Observatório econômico Não estamos sozinhos

Publicado em: 29/05/2017 08:00 Atualizado em: 26/05/2017 18:15

Por Alexandre Jatobá (*)

Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Depois de mais de dois anos de notícias e expectativas negativas em relação à nossa economia, no início de maio a expectativa geral entre os analistas era que finalmente estavámos em um caminho firme rumo à recuperação econômica. A prévia do PIB brasileiro do primeiro trimestre apontava um crescimento de 1,1% em relação ao trimestre anterior. A inflação acumulada dos últimos 12 meses já estava abaixo do centro da meta (IPCA de 4,08%), e com ela, esperava-se novas reduções na taxa de juros. Comemorava-se também a geração de quase 60 mil novos empregos formais em abril. E para completar, as reformas trabalhista e previdenciária, apesar dos intensos debates, pareciam estar bem encaminhadas. Ou seja, havia aquela sensação do “agora vai”. Eis que vem o dia 17 maio e a delação dos empresários do JBS causa um terremoto político que recoloca o país e a economia novamente “no modo stand by”. Não que a delação tenha sido algo negativo, muito pelo contrário, é mais uma demonstração de que precisamos de uma “faxina completa” em nosso sistema político.


Porém, em matéria de instabilidade econômica e/ou política, ao menos não estamos tão sozinhos. Um dos nossos colegas sulamericanos, o Chile, que vinha de um longo período de crescimento, também tem seus problemas. Em 2016, o PIB cresceu “apenas” 1,5%, sendo o pior desempenho desde 2009.  E no primeiro trimestre de 2017, cresceu apenas 0,1%. O resultado deve-se ao baixo desempenho dos produtos minerais, especialmente o cobre, seu principal produto de exportação, cujo preço internacional vem caindo no período recente. A produção industrial e a agricultura também não têm perspectivas animadoras para 2017. Para 2017, o crescimento deve ser de “apenas” 1,7%. Lá, no cenário político, também há instabilidade devido as próximas as eleições presidenciais (mas nada comparado a nossa crise).

Outro vizinho, a Argentina, vive um cenário mais parecido com o nosso. Embora tenha encerrado 2016 com uma queda no PIB de 2,3%, a economia argentina está reagindo, desde o segundo semestre de 2016. Essa recuperação deve-se às reformas econômicas implementadas pelo governo. A inflação está caindo e há perspectiva de redução da taxa de desemprego, dos atuais 9,0% para 8,3% no final de 2017. O cenário político argentino também anda um pouco agitado por causa do aumento das tarifas dos serviços públicos e as duras negociações salariais com os sindicatos.

Por fim, um colega latino americano: o México. Lá, o “inimigo” mora ao lado: Donald Trump. Depois de crescer de 2,3% em 2016, com a tendência de uma política comercial americana bastante protecionista, as previsões de crescimento para 2017 vêm caindo desde o início do ano. Hoje o Banco Central de lá prevê crescimento de “apenas” 1,3%. A inflação também ameaça a economia, com a expectativa de fechar 2017 acima da meta (5,4% x 4,0%), enfraquecendo o consumo e o investimento do país.

Como se vê, há outros países com problemas, mas, no quesito incerteza, estamos em primeiro lugar.

(*) Economista e diretor da Datamétrica.

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