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Observatório econômico Nova temporada

Publicado em: 05/09/2016 08:00 Atualizado em: 02/09/2016 19:37

Por Alexandre Jatobá (*)

Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
A expectativa era que, após o impeachment, o clima político fosse arrefecido e as questões pendentes fossem encaminhadas e aprovadas no Congresso. Mas a surpreendente manobra realizada pelo Senado, nos deixou novamente esperando pelos novos episódios da “House of Cards” brasileira.


Ao longo de 2015, quando a crise econômica brasileira vinha sendo agravada, a grave situação política foi apontada como uma das grandes vilãs da crise e também obstáculo para o início da recuperação da economia. Os processos do então presidente da Câmara Eduardo Cunha e, na sequência, o processo de impeachment da presidente Dilma se transformaram em uma verdadeira novela em estilo “mexicano”. Comentava-se que os agentes econômicos, principalmente investidores e empresários, estavam apenas esperando o capítulo final desta novela para voltar “a se mexer”. Entretanto, após a divulgação dos resultados do PIB do segundo trimestre e, sobretudo, após a surpreendente, para não dizer “esquizofrênica” sessão do Senado, podemos dizer que não estávamos assistindo a uma novela, e na última quarta não assistimos ao seu capítulo final. Na verdade, estamos assistindo a uma verdadeira série estilo “americana” e temos agora, apenas, uma nova temporada.

Em relação ao PIB, registramos que o resultado do segundo trimestre foi pior do que o primeiro (saindo de -0,4% para -0,6%). Comparado ao segundo trimestre de 2015, o recuo foi de 3,8%. Em termos setoriais, o setor de serviços, que responde por mais de dois terços de nossa economia, continua caindo consideravelmente (-0,8%), assim como a agropecuária (-2,0%). O único alento foi a indústria, que voltou a crescer, mesmo que timidamente.

Pela ótica das despesas, vimos que o consumo das famílias continua em queda (em função do aumento do desemprego) e a queda no valor do dólar no segundo trimestre, em comparação com o primeiro, fez com que o comércio exterior (exportações menos importações), que vinha ajudando para frear a recessão, contribuísse para o resultado negativo. Uma notícia boa, porém, foi a retomada dos investimentos, mas, muito aquém do necessário para iniciar a recuperação (apenas 0,4%).

É praticamente consenso que economia brasileira só irá retomar o crescimento com um forte ajuste fiscal e com as reformas, principalmente, a previdenciária e a trabalhista. Mas estes só serão realizados com a aprovação do Congresso Nacional. A expectativa era que, após o impeachment, o clima político fosse arrefecido, e essas questões fossem encaminhadas e aprovadas no Congresso. Mas, a surpreendente manobra realizada pelo Senado para que a presidente fosse submetida a apenas uma das duas punições previstas para o crime julgado por eles (e cometido por ela), mostra que não é possível prever o que os nossos congressistas farão daqui por diante. Assim, não há como assegurar que as medidas, por mais necessárias e fundamentais, sejam aprovadas e assim “voltemos à vida normal”.

Ou seja, estamos justamente naquele clima entre o final de uma temporada e o início de uma nova, em que os telespectadores (investidores e demais agentes econômicos) até “se levantaram da poltrona”, mas já ficarão parados em “frente da tela” para acompanhar os episódios da nova temporada.

(*) Economista e diretor da Datamétrica.

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