Reforma da previdência Mesmo com incerteza, analistas apostam na aprovação de propostas do governo A aprovação das propostas e os novos cortes na taxa básica de juros podem elevar valor de ações ao patamar de antes da crise iniciada em 2008

Por: Correio Braziliense

Publicado em: 08/05/2017 07:42 Atualizado em:

Apesar das incertezas que rondam a votação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados, analistas de mercado mantêm as apostas de que ela será aprovada pelo Congresso Nacional. E, por conta disso, as previsões indicam que o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&Bovespa) deverá, em breve, ultrapassar os 70 mil pontos e até mesmo superar o recorde de 73.516 pontos, alcançado em 20 de maio de 2008, antes do estouro da crise financeira global.

Na melhor das hipóteses, o índice ainda pode se aproximar de 80 mil pontos até o fim do ano. Esse cenário se baseia na manutenção pelo Banco Central do ciclo de queda da taxa básica de juros (Selic), atualmente em 11,25% ao ano, fazendo com que ela encerre dezembro entre 8,25% e 8,50% anuais. Caso a reforma da Previdência não passe, porém, ou seja completamente desfigurada — algo considerado menos provável, mas não impossível —, o Ibovespa poderá despencar para menos de 60 mil pontos.

Depois de o Ibovespa registrar alta de 38,8%, em 2016, embalado pelo afastamento da ex-presidente Dilma Rousseff, caiu 2,5%, em março. Ficou praticamente estável em abril devido à divulgação dos nomes de integrantes do primeiro escalão do governo com inquéritos abertos pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Mas o otimismo voltou após a aprovação da reforma Trabalhista pela Câmara no fim de abril. O Ibovespa deu sinais de retomada no início de maio e voltou a ficar acima dos 65 mil pontos na última sexta-feira, com alta de 1,31% sobre a véspera, mais do que o dobro da taxa de valorização em todo o mês anterior, de 0,60%. “Em abril, a bolsa andou de lado e, agora que o cenário para a aprovação da reforma está menos nebuloso, é possível que ela continue registrando ganhos”, afirma Alexandre Espírito Santo, economista da Órama.

No ano, a BM&FBovespa acumula elevação de 9,1%. E, considerando algumas projeções mais prováveis para o Ibovespa para 2017, de algo em torno de 75 mil pontos, isso resultaria em alta de  24,5% sobre os 60.227 pontos registrados no ano anterior.

Teste

Na avaliação de Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora, a bolsa será testada até 73 mil pontos neste ano, podendo ficar acima do recorde de 2008. No entanto, ele diz que o indicador não deverá se sustentar acima desse patamar. “Os riscos da Lava-Jato ainda pairam no ar e o mercado é muito volátil. No começo do ano, a bolsa testou os 70 mil, mas recuou ao chegar em 69,5 mil pontos, o que mostra que ainda há muitas incertezas no ar”, emenda.

“As incertezas políticas podem atrapalhar esse processo de alta da bolsa neste ano. Caso o governo não consiga aprovar a reforma da Previdência, o Ibovespa voltará a cair e poderá ficar abaixo de 60 mil pontos até dezembro”, avalia o economista Marco Saravalle, da XP Investimentos. O cenário pessimista da XP prevê queda de 8% no Ibovespa em 2017, para 57.000 pontos, mas é o quadro “menos provável”.

Segundo o analista, a maioria dos agentes de mercado está otimista, esperando a aprovação das reformas. Para ele, os juros menores, a inflação controlada e os ajustes em curso “podem contribuir para a volta do crescimento econômico mais forte em 2018”. Saravalle lembra que, pelo cenário base, o Ibovespa chegará a 73.500 pontos. Ele destaca que, na previsão mais otimista, o indicador poderá alcançar 79.500 pontos, patamar nunca antes visto, considerando surpresas positivas ao longo do ano além da reforma previdenciária, como uma maior velocidade nas privatizações e nas concessões.

Santo, da Órama, demonstra cautela sobre a capacidade do Ibovespa se manter acima do recorde ao longo do ano. “A bolsa pode estar voltando para um patamar próximo ao de 2008, mas o cenário macroeconômico daquela época era bem mais diferente e mais propício. O consumo da Classe C estava em alta, gerando bons resultados para diversos setores, e havia o boom das commodities. O desemprego ainda vai permanecer elevado por um período mais longo”, nota.

O especialista avisa que, se as altas de juros previstas pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) forem mais fortes neste ano, podem afastar o capital estrangeiro dos mercados emergentes, como o Brasil. “Metade dos investidores da bolsa hoje são estrangeiros. Se o Fed elevar os juros acima do esperado, as perspectivas de curto prazo mudam”, afirma Santo, que prevê que o Ibovespa fique ente 72 mil e 73 mil pontos até dezembro.

O processo de redução da Selic ganhou impulso com a desaceleração no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deverá encerrar o ano abaixo do centro da meta de 4,5% determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) — algo inédito desde 2009. “O mercado confia que o ajuste fiscal será feito, com a aprovação das reformas trabalhista e da Previdência, e é o que garante a contínua valorização do mercado de ações. A percepção é de que as delações da Lava-Jato não devem comprometer muito o índice”, afirma Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global Partners.


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