que funcionava, aquele dano seria corrigido. A Samarco pagou R$ 1 milhão de multa (pelo rompimento da Barragem de Fundão, em Minas Gerais, que causou o maior desastre ambieltal do país), de que adianta? Você não sabe para onde foi aquele dinheiro e a empresa ficou sem recursos e isso até pode causar uma falência na empresa. Então, a gente precisa de leis mais lógicas. Por que você tem que pagar multa trabalhista e não corrigir o dano trabalhista? E não estou dizendo que você não tenha penalidades. Acho que você tem que dar um prazo para a pessoa corrigir e, se corrigir, tudo bem, se não corrigir... Também é importante fazer leis para reincidência: ‘Meu amigo, se fizer três vezes você vai preso para não fazer mais’. Porque toda vez que vem multa, vem contestação jurídica, advogado... Fica lá 20 anos e nem o governo recebe. Dizem que tem mais de R$ 1 trilhão de contencioso na Receita Federal para receber. Sabe quanto recebeu ano passado? R$ 13 bilhões desse montante. Então, são coisas que acho que não funcionam.

Burocracia
Acho que tem muita coisa que pode melhorar e simplificar. Todo dia a gente vê complicação, uma norma a mais, algo que gera mais burocracia. E a burocracia, eu digo, é a amante incestuosa da corrupção. Quanto mais burocracia, você tem mais possibilidade de corrupção. Às vezes, você quer tirar um documento, comprar uma casa, regularizar o seu carro. É tanta confusão que chega um camarada e diz: ‘Me dê R$ 50 que eu resolvo o seu problema’. Aí você já perdeu três dias de trabalho, o patrão já está com raiva, pensa que é enrolação sua. É aí que começa a corrupção. Ele ganha esses R$ 50 de 20 pessoas, que se tornam R$ 1 mil. E assim fica a fonte de renda paralela dele, que já faz parte do salário. Então, ele não sai mais da corrupção. É uma bola de neve. Acho que as leis têm que ser mais simples. Não adianta criar lei anticorrupção, não adianta você fazer depois que aconteceu. Tem que evitar que aconteça. E como é que você vai evitar que aconteça? Diminuindo a burocratização e a máquina do Estado, que deve se preocupar com educação, saúde, segurança e infraestrutura.

Federalização da educação
Como é que pode um país do tamanho do Brasil falar a mesma língua? Você vai no Amapá e conversa do mesmo jeito que estamos conversando aqui. Os produtos de consumo são os mesmos. É um país extremamente unido pela educação, pelo futebol e pela língua. Aí você tem uma escola no Maranhão que tem dois alunos na mesma banca, duas séries numa mesma classe e não tem banheiro. Esses meninos vão disputar com os alunos de São Paulo, que têm uma escola com tablet, banheiro... Que concorrência é essa? Como é que você vai dizer que nesse estado a educação não precisa ser igual ao outro? Porque está dando oportunidades desiguais. Não é cota de negro e índio que vai resolver isso. O que vai resolver é dar oportunidade a todos. Não adianta eu pegar esse pessoal depois e dar cota para eles entrarem na universidade. Eu preciso dar oportunidades iguais, saúde igual… Os dentes deles têm de ser tratados iguais aos dentes desse daqui. Então por que não federalizar a educação básica? Por que o professor do Rio Grande do Sul não ganha o mesmo do Amazonas? Por que não tem obrigatoriedade de ter o mesmo curso, a mesma formação? Essa eu acho que seria a grande base do desenvolvimento do país. Se o Sul é mais rico ou mais pobre, não importa. A gente está no Brasil.

Igualdade entre regiões
Esse dinheiro que está em São Paulo foi também oriundo daqui de Pernambuco. Foi do meu trabalho. Então, a gente precisa se unir, porque somos o mesmo território. A gente precisa distribuir essa riqueza tanto na forma de educação quanto na forma de riqueza, porque se a gente tem uma estrada boa em São Paulo e uma ruim no Piauí, esse produto, mesmo que produzido aqui, vai custar mais caro. Porque meu caminhão vai quebrar mais, vai estourar mais pneu. Então, a infraestrutura tem que ser a mesma. Você tem que dar oportunidade de infraestrutura e educação. Você tem que mudar o Brasil. Precisa ter uma  pessoa que se preocupe com isso. Não é o Bolsa Família que vai resolver, não é a distribuição de dinheiro individual que vai resolver. A solução é distribuição de oportunidades. Eu acho que isso que vai resultar no crescimento do país.

Equívocos administrativos
São erros absurdos que continuam hoje, porque falta divisão global no país. Por que a Transnordestina começou de Suape para dentro? Se fosse o inverso, você já ia usando de Suape até Caruaru, Caruaru até Salgueiro... Ia funcionando. Mas não, começou no Sertão e está parada. São coisas assim, inacreditáveis. Uns erros grosseiros. Como é que se faz uma Universidade Federal Rural no Cabo? O Cabo já está congestionado, já não tem infraestrutura de estrada, hospital, de nada. Já tem Suape que vai consumir muito e gera muito emprego. Por que não faz uma Universidade Rural no Agreste? Aí você gasta R$ 220 milhões. Por que não bota num lugar com vocação agrícola? Com vocação pecuária? Por que as universidades têm que ser todas na cidade e não interioriza o ensino universitário feito em São Paulo? Lá, você tem a maior universidade rural em Piracicaba. Tem São Carlos, Campinas, mas aqui não, você congestiona. Recife não tem nem mais espaço para crescer. Eu estava dizendo outro dia, por que não faz um projeto de trem urbano? Quanto   aliviaria as estradas? A passagem da ferrovia antiga já está pronta. Aí começam a invadir a linha porque não é mais usada, daqui a pouco vai ter que indenizar todo mundo de novo. Por isso acho que a gente tem que participar (da política) para melhorar a qualidade de vida da população e a ética também.

Corrupção e Lava-Jato
Essa Lava-Jato foi uma coisa muito importante para o país, que deu um alento às pessoas que querem um futuro melhor. Fiquei surpreendido pelo nível de contaminação de tanta gente. Por exemplo, eu fui viúvo duas vezes. Fui viúvo de (Fernando) Collor, que eu achava que era a melhor coisa do mundo e quebrei a cara. E fui de Aécio (Neves) também, que achava que era um cara sério, de bem e também quebrei a cara. Foram dois em quem eu acreditava muito. Então são coisas que aí a gente vê a contaminação geral e o nível do empresário que usufruiu do governo, que pensava só nele e tinha um plano armado para destruir o governo. Empresários que não precisavam, milionários e tinham empresas competitivas. Aí entra no jogo mais sujo que possa ter. Parecem gangster, um negócio de máfia. Aqueles R$ 51 milhões dentro de um apartamento (do ex-ministro Geddel Vieira Lima), não imaginava que existia aquilo. É uma coisa que para mim impressionou. Tenho 61 anos e achava que sabia já de tudo que passava na política, mas é uma coisa difícil.

Reforma trabalhista
A reforma ficou muito tímida. Os trabalhadores de 1940 eram pouco informados, principalmente o rural. Para isso precisava ter um acordo com uma proteção muito grande. Hoje você vai no campo, o camarada tem um celular com número da fiscalização do Ministério do Trabalho. Ele pode fazer a denúncia anônima. Por que eu digo isso? Porque eu conheço boa parte do setor açucareiro do mundo. Sempre que vou, pergunto como é que funciona a parte trabalhista. São três turnos de oito horas de trabalho e não tem folga durante seis meses. O camarada trabalha 180 dias sem um dia de folga. Não tem domingo, não tem feriado, não tem nada. E dizem: ‘É a hora de eles ganharem dinheiro, eles gostam e ganham dinheiro’. Aí eu pergunto: ‘O camarada luta para sair do Brasil, atravessa o deserto com um coiote daquele para arrumar um trabalho onde trabalha seis meses sem uma folga. Será que ele está certo ou errado?’ Porque o camarada quer é o ganho do salário. Ele é contratado para determinada função, sua carga de trabalho é essa, se interessa? Se não interessar, então sai. Não tem 13º, não tem repouso remunerado, mas tem um salário digno. Aqui tem todas as obrigações, mas não tem um salário digno para o camarada viver, porque com um salário de R$ 1 mil ele não consegue (viver) decentemente. Eu acho que tem coisas que você tem de pensar. A gente precisava ter uma reforma trabalhista mais ampla, que o camarada pudesse fazer o que quisesse, e aqueles que não cumprirem isso têm que indenizar o trabalhador. Não pagou o salário, você não pode tirar um dividendo enquanto estiver atrasado com o trabalhador. Um prefeito não paga os professores e tem um carro de luxo para passear com diária, com salário em dia... E o professor sem receber. Não pode ser um negócio desse. Sabe como é que ia funcionar isso? Os filhos do prefeito têm obrigação de estudar na escola pública do município. O filho do prefeito só pode ir para hospital público, salvo se for uma coisa grave. Então, ele teria que ter serviço público decente.

Candidatura em 2018
Não, eu até já pensei, mas acho que posso contribuir mais de forma geral. Eu disse ao prefeito daqui (Carpina), faça um conselho de moradores da cidade para acompanhar você e informar dos seus erros e acertos. Pegue os professores e faça eles elegerem um representante, os médicos, os advogados... Acho importante. Até Jarbas (Vasconcelos) fez isso na época. Eu participei de um dos conselhos de Jarbas, ele pegou um representante de cada um. Tinha João Câmara, o pintor; Silvio Meira, da parte de informática. Tinham empresários de vários ramos. De açúcar e álcool, eu era o único, mas tinha de vários ramos. Então, ajuda a pessoa, são consultores de graça que vão dar uma opinião do que ouvem e veem. A sociedade tem que ser mais participativa, mas as próprias prefeituras criam essa distância. Tem que ter menos político na administração pública. Por que não pega um médico com competência e coloca como secretário de Saúde? Por que na Secretaria de Transportes você não pega um engenheiro bom? Não, é um político, é feito o presidente da Vale nomeado por Aécio Neves. Tem que acabar com isso. 

Legado familiar
É uma carga danada porque todos os seus antepassados foram competentes em manter e você pode ser incompetente de não manter. Veja que responsabilidade. Mas é uma coisa importante para mim essa ligação com a terra. Eu sou a sétima geração trabalhando aqui (na Usina Petribu). Meu antepassado (Cristóvão) que chegou aqui veio do município de Igarassu, onde o pai dele já plantava cana e foi passando de geração em geração. Somos a usina mais antiga em funcionamento no Brasil e a usina está entre as dez empresas mais antigas do Brasil. Então, é por isso que eu digo que minha responsabilidade aumenta muito. E cada dia está mais difícil, temos uma topografia difícil que dificulta a mecanização. Você tem uma mão de obra quatro vezes maior do que no Centro-Sul e isso tem um custo, porque hoje mão de obra pesa na empresa.

Negócio da família
Em 1909, meu avô (João Cavalcanti de Albuquerque) herdou o engenho e o transformou. No início, era tudo movido por animais. Ele comprou máquinas a vapor, acho que foi na Alemanha. Também adquiriu uma locomotiva, porque ele tinha seis engenhos em funcionamento e tinha que fazer as ligações. Como naquela época não tinha caminhões, o transporte era de trem. Ele precisou trazer a estrada de ferro. Foi ele mesmo quem marcou as estradas. Meu pai (Paulo Petribu), em 1953, comprou a parte dos irmãos. A usina estava em uma situação difícil e os irmãos resolveram vender. Papai vendeu todo o patrimônio pessoal e deu como pagamento aos irmãos. Ficou com uma usina muito pequena, com menos de dois mil hectares de terra. Hoje ela conta com mais de 22 mil. Então, ele vendeu, inclusive, as terras aos irmãos e depois as comprou de volta. Foi uma aposta que deu certo. Ele trabalhou muito. Quando pegou a usina, era a 42ª no estado em termos de produção e se tornou uma das primeiras. Então, aí tem três momentos importantes na história da família: primeiro, a mudança de Igarassu para cá, com um filho que não tinha espaço no engenho do pai e veio para cá para continuar; Segundo, foi meu avô transformar o engenho em usina; e, finalmente, o terceiro, foi meu pai fazer crescer a usina. Tornar ela uma das maiores do estado.

Futuro da Petribu
Temos que pensar na empresa não só como açúcar e álcool, mas como uma empresa de negócios. Esse é o futuro da Petribu. Fomos pioneiros na plantação de eucalipto. Desde 2014, todas as áreas que têm mecanização complicada transformamos em eucalipto. Temos também a usina que produz todos os tipos de açúcar, álcool e o gás CO2 e tem várias utilidades. É o gás que tem em água, guaraná, extintores, tratamento de água e
sondas. Tem a área de energia, com nossa termoelétrica. Ela só funciona no período da usina, porque é movida por biomassa, o bagaço da cana. Na hora em que tivermos o eucalipto, vamos poder operar com a termoelétrica o ano todo. Para aumentar o negócio, temos que pensar o que a usina pode dar, para compensar essa deficiência que nós temos na topografia e clima. Temos uma noção da evolução da frequência de secas, que têm sido mais próximas. Isso eu acho que é a evolução, o mundo se transforma desde que esfriou. A tendência é mudar e nós temos que nos adaptar. O segredo da Petribu para sua longevidade foram dois: primeiro, a compra do controle de propriedade por um só, a família crescia e dividia, mas um ficava com o comando; E o segundo, foi a visão de longo prazo. Meu avô (João) era uma pessoa moderna, tinha pouca instrução, mas era aberto às oportunidades. Ele era moderno, apesar de ser rude. Tinha visão de negócio. 

Momento difícil
Tem uma história que papai contava. A usina, quando ele comprou, teve um momento muito difícil. Mas antes quando meu avô montou a usina, ele comprou em 1911 a locomotiva com alguns equipamentos alemães, através de um representante aqui de Pernambuco que era casado com uma alemã. Pernambuco era um polo de comércio. Todas as empresas tinham representantes aqui e vendiam para todo o Brasil. Todo o produto importado no Brasil se abastecia aqui no início do século 20. E tinha esse camarada que fez uma boa amizade com meu avô. Ele era um pouco mais novo e, quando houve a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a Alemanha perdeu e foi obrigada a indenizar todos os países e, pelo acordo, todos os credores da Alemanha foram perdoados. Meu avô chamou o representante e disse: ‘Eu quero pagar. Não posso deixar uma família perder tudo’. Ele mandou o camarada procurar a família na Alemanha. Ele foi e não conseguiu achar a família e disse que ficou impressionado com a generosidade de meu avô. Esse camarada não tinha filhos, era um excelente comerciante e ficou rico. Um dia, papai disse que quando comprou as usinas dos irmãos, a situação ficou muito difícil e o dinheiro não dava. Ele nunca deixou de pagar um salário, deixou de comprar manteiga para casa, mas salário ele nunca deixou de pagar. Já veio de carona de caminhão porque vendeu o carro, mas não deixou de pagar nem na cheia de 1975. Mas papai estava desesperado e ia entrar na mão de agiota, para pegar dinheiro e pagar os compromissos. Esse camarada, depois que meu avô morreu, ia visitar papai. E papai disse: ‘Quero atender ninguém. Estou me sentindo um fracassado. Vou falir, estou precisando de tanto (em dinheiro) e não tenho. Estou indo agora à tarde pegar dinheiro com agiota para pagar’. O camarada disse: ‘Vamos fazer o seguinte, eu tenho o dinheiro. Eu vou emprestar e você me paga quando puder e uma parcela pequena’. Papai disse que foi esse dinheiro que o salvou. A atitude do camarada foi em função do que meu avô fez. As coisas melhoraram e papai pagou o cara 40 anos depois do início da relação com a família.

Momento atual
Agora, em 2010, fomos muito sacrificados. Éramos a usina de maior safra agrícola de Pernambuco. Em 2014, Dilma, com a política da Petrobras dos preços de combustíveis, foi um desastre para o setor. Muitas usinas pediram concordata, tantas outras foram fechadas. E quem tinha mais cana era mais prejudicado, você tinha o custo da cana e o apurado nela. Ou seja, você não conseguia nem metade do que era gasto. Quem arcou com isso foi o fornecedor de cana. Ele vendia conforme o preço do açúcar, o preço foi achatado. Se você vendia, digamos, 100, só paga 50 para o revendedor. Em Pernambuco, fomos os que mais sofremos e, com a lição, diminuímos nossa safra e já não somos mais o maior produtor. Esses quatro anos afetaram muito a gente e fiquei preocupado. Foi quando passei a presidência para minha sobrinha Daniela Petribu. Ela assumiu em 2012 e, em 2014, fui para o conselho. Voltei para mais perto dela para juntos tentarmos conseguir uma solução. Fizemos ações, estamos começando a mudar e não ficar mais concentrado em açúcar e isso foi melhorando. De 2014 para cá, começamos a recuperar as perdas. Foi aí que surgiu a ideia do eucalipto que vamos começar a colher em 2019, que é, se Deus quiser, quando vamos nos recuperar e precisar de muita energia.

Responsabilidade social
Sempre participamos da comunidade. Mas diria que o maior trabalho é manter o emprego, o funcionário receber corretamente, onde tem suas obrigações recolhidas e isso gera quase R$ 7 milhões de folha por mês. Esse dinheiro é colocado na região e vai para o comércio da cidade. Faz a economia rodar.

Visão dos trabalhadores
Fico admirado em como a gente pode ter essa produção, mesmo com tanta carência que o camarada tem. Nós fomos privilegiados. Pense um camarada que ganha um salário mínimo, mora em Escada e trabalha no Recife? Ele pega ônibus e metrô, são quatro ou cinco horas para chegar no trabalho e voltar para casa. Quando chega, o filho está doente, a mulher doente... É uma coisa séria, pensar que esse camarada ainda é direito, não rouba, que ele respeita uma fila. Por outro lado, você vê esses políticos sem vergonha, o camarada não admite nem esperar numa fila e ainda quer todos os privilégios. É um absurdo. Convivo com essa situação diariamente e é difícil. A gente quer pagar mais, mas não pode, porque não adianta pagar bem um mês e no outro não pagar ou não ter emprego. Infelizmente, você não pode ser o Estado. 


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