OBSERVATÓRIO ECONÔMICO Retomada? Quando?

Publicado em: 04/07/2016 08:00 Atualizado em: 03/07/2016 23:54

Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Alexandre Jatobá é economista e diretor da Datamétrica. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Por Alexandre Jatobá (*)

Que estamos imersos na maior crise econômica da história recente do nosso país, já sabemos. Que esta crise tem como uma de suas raízes o descontrole fiscal também já se sabe. Que nossa crise tem sido mais forte e duradoura em função da instabilidade política também não é novidade. O que nos conforta, porém, é que a economia vive em ciclos, cujas fases são: o declínio, a depressão, a recuperação e o boom. É fácil perceber que estamos na fase da depressão. Mas o que todos queremos saber é quando voltaremos a crescer ou quando passaremos à fase da recuperação?

Os resultados divulgados pelo IBGE nesta semana acerca da produção industrial mostram boas e más notícias quanto ao início da retomada do crescimento.
 
Comecemos pelas más: depois de ter experimentado dois meses de uma leve recuperação, com março e abril crescendo 1,4% e 0,2%, respectivamente, em relação aos meses anteriores, a produção industrial de maio estacionou e não houve crescimento em relação ao mês de abril. Observando ainda os resultados para os últimos 12 meses, a situação é um pouco mais preocupante. A produção de maio foi 7,8% menor do que a produção deste mesmo mês do ano anterior. Em abril, comparando-se a abril de 2015, a queda havia sido de 6,9%. Também chama a atenção o fato de mais de 2/3 dos 805 produtos industriais pesquisados terem apresentado queda em comparação ao ano anterior, com destaques para petróleo e derivados (-13,4%) e de veículos automotores (-15,8%), dois dos pilares de nossa indústria.

Mas nem todos os resultados foram ruins. A produção de bens de consumo duráveis experimentou o primeiro mês de crescimento do ano (5,6%) e a de bens de capital cresceu 1,5%, este último com um crescimento acumulado de 9,0% em 2016. Tratam-se de dois resultados relevantes. Em relação ao primeiro resultado, o fato da produção de bens de consumo duráveis ter voltado a crescer pode significar que os empresários estão esperando uma retomada no consumo das famílias. O segundo resultado é ainda mais relevante sendo bens de capital ou bens de produção os equipamentos e instalações necessários para a produção de outros bens ou serviços. Como este crescimento vem sendo consistente desde o início do ano, deduzimos que as empresas estão se preparando para aumentar a capacidade de produção de suas unidades, isto é, estão retomando o investimento.

Apesar dessas boas notícias, não podemos considerar que a fase de recuperação já está “batendo a nossa porta”. Os empresários podem até estarem um pouco mais animados, mas certamente só levarão adiante os investimentos quando o governo conseguir implementar o ajuste fiscal, iniciar e dar sinais claros que promoverá as reformas necessárias (a previdenciária, a trabalhista e a tributária) e que a crise política dê sinais de arrefecimento, pelo menos, deixando mais claro para o mercado quem estará à frente da condução política econômica. A equipe atual vem agradando ao mercado.

(*) Economista e diretor da Datamétrica 



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