Observatório econômico O futuro está às portas

Publicado em: 09/10/2017 08:00 Atualizado em: 06/10/2017 17:57

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva (*)

Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Marcelo Eduardo Alves da Silva é professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
O ano ainda não terminou, mas já é hora de pensarmos em 2018. E diria mais, está na hora de pensarmos nos anos vindouros.

Como todos sabemos, estamos saindo da maior recessão da nossa história republicana. O cenário é positivo, com recuperação da economia, inflação baixa e juros declinantes, mas este alívio não será suficiente para nos levar a uma trajetória de crescimento sustentável. Temos uma urgente necessidade de pensarmos o Brasil do futuro, mas esse futuro começa agora e passa por quem assumirá o país em 2019. Com isso, não quero dizer que espero por um “salvador da pátria” – estamos literalmente cheios deles – porém creio que ajudaria bastante se tivéssemos uma liderança política, que estivesse disposta a enfrentar os desafios que se nos colocam de maneira honesta, sem soluções mágicas, e com um amplo debate com a sociedade.

Na minha opinião, a incerteza é maior pelo fato de não ver nos postulantes a pré-candidatos a clareza de que estarão dispostos a discutir nossos problemas de maneira aberta, sem palavras de ordem e sugestões fantasiosas. Talvez seja cedo demais, mas seria interessante se os partidos e seus representantes começassem a apresentar e discutir com a sociedade seus diagnósticos e programas para o país. Supondo, obviamente, que não venham a fazer um estelionato eleitoral, como no passado recente, isso ajudaria bastante em entender o “Brasil” que temos e o que podemos esperar para o futuro. E gostemos ou não, o futuro está às portas.

Infelizmente, a experiência recente é que seja por desonestidade intelectual, ideologia ou desinformação, na maioria das vezes, o debate honesto tem sido substituído pelo discurso fácil, agradável aos ouvidos, em parte porquê há eleitores ávidos por soluções mágicas, mas também pela falta de uma maior pressão da sociedade. Para ser sincero, acho difícil que esse debate ocorra sem que a sociedade o demande. Precisamos provocar esse debate e, de certa maneira, acho que isso já vem ocorrendo, mesmo que de forma tímida. Em parte alimentado pela crise fiscal, que assola o governo federal e alguns estados, e também pelos inúmeros casos de corrupção e de má-alocação de recursos.

Precisamos de uma agenda para discutir o Brasil, mas para se ter uma agenda é necessário primeiro entender as raízes de nossos problemas. Há muita autonegação coletiva, como se ao ignorarmos nossos problemas, eles sumissem de forma mágica. Há muitos, incautos ou não, que defendem que não há déficit da previdência, que basta o governo gastar mais que todos nossos problemas serão resolvidos, como se vivêssemos num mundo onde os recursos não fossem escassos.

A sociedade civil, os meios de comunicação, as universidades, etc. precisam assumir maior responsabilidade, estimulando e participando deste debate. Confesso que estou menos pessimista, afinal já demos alguns passos importantes e aqui destaco: a imposição do teto dos gastos, que nos levará inevitavelmente a um debate sobre como melhor alocar recursos, a mudança nos subsídios do BNDES, a retomada das privatizações, a reforma do ensino médio, a reforma política, entre outras. Há, porém, muito trabalho a ser feito, em particular, na reforma da previdência, na maior abertura da economia, no aumento da eficiência e na melhor focalização dos gastos públicos, etc. Nada adiantará empurrar nossos problemas para frente, só aumentará o tamanho do ajuste no futuro.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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