Finanças Queda na renda das famílias mostra o valor da economia dos centavos Escolados pela crise dos últimos anos, os brasileiros se tornam mais criteriosos na hora de comprar. Pequenas diferenças no preço dos produtos e ganho com promoções podem representar economia significativa no fim do mês

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 03/06/2017 08:46 Atualizado em:

Com menor poder aquisitivo e renda comprometida com dívidas, os brasileiros aprenderam a apertar o cinto para controlar o orçamento. Conforme o ditado “de grão em grão, a galinha enche o papo”, é assim que as pessoas estão conseguindo fechar as contas no fim do mês: contando os centavos, seja na hora de abastecer o carro ou de decidir o que colocar no carrinho do supermercado.

O empresário braziliense Tomás Franco, 29 anos, sente os resultados da economia no bolso. Para tentar aliviar o orçamento, já sobrecarregado com as despesas domésticas, ele sempre aproveita promoções para encher o tanque. “Perto da minha casa, a gasolina estava R$ 3,59. Mas eu sabia que passaria por aqui hoje e consegui economizar R$ 0,30 por litro. Parece pouco, mas, calculando por 30 dias, é uma diferença grande no fim do mês”, contou ele, após abastecer o carro num estabelecimento que oferecia o combustível mais barato.

Apesar dos sinais de retomada da economia, o consumo doméstico cai há nove trimestres consecutivos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos três primeiros meses de 2017, houve recuo de 0,1% em relação ao período anterior. O impacto disso é visto no carrinho de compras da técnica em enfermagem Valéria Gomes, 50 anos. “Estou sempre experimentando marcas novas que têm preços menores”, disse ela, enquanto examinava as prateleiras de um supermercado do qual é cliente.

“O consumidor deve abrir a mente para arriscar em novos produtos. Temos uma grande variedade de marcas, é importante buscar opções mais baratas para não deixar de levar algo para casa”, aconselha o educador financeiro e idealizador do canal Eu Defino, Alexandre Arci. Nem sempre, porém, o custo cabe no orçamento. “Em casa, trocamos a carne bovina por frangos e peixes, e nem sempre temos muita variedade. Se não economizar aqui, no fim do mês a conta não fecha”, desabafou Valéria.

Além da quantidade, o preço se tornou o fator principal que o consumidor considera na hora de comprar. O economista sênior da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes, explicou que rever as despesas é uma atitude natural das pessoas em meio às dificuldades financeiras e à falta de emprego. “O brasileiro passou a contar os centavos, pois qualquer economia é bem-vinda”, destacou.

Cortar itens da lista de compras e ficar de olho no preço é a tática da gerente administrativa Edna Abanas, 39 anos, na hora de fazer o supermercado. “Só levo o básico e compro em diferentes estabelecimentos. Produtos de limpeza, por exemplo, busco no atacadão em grandes quantidades para obter preço mais baixo”, afirmou. Nos últimos meses, ela conseguiu cortar o orçamento de compras domésticas de R$ 700 para R$ 400. “Reduzi a quantidade de produtos e passei a procurar promoções. Como vou a vários lugares, sempre acompanho os preços, para saber se a diferença realmente vale a pena”, ressaltou.

Para o professor de finanças do Ibmec José Kobori, a crise tornou as pessoas mais criteriosas nas decisões de consumo. Arci, especialista em educação financeira, concorda e reforça que o brasileiro precisa prestar atenção ao modo como gasta dinheiro. “Deixamos pequenos valores de lado todo dia, no troco da padaria, na diferença entre um produto e outro. A médio e longo prazos, essas quantias podem se tornar algo grande”, apontou. “Qualquer centavo que seja deve ser poupado”, aconselhou.

De acordo com os especialistas, se há alguma boa herança da recessão que afundou o país, é a mudança no comportamento de consumo. “A crise ensina a rever o orçamento, a tentar calcular o valor do dinheiro. O brasileiro é um povo gastador e as dificuldades mostraram que os recursos não são infinitos”, apontou Bentes.  “O aprendizado que fica são a  disciplina e o hábito de poupar, que deve ser prolongado. Mesmo quando a recessão passar e o Brasil voltar a crescer, vamos consumir com mais consciência. Aquela pessoa que teve poder aquisitivo e perdeu demora mais tempo para voltar a consumir”, complementou Kobori.

Milésimos
Em Brasília, postos de gasolina disputam a preferência do cliente por centavos. Para o consumidor, a briga entre os empresários é aliada na hora de economizar. “Qualquer centavo é válido. Antes, era impossível encontrar um preço diferente, agora sempre que vejo, procuro abastecer”, disse  o bombeiro Gláuber Sizino, 32 anos. “A gasolina é o único preço expresso em três casas decimais. Depois do aperto, o cliente está olhando até para os milésimos de real, pois faz diferença para quem enche o tanque”, ressaltou Bentes.

Contudo, é necessário avaliar se a economia de fato vale a pena.  “Se for necessário um grande deslocamento para aproveitar uma promoção, compare o quanto pouparia e o quanto terá de gastar de combustível para chegar ao local. Às vezes, pode não compensar”, aconselhou Arci.

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