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IBGE Abaixo da meta do governo, inflação cai a 2,71% em 12 meses É a menor taxa nesse intervalo desde fevereiro de 1999

Por: Rodolfo Costa - Correio Braziliense

Publicado em: 10/08/2017 08:31 Atualizado em:

Apesar da redução dos índices de custo de vida, André Paulo reclama dos preços elevados: "Tudo aumentou". Foto: Arthur Menescal/Esp CB
Apesar da redução dos índices de custo de vida, André Paulo reclama dos preços elevados: "Tudo aumentou". Foto: Arthur Menescal/Esp CB


O custo de vida continua desacelerando em ritmo forte. Em julho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,24%. Apesar de o resultado ter sido superior ao observado em junho, quando foi registrada uma deflação, ou seja, queda de preços, a alta do indicador nos últimos 12 meses recuou para 2,71%, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É a menor taxa nesse intervalo desde fevereiro de 1999.

A queda da carestia reforça as expectativas de analistas do mercado financeiro de que o IPCA registrará neste ano a menor elevação desde 2006, quando o índice teve alta acumulada de 3,14%. É o caso da Rosenberg Associados, que projeta um avanço de 3,3%, e da Tendências Consultoria, que espera  inflação de 3,8%. As previsões reforçam ainda a confiança do mercado de que o Banco Central (BC) continuará reduzindo a taxa básica de juros, a Selic.

Se forem concretizadas as previsões dos analistas, o custo de vida em 2017 ficará abaixo do centro da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%. O resultado acumulado em 12 meses até julho, por sinal, colocou a inflação abaixo do piso da meta, de 3%. É a primeira vez que isso acontece desde março de 2007.

Preços livres
A desaceleração da carestia está intimamente ligada à variação dos preços livres, que são determinados pelo princípio da oferta e demanda. No acumulado em 12 meses encerrados em julho, esse grupo registrou alta de 2,1%. É a menor variação desde abril de 2007. Para o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fábio Bentes, não é mera coincidência.

“Há muitos nichos de deflação, principalmente nos preços livres”, destacou. O maior reflexo disso, enfatiza Bentes, é o índice de difusão, que mede a disseminação do custo de vida no mercado de bens e serviços. Em julho, essa taxa foi de 41,8%, o que significa que, de cada 10 produtos, apenas quatro apresentam alta de preços. É a menor proporção desde  o início do Plano Real, em julho de 1994.

O bom comportamento dos preços livres está ancorado, sobretudo, nos gastos com supermercado. Em julho, os custos com alimentação e bebidas caíram, em média, 0,47%. O resultado foi positivo para contrabalancear as pressões inflacionárias dos grupos de habitação e transportes, que registraram alta de 1,64% e 0,34%, respectivamente.

A mudança da bandeira tarifária nas contas de energia elétrica e o aumento na alíquota do PIS/Cofins sobre a gasolina foram, individualmente, os principais vilões do mês e os principais focos de pressão. Que o diga o nutricionista André Paulo, 22 anos. “A energia ficou muito cara. Ainda bem que o frio ajudou a eliminar a necessidade de ar-condicionado e ventilador”, disse.

Por mais que o custo de vida apresente sinais de desaceleração, André se sente pouco beneficiado com isso. “Tudo aumentou, principalmente produtos alimentícios”, criticou, reclamando também da gasolina. Para driblar a inflação e poupar mais dinheiro, ele mudou alguns hábitos. “Passei a andar mais de ônibus para não gastar tanto com gasolina e estou fazendo compras mensais em atacarejos”, explicou.

A percepção do nutricionista não é diferente da avaliação do policial Álvaro Alves, 35, que não notou uma significativa redução de preços nos alimentos. Para economizar, ele faz compras mensais e repõe com consumo semanal produtos necessários à medida que são utilizados. “E quando compro, é sempre em dias de promoção”, afirmou.

Embora o choque inflacionário provocado pelo aumento da carga tributária sobre a gasolina possa ter significado o fim do processo de desinflação no acumulado em 12 meses, o analista Leonardo Costa, da Rosenberg Associados, acredita que isso não alterará o cenário de corte da taxa básica de juros pelo BC. “A política monetária tem que focar onde ela tem efeito, que são os preços livres. Eles continuam desacelerando em ritmo forte”, avaliou.


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