Investimento Empresário pernambucano investe e vende créditos de carbono

Por: Thatiana Pimentel

Publicado em: 12/06/2017 11:23 Atualizado em: 12/06/2017 11:36

Apesar de ter passado em concurso da Petrobras, Baltar preferiu arriscar. Foto: Ecofinance/Divulgação
Apesar de ter passado em concurso da Petrobras, Baltar preferiu arriscar. Foto: Ecofinance/Divulgação
Um negócio que ajuda outros negócios a se tornarem sustentáveis e ganharem dinheiro com isso. Esse é o foco da Ecofinance, marca criada pelo pernambucano Eduardo Baltar em 2007, sendo uma das pioneiras no Brasil a trabalhar com a venda de créditos de carbono. O empreendedor literalmente ficou entre a cruz e a espada ao montar uma marca própria, uma vez que na mesma semana em que ele conseguiu seu primeiro sócio investidor, Baltar passou no tão sonhado concurso federal da Petrobras. Com 25 anos. Opção descartada em detrimento da Ecofinance, que no início se chamava Enerbio. Boa escolha. Atualmente, a empresa já ajudou na comercialização de três milhões de créditos de carbono, tem R$ 150 milhões em ativos de carbono na carteira de investimentos e um potfólio de mais de 50 empreendimentos de infraestrutura assessorados e mais de 60 inventários de emissões corporativos.

Eduardo Baltar, formado em administração pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), mestre em gestão da tecnologia e produção pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), começou a se interessar por créditos de carbono quando ainda morava no Recife, em 2004. Em 2005, trabalhando no então Unibanco, foi transferido para São Paulo e depois para Porto Alegre, em 2007, onde conheceu seu futuro sócio, o empresário Luiz Antônio Leão, que investiu no negócio. “Três dias depois que começamos a parceria, o resultado do concurso da Petrobras foi divulgado e aí eu tinha passado para um cargo de curso superior e ainda teria ajuda de custo para me mudar para o Rio de Janeiro. Cheguei a fazer o exame físico, passei, mas, no meu coração, eu queria ser empreendedor e resolvi seguir meu perfil.”

Apesar da coragem, ele lembra que nunca contou sobre a aprovação para seu pai, Otávio Almeia de Souza Leão. “Ele faleceu uns três meses depois que abri a empresa e nunca soube. Sendo um funcionário público, assim como minha mãe, acredito que ele iria achar uma loucura”, reforça. E foi o pai que deu sinais que o empresário estava no caminho certo. “Nesta época, estava fechando um contrato superimportante e passei o dia em reunião com executivos de uma empresa. Um deles, assim que acabou o nosso encontro, recebeu a ligação de um amigo do Recife, comentou sobre mim, e esse amigo simplesmente era o padrinho de casamento do meu pai. Isso ajudou o negócio a dar certo e quando ele me contou, acreditei que era um ‘sim, continue’.”

O sócio saiu da empresa em 2012, mas de lá para cá, mesmo com o fim da obrigação de compra de créditos estabelecidas em Kyoto, Eduardo, sozinho, conseguiu ampliar sua ideia. “Visualizei uma oportunidade ao perceber que eu sabia mais sobre o assunto do que as empresas que trabalhavam dando consultoria sobre isso”, explica. Agora, o empreendedor ampliou seus produtos e passou a oferecer serviços de inventários e planos de diminuição de emissão de carbono, com três funcionários, dezenas de consultores parceiros e clientes como Baterias Moura, Ipiranga, Odebrecht, Federal Petróleo e a Companhia Hidro Elétrica de São Francisco (Chesf). Em 2017, a Ecofinance deverá iniciar cursos multissetorais sobre a emissão de carbono através de parcerias com universidades brasileiras. “Vamos reforçar também nossa atuação internacional. Já atendemos clientes em Xangai (China), República Dominicana e Angola e queremos atuar mais fora do Brasil”, afirma.

Na Copa do Mundo, a Ecofinance foi contratada pela Organização das Nações Unidades para mapear e diminuir a emissão de carbono no Recife e em Porto Alegre. Este ano, a ONG Iclei, com atuação local, contratou a empresa para construir um plano de baixo carbono para a capital pernambucana. “Entre outras ações, identificamos que o Parque do Capibaribe e o Parque da Capivara são essenciais para a redução de emissão da cidade”, ressalta. Segundo Baltar, um dos pontos básicos do Recife para diminuir a emissão de carbono é investir em um transporte público de qualidade. “Os carros individuais são os maiores emissores. Tanto o metrô quanto ônibus precisam de maiores incentivos, assim como os projetos de carro elétrico e bicicleta compartilhada”, comenta.

Mudança de foco e negócio ampliado

Com o fim das metas do Protocolo de Kyoto, em 2012, e o limbo até as novas metas de créditos de carbono do Acordo de Paris, que devem começar a valer apenas em 2020, o empreendedor teve que “pivotar” (mudar) o foco do negócio e precisou ampliar seu serviço para realizar inventários e planos de diminuição de emissão de carbono de empresas e prefeituras.

O crédito de carbono foi acordado no Tratado de Kyoto como uma das metas da redução de emissão do gás nas empresas dos países desenvolvidos, que,  entre outros processos internos, têm a opção de comprar créditos de carbono para complementar sua taxa de emissão de empresas de países em desenvolvimento. “Uma tonelada de carbono valia 16 euros quando começamos. Agora, como não existe mais a obrigação das metas do tratado, o valor caiu para 0,30 centavos de euro”, explica.

Pernambucano de nascença e de coração, Eduardo comenta ainda que, apesar da sede da empresa ser no Rio Grande do Sul, a maioria dos projetos é do Recife. “Minha família e amigos estão no Recife. Acho que a cidade tem uma liderança natural e queremos ajudar nisso.” Até um bloco de carnaval em homenagem a Pernambuco o empresário fundou. “Todos os anos, fazemos o Galo do Porto, em homenagem ao Galo da Madrugada. Em 2016, chegamos a 30 mil pessoas”, comenta, animado.



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