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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO Precisamos de vagas

Publicado em: 04/06/2017 08:00 Atualizado em:

Por Fernando Dias (*)


Fernando Dias é professor de economia da UFPE
Fernando Dias é professor de economia da UFPE
 Após 2 anos de uma dura recessão, a economia brasileira começa a apresentar sinais de recuperação, mesmo que pouco encorajadores. As estimativas otimistas de um 2017 morno e um 2018 de recuperação parecem cada vez mais distantes e, ao que tudo indica, muito bom já será se pelo menos estabilizarmos a atividade econômica no curto e médio prazo. Pesam para este cenário não muito otimista a combinação intrínseca da indefinição sobre o ajuste nas contas públicas e a crise política. Nem os mais sábios adivinhos da ficção têm chance em um cenário como o que vivemos hoje, e sem perspectiva clara de longo prazo não tem investimento que aguente.

Um cenário de recuperação lenta da economia após uma recessão prolongada é particularmente ruim para o emprego pois esta variável costuma ser o elemento que cede por último em crises. Motivo? O principal é a natureza dos contratos que além de serem de longo prazo, ainda trazem fortes custos de rescisão. Dito de outra maneira quando a economia vem se recuperando de uma crise, mas tem expectativa pouco clara do futuro, o melhor (menos custoso) é utilizar, no limite, os recursos disponíveis que contratar novos. Como resultado, a taxa de desemprego se mantém elevada mesmo quando o produto começa a crescer.

Este é um comportamento homogêneo? Na verdade, não. Ele depende da conjuntura da economia e da composição dos empregos. Observemos o caso das regiões Norte e Nordeste, como exemplo. Nestas regiões, mais que nenhuma outra, o setor público sempre interferiu de forma direta e indireta no mercado de trabalho e criou raízes profundas. Em ambas as regiões, o setor público é o grande empregador formal, empatando com o setor de serviços, pelos dados do Ministério do Trabalho. Como os funcionários públicos têm estabilidade, eles não são afetados pela queda na atividade econômica, o que cria um efeito de amortecimento na taxa de desocupação.

Por outro lado, a imensa participação do setor público também significa que estas economias têm menor flexibilidade de ajuste às oscilações de mercado e seu dinamismo é em boa parte dependente dos gastos públicos. Em termos do comportamento do emprego nestas regiões o resultado desta receita nunca foi bom e as estatísticas sempre mostraram que a taxa de desocupação nelas é sistematicamente maior que Sul e Sudeste.

Isto significa que mesmo com décadas de políticas públicas, que tiveram seu ápice com a atuação da SUDENE nos anos 1970, os números do século XXI sugerem que o Nordeste ainda depende muito de Brasília para andar, e isto é muito ruim. Observados os dados do Ministério do Trabalho para 2017, por exemplo, temos, via criação de vagas, que de janeiro a abril o Sudeste, o Centro-Oeste e Sul tiveram saldo positivo, mas o Brasil ainda teve saldo negativo basicamente pelo resultado muito ruim no Nordeste e ruim no Norte. Embora sejamos a região mais pobre, ou talvez por isso, a recuperação do emprego para nós vem por último.

É certo que a colcha de proteção que o peso do setor público traz para Norte e Nordeste é eficaz, os dados de desemprego da PNAD/IBGE mostram que quando o desemprego aumenta ele cresce mais devagar por aqui. O problema é que quando ele cai isto também acontece mais devagar por aqui, o que é somado ao fato que a própria taxa já é maior aqui. Assim você tem que na recuperação o desemprego é o último que se recupera, e dentre as regiões, o Nordeste é o último da fila. Olhando para o Nordeste hoje, do ponto de vista da economia, há pouca dúvida que manter um modelo de capitalismo de Estado funcionando à base de incentivos gera pouco resultado com pouco risco. Haverá espaço para tentarmos ter mais resultado, mesmo que ao custo de assumirmos mais riscos?

(*) Fernando Dias é professor de economia da UFPE



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