Observatório econômico Universidade e inovação

Publicado em: 11/07/2016 08:00 Atualizado em: 08/07/2016 21:15

(*) Por Marcelo Eduardo Alves da Silva

Por Marcelo Eduardo Alves da Silva é Professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Por Marcelo Eduardo Alves da Silva é Professor de Economia da UFPE. Foto: Paulo Paiva/DP
Universidades e escolas deveriam ser o ambiente propício para a pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos, mas a falta de recursos, o excesso de ideologia e burocracia, sem falar no baixo nível de incentivos fazem de nosso sistema educacional um ambiente pouco favorável à inovação.


A inovação, a capacidade de gerar novos produtos e processos, é um dos elementos chaves para explicar o desempenho econômico dos países. Embora seja uma verdade universal, o desafio é como dar vida a isto. O problema é que a capacidade de gerar novas ideias depende de uma série de condições, tais como: a garantia de que os inovadores serão capazes de obter lucros da inovação, o respeito aos direitos de propriedade,  a existência de intercâmbio entre pesquisadores e, essencialmente, diz respeito à qualidade do sistema educacional. Nos últimos anos, ampliamos as matrículas em todos os níveis de ensino, mas ainda nos resta o enorme desafio de melhorar a qualidade de nossa educação.

E isto depende não apenas de melhorar a infraestrutura disponível, mas também em melhorar o ambiente de ensino e a qualidade dos professores. Atrair e manter os melhores é um desafio importante, poucos são os jovens talentosos que decidem seguir a carreira de professor no país. E as razões são simples: salários baixos, baixa reputação, ausência de incentivos e ambiente de trabalho deteriorado. Neste ponto, podemos aprender com exemplos domésticos e internacionais. A Finlândia implementou uma política radical de atração dos melhores profissionais para as salas de aula, investiu pesado na formação, e deu liberdade na gestão das escolas e incentivos para pesquisa, mesmo em escolas do ensino básico. Resultado? Excelente desempenho em comparações internacionais e o país no topo do ranking de inovação.

Vale ressaltar ainda que a inovação tem pouco espaço nas escolas, nossos alunos têm pouco acesso a aulas práticas e, em geral, a prática do ensino se resume a transmitir conteúdos, sem uma preocupação consistente em resolver problemas, que é o elemento motivador do processo de inovação. Sem falar no tempo desperdiçado com atividades outras, que não o ensino. Nas universidades públicas faltam recursos e sobra burocracia. Sem recursos para construir, equipar e manter laboratórios, para comprar softwares e hardwares, para intercâmbios profissionais, etc. não dá para fazer ciência de qualidade, tampouco para inovar. Enquanto que universidades mundo afora buscam parcerias com o setor privado para resolver problemas e, com isto, obter recursos, a burocracia e a ideologia da época da “Guerra Fria”, que dominam nossas universidades, veem isto como uma heresia.

Nossas escolas e universidades precisam de uma transformação, particularmente em suas respectivas estruturas de incentivos se quisermos seriamente colocar o Brasil no mapa da inovação global. Não precisamos “inventar a roda”, podemos aprender com as boas práticas e implementar estratégias que criem um ambiente propício para a inovação. E isto não significa necessariamente colocar mais recursos públicos, mas, essencialmente, significa uma guerra à burocracia e à “ideologia de museu”, que dominam nossas escolas e universidades.

(*) Professor de Economia da UFPE.

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