Respeito Negros e LGBTs lutam em busca de respeito e mais espaço no mercado de trabalho local No Recife, o rendimento médio dos negros é de R$ 6,61 por hora, enquanto o dos não-negros é de R$ 9,08

Por: Vitor Nascimento

Publicado em: 07/08/2017 11:02 Atualizado em: 07/08/2017 12:27

Jameson: os negros ocupam vagas de forma precarizada. Foto: Shilton Araujo/Esp. DP
Jameson: os negros ocupam vagas de forma precarizada. Foto: Shilton Araujo/Esp. DP


A busca por diversidade e igualdade de negros e LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais) no mercado de trabalho está longe de acontecer e alguns números comprovam isso. De acordo com o último levantamento da Compahia Elancers, 38% das empresas brasileiras não contratariam pessoas LGBTs para cargos de chefia e 7% não contratariam em hipótese alguma. No Recife, segundo pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) de 2015, a desigualdade no mercado de trabalho é contínua. O rendimento médio dos negros na capital é de R$ 6,61 por hora, 72,8% do rendimento dos não-negros, que é de R$ 9,08.

Na última pesquisa/trimestre de 2016 do Pnad/IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em relação à taxa de desocupação no Brasil, cerca de 28,5% são pessoas que se consideram pretos e pardos. Mais que o triplo dos que se consideram brancos (9,5%). Cerca de 63,7% dos brasileiros desempregados são negros, de uma população de 113 milhões de negros no país, ainda de acordo com o IBGE.

Quem sentiu dificuldade para se inserir no mercado de trabalho, mesmo como estagiário, foi o estudante de Jornalismo Jameson Ramos, 22 anos. Negro e periférico, Jameson afirma que o preconceito ainda é bastante velado. “Eu enviava meu currículo com a minha foto de cabelo ‘black’, ninguém me chamava para seleções. A partir do momento em que eu comecei a enviar esse mesmo currículo sem foto, as empresas começaram a me chamar. Mas, nesse caso, eles não me respondiam se eu teria sido selecionado para a vaga ou não.”

Segundo a especialista na área organizacional e professora de recursos humanos Alexandra Pontes, as pessoas que estão prestes a fazer uma seleção de emprego devem estar atentas a qualquer tipo de olhar discriminatório. “As pessoas devem se posicionar e procurar seus direitos caso se sintam ofendidas”. Ela fala que dentro do mercado as empresas devem se atualizar, diversificando o quadro de funcionários  e combatendo qualquer tipo de preconceito.

O preconceito racial, ainda que de forma velada, pode, muitas vezes, mostrar a sua cara na forma de brincadeiras. Aconteceu com o hoje educomunicador Cidcleiton Luiz, 30 anos. “Quando eu trabalhava na construção civil, era muito comum me darem apelidos como café, negrinho, mais preto que piche, entre outros”, conta. Para ele, as empresas não estão totalmente abertas aos negros. “Não é só questão de cor. As organizações devem entender que nós, negros, somos qualificados para competir de igual para igual com qualquer outra pessoa, de qualquer outra cor.”

Para Jameson Ramos, os negros ainda estão ocupando vagas no mercado de forma precarizada. “Muitos dos que eu conheço estão na portaria, nos serviços de limpeza”, diz. Segundo o último levantamento do Instituto Ethos, divulgado em 2016, com as 500 maiores organizações do país, os negros só ocupam 6,3% nos cargos de gerência e apenas 4,7% em cargos executivos.


Conquista

A camada LBGT vem conquistando, aos poucos, o mercado de trabalho, mesmo sabendo que o preconceito ainda é muito grande. O recepcionista Marconi Soares, 37 anos, é homossexual e afirma que, mesmo estando no mercado, percebe que é visto como uma “obrigação” pelas empresas, que em sua maioria só querem mostrar responsabilidade. “Infelizmente muitas delas ainda segregam alguns cargos aos quais, mesmo qualificados, os homossexuais enfrentam dificuldades de chegar.”

Para isso, segundo Alexandra Pontes, as empresas devem entender que, quanto maior a diversificação em seu quadro, maiores são os ganhos. “Além disso, essas organizações devem sempre orientar os seus funcionários para que preconceitos sejam evitados dentro do ambiente do trabalho.”

Por um mercado tolerante e colorido

Fernanda, travesti, superou o preconceito e é enfermeira. Foto: Shilton Araujo/Esp. DP
Fernanda, travesti, superou o preconceito e é enfermeira. Foto: Shilton Araujo/Esp. DP

A luta por um mercado justo levou a enfermeira Fernanda Falcão, 26, anos, a superar preconceitos. Travesti, Fernanda assumiu a sua condição aos 15 anos. Além da dor de ser expulsa de casa, o único mercado em que conseguiu se inserir foi o da prostituição. “Na época eu fazia graduação em enfermagem pela Universidade Federal de Pernambuco. Mas tinha que me sustentar. Era na rua que eu conseguia.”

Fernanda conseguiu sair da prostituição e superou os preconceitos do mercado de trabalho formal. “Movimentos sociais, como o Amotrans (Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais), me deram força”, contou. As dificuldades apareceram mesmo assim. Ao tentar uma vaga em um hospital público, ela, que tinha enviado seu currículo com o nome de identificação masculino, não foi bem recebida no momento da entrevista. “O recrutador disse que tinha chamado um homem.”

Fernanda diz que é muito difícil não ser notada. “Carrego características femininas muito fortes mesmo em um corpo masculino.” Ela também descobriu o preconceito institucional. “Foi em um hospital, onde chegaram a fazer um abaixo-assindo para que eu não utilizasse o banheiro feminino. Saí muito machucada”, disse.


Segundo a psicóloga Organizacional Maria Auxiliadora, as marcas emocionais por conta do preconceito no trabalho são fortes. “Não é fácil, mas é importante que essas pessoas saibam que são profissionais, competentes e que podem ter o espaço que merece pela qualificação.”

Robeyoncé Lima, 28, advogada transexual e servidora pública da UFPE, é um exemplo de quem lutou para conseguir espaço. “Mesmo com o preconceito de ordem institucional, como o reconhecimento do nossso nome social, é importante conscientizar as pessoas, palestrando e fazendo oficinas”, declarou.
 

 



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